Basta uma castanha-do-pará por dia para proteger seu cérebro
Uma única unidade da oleaginosa é capaz
de resguardar os neurônios, garantir o bom funcionamento da tireoide,
evitar o envelhecimento precoce e blindar o coração.
O fruto da castanheira e a necessidade diária de selênio:
- 1 castanha tem de 200 a 400 mcg* do mineral
- Crianças de até 13 anos precisam de 40 mcg* ao dia
- Para os adultos, o valor é de 55 mcg* ao dia
* mcg = microgramas
Quando
o consumo de um alimento é associado a um ganho para a saúde, como
derrubar a pressão arterial, afugentar o diabete ou driblar o câncer,
logo vem o recado: você deve ingeri-lo todos os dias e, de preferência,
em doses bem caprichadas. Com a castanha-do-pará, também conhecida como
castanha-do-brasil, a história é um pouco diferente. Basta uma unidade
por dia, só uma mesmo, para proteger o cérebro contra males
neurodegenerativos - caso da doença de Alzheimer, como sugere um estudo
da nutricionista Bárbara Rita Cardoso, do Laboratório de
Nutrição-Minerais da Universidade de São Paulo.
No trabalho,
ela comparou o estado nutricional de voluntários saudáveis ao de
portadores do problema. O resultado mostrou que o grupo com
comprometimento cognitivo apresentava uma deficiência muito maior de
selênio, mineral encontrado em abundância na pequena noz - para ter
ideia, uma unidade concentra de 200 a 400 microgramas do nutriente. (Conheça 10 alimentos ricos em selênio.)
"Hoje, a recomendação de consumo para um adulto é de 55 microgramas
diários", lembra Silvia Cozzolino, vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Alimentação e Nutrição. Ou seja, sozinha, a castanha já
supre a quantidade de selênio de que seu organismo precisa. E acredite:
ele realmente depende do mineral para funcionar a todo vapor.
"O selênio é fundamental para a formação de uma enzima que tem ação
antioxidante, a glutationa peroxidase", explica Bárbara. Não se assuste
com o palavrão. O importante é saber que tal enzima é uma das mais
potentes na hora de dar um chega pra lá nos radicais livres, aquelas
moléculas que danificam as células e causam todo tipo de enrascada -
inclusive a morte de neurônios, o que fomenta o desenvolvimento da
doença de Alzheimer.
As evidências apontam, portanto, que o
consumo de selênio reduz a produção desenfreada desses inimigos. Agora, o
próximo passo da investigação será analisar se incrementar a dieta com o
mineral também seria capaz de barrar os danos na massa cinzenta de quem
ainda não tem Alzheimer mas já é refém de falhas cognitivas leves.
"Para isso, estamos oferecendo uma castanha ao dia aos voluntários. No
ano que vem, teremos os primeiros resultados da intervenção", garante
Bárbara.
Para o bem da tireoide
Deixar os neurônios sãos e salvos dos radicais livres e, assim,
prevenir males neurodegenerativos está longe de ser o único benefício
associado ao selênio da castanha. Já se sabe que ele também é
fundamental para regular o trabalho da tireoide, onde são produzidos os
hormônios T3 e T4, dupla que rege o funcionamento do corpo inteiro. Quem
viu isso na prática foi a nutricionista Carla Soraya Costa Maia,
professora da Universidade Estadual do Ceará. Durante seu estudo de
doutorado, ela avaliou pacientes com problemas na tireoide - tanto hipo
como hipertireoidismo - e pessoas sem nenhuma disfunção nessa glândula.
Uma parte era de São Paulo, onde o solo é pobre no mineral, e a outra do
Ceará, estado em que a terra esbanja selênio. Isso fez diferença.
Ao final do levantamento, a pesquisadora Carla Soraya notou que o time
da capital paulista tinha menores níveis do composto na circulação.
"Além disso, foi constatado que, entre pacientes com hipo ou
hipertireoidismo, aqueles que moravam em São Paulo apresentavam maiores
indícios de radicais livres e inflamação na glândula", informa a
cientista. Os dados, afirma ela, ainda são preliminares, mas reforçam a
importância da castanha-do-brasil e outras fontes de selênio para a
glândula.
Por falar em radicais livres, sabia que o estresse
oxidativo, como é chamado o desequilíbrio entre a formação e a remoção
dessas moléculas, é bem maior em indivíduos que praticam atividades
físicas moderadas ou intensas? Para evitar o envelhecimento precoce e
garantir um excelente desempenho, o jeito é deixar o sistema de defesa
tinindo. Uma das enzimas mais cruciais nessa empreitada é justamente a
glutationa peroxadase, aquela que depende do selênio para agir. "Por
isso, recomenda-se aos esportistas que a ingestão diária fique em torno
de 200 microgramas", avisa Vanessa Fernandes Coutinho, diretora da
empresa VFC Cursos e coordenadora das pós-graduações em nutrição clínica
e pediátrica da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Ora, nada
que uma castanha não ofereça...
Alguns trabalhos científicos
ainda sugerem mais uma grande vantagem de se render ao pequeno fruto da
castanheira: o selênio diminuiria a agregação de placas nos vasos
sanguíneos e a glutationa barraria a oxidação do colesterol LDL, inimigo
do peito. "Ou seja, tudo indica que existe uma relação inversa entre os
níveis de selênio no sangue e a incidência de doenças cardiovasculares.
Mas ainda há poucos trabalhos sobre o real papel do mineral na
prevenção desses males", pondera Eliana Vellozo, pesquisadora em
deficiência de micronutrientes da Universidade Federal de São Paulo.
Nada de exageros
Diante de tantas promessas, imaginamos que sua vontade não é comer uma
unidade, e sim um saco cheio de castanhas. Mas não leve a ideia adiante.
Em doses excessivas - estamos falando de mais de 800 microgramas -, o
selênio causa prejuízos. Os mais comuns são unhas fracas e quebradiças,
alterações na pele e queda de cabelo. Só que a coisa pode ficar mais
feia. "Em um estudo americano, ofereceram o mineral a pessoas que não
precisavam da suplementação. No meio do caminho, observaram um aumento
no risco de diabete", conta Silvia Cozzolino. Fica o recado: uma
castanha por dia é mais do que suficiente.
O mapa das castanhas
O
selênio fica retido no solo. Assim, a concentração do composto em um
mesmo alimento varia de acordo com a área onde ele é cultivado. No caso
da castanha-do-brasil, dois fatores contribuem para o teor altíssimo do
mineral. "Além de a terra da Região Norte ser rica em selênio, a
castanheira tem uma capacidade incrível de absorvê-lo", conta Otniel
Freitas Silva, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa).
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