Quando ela deixa de ser uma escolha, é a
saúde que sai prejudicada. Um estudo americano revela os efeitos do
isolamento nos genes e comprova seus riscos ao corpo.
Quem
pensa que a falta de vínculos sociais e afetivos é um drama com
repercussões restritas às emoções se engana. A ciência alerta, agora,
que a solidão pode até mesmo nos provocar doenças — e não apenas
psíquicas. Uma leva de pesquisas recentes mostra que os avessos à
família e aos amigos têm tanta tendência a ficar enfermos quanto os
fumantes ou sedentários convictos. Há indícios também de que os
solitários estariam na linha de frente dos problemas de fundo
inflamatório, caso de artrites e doenças cardiovasculares.
Segundo
um estudo recém-concluído na Universidade da Califórnia, nos Estados
Unidos, pessoas que se queixam de uma vida reclusa possuem genes menos
ativos na proteção contra vírus. "Os sociáveis estão naturalmente mais
propensos a contrair viroses porque estão em maior contato com outros
indivíduos", raciocina o psicólogo Steve Cole, que liderou o trabalho.
Já a turma que vive afastada do mundo, menos exposta a esse tipo de
micróbio, acaba apresentando um sistema imune que não tem tanta
necessidade de enfrentá-lo. Em tudo na vida, porém, há uma compensação.
Nessa gente, as defesas passam a se concentrar nas bactérias, o que gera
uma reação inflamatória recorrente — e nem sempre bem-vinda, já que
inflamação demais abre alas a descompassos em diversas áreas do corpo.
É
claro que nem todo solitário está fadado a cair de cama. O perigo surge
quando a sensação de isolamento é constante e isso, inclusive,
independe de ter ou não uma companhia. "A partir do momento em que a
solidão começa a interferir no comportamento e no estilo de vida, ela se
torna patológica", afirma a psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora
do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da
Universidade Federal de São Paulo.
A questão é que o bem-estar
físico e mental está interligado. O desarranjo de um lado não raro
desestabiliza o outro. Os indivíduos reclusos apresentam maior tendência
à depressão, algo que repercute nos hormônios e nas defesas. "Essa
condição está associada a quedas imunológicas, pressão alta, perda de
sono e alcoolismo. Por isso, é um fator de risco comparável ao cigarro e
à obesidade", acusa o psicólogo John Cacioppo, especialista em
neurociência social da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
Mas,
calma, tantas evidências não significam que quem prefere viver mais só
tenha que sair às ruas caçando companhia. Os estudiosos advogam que nem
toda solidão é prejudicial. Não há problema algum se ela é fruto de uma
escolha consciente, ou seja, quando nos afastamos do grupo para
descansar, ler, refletir... situações que são até prestativas,
especialmente antes de tomar uma decisão. O perigo, vale frisar, é
perder o controle e deixar-se levar pela clausura absoluta, evitando
inclusive os entes próximos. De qualquer forma, mais importante do que a
quantidade é a qualidade dos relacionamentos que construímos ao longo
da vida. E, se você estiver satisfeito com eles, pode se dar ao luxo de
conceder um espaço na agenda para si mesmo — e só para si mesmo.
Vida longa e acompanhada
Manter
uma rede de relaciona mentos ajuda a espantar doenças que aparecem com o
avançar da idade, como o Alzheimer. É que o contato social garante uma
cabeça mais ativa. "Com o tempo, muita gente tem menos necessidade de
usar o cérebro e as ligações entre os neurônios enfraquecem. Os vínculos
afetivos auxiliam a conservar essas conexões", diz o psiquiatra Paulo
Inecco, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Para domar a solidão
- Cuide dos seus pensamentos: se você se sente bem permanecendo um tempo sozinho, não foque em problemas, mas em assuntos positivos.
- Gerencie seu tempo: apesar da correria, é importante manter um momento para os amigos e a família e para cuidar de si mesmo.
- Abra o leque de relacionamentos: permita-se conhecer novas pessoas e controle a ansiedade para evitar possíveis decepções.
http://saude.abril.com.br/
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