domingo, 25 de maio de 2014

MÃE - HOMENAGEM DE VILLYN

Mãe.

Existem coisas em minha vida que eu trocaria com facilidade. Algumas pessoas e eventos eu deixaria de lado. Mas existe algo que eu poderia ter mais cem vidas e não abriria mão, que é ser filho do Waldemar e da Vanina. Não escrevo porque deixei de dizer algo, escrevo por uma necessidade existencial, escrevo pra ver se essa sede passa, escrevo para registrar, documentar para quem quiser saber o tamanho do meu amor.

Se escrevo para todos, apesar da impossibilidade do diálogo, também escrevo pra você mãe, não para que você saiba de algo, mas para que os outros saibam algo sobre a pessoa mais incrível que conheci. Nossas conversas não serão mais possíveis, mas as conversas que tivemos viverão para sempre, conversas que talharam em meu coração valores que me conduzirão pelas estradas que tenho pela frente.

Seus olhos não brilham mais, mas o brilho dos seus olhos iluminarão meu coração nos dilemas que a vida ainda me apresentará. Bem disse o Paulinho, seu irmão: “Bem-aventurado quem viveu com você”. É verdade, feliz de quem passou tardes sentadas naquela varanda ao seu lado.

Lembro quando nosso Wal, já no fim da vida, andava meio esquecido das coisas, me chamava e quando eu chegava perto ele não dizia nada, apenas apontava pra você. Tempos depois desvendei o mistério, ele queria me dizer que você foi maior de todas, ele queria expressar como foi bom viver ao seu lado por 30 anos. Mas ele não conseguiu. Não tem jeito mãe, qualquer tentativa é incompleta, com ou sem Mal de Alzheimer.

Como descrever você? Parece que o teclado do computador está incompleto. Não, não é isso. Pessoas incríveis não cabem em letras. É preciso conhecer para entender. Eu conheci, que bom.

Nossos anos nesse outro caminhar estão eternizados. Aqueles primeiros dias de consultas e opiniões a respeito da doença que devorou meu pai, me colocaram diante de uma mulher recheada dos valores do Reino. Valores que dão coragem para enfrentar o que não queremos. Uma coisa é pregar, outra é viver. Jamais esquecerei seu carinho, sua paciência e o brilho em seus olhos. Você personificou a palavra “aliança”. Uma coisa é prometer amar na doença, outra é viver.

Uma vida que valeu a pena? Não há como não pensar em você. O salmista em sua sede pediu a Deus sabedoria para contar os dias, creio que você orou com ele, e não tenho duvida de que Deus atendeu ao seu pedido. Vou chorar sua partida por muito tempo, me reservo ao direito de não aceitar chavões vazios para me consolar, farei de tudo para sentir sua vida pulsando.

O Rubem Alves diz que saudade é nosso coração desejando voltar para um momento de felicidade. É isso mesmo, vou sempre voltar, para sempre lembrar. Saudade é o nome que se dá quando a ausência vence. Saudade só acontece quando valeu a pena. Dá pra imaginar o tamanho da saudade que sentirei?

O Marcel e eu jamais esqueceremos os livros que você leu e nos deu o resumo para fazermos a prova! Sim, vou parar no Graal da Fernão Dias para comer pizza. Vou fingir que você está comigo, pois só por você eu como aquela pizza. Vou comprar quilos e quilos de morango e açucar para fazer sua geléia, o problema é que você nunca escreveu a receita, sempre foi uma “pitada disso”, “um tanto daquilo”. Vou ligar o fogo e deixar queimar só para sentir o cheiro da minha infância e para que o Rafa, o Felipe e a Gabi, seu netos, saibam que sua vida foi um perfume.

Escrevo essas poucas linhas sentado ao seu lado, provavelmente nossa última noite juntos. Já chorei muito, as enfermeiras já devem estar pensando em me internar também… Porque fiquei aqui? Foi meu coração que mandou, e você me ensinou que Deus mora nele, resolvi segui-lo.

Fiquei aqui para dar os últimos passos com a pessoa que me ensinou a andar.
Fiquei para te ajudar a encerrar sua vida. É pouco mãe, eu sei, mas de alguma maneira estou tentando agradecer por todos os inícios que você se dispôs a trilhar comigo.

Sua vida foi uma poesia, uma obra de arte, por isso nesse momento desisto de tentar falar de você: Obras de arte foram feitas para serem admiradas, e não explicadas. Fiquei ao seu lado essa noite, dormi por 10 minutos, você aproveitou esse intervalo e correu para os braços do Pai. Protegendo a cria até na hora da morte!

Continuarei minha vida com Fé e Esperança. Fé para viver com a coragem que você viveu. Esperança de que um dia poderemos nos encontrar em uma grande Celebração, nesse dia vou dançar com você e vou obrigá-la a escrever a receita da geléia…

Darei para esse dia o nome de Céu, o lugar que me trará de volta as coisas que eu amo e que o tempo levou. Concordo com meu pai, você foi a maior. Minha linda, sua vida viverá em mim e nos filhos dos meus filhos. Que bom foi sua vida em minha vida. Você não morrerá jamais. Amo você, pra sempre.”
Desejamos que a beleza dos sentimentos expressos neste texto sejam reais e presentes entre filhas (os) e mães. 
(Villy Fomin – texto escrito em homenagem à sua mãe Vanina Camargo Fomin, que faleceu na madrugada de 25 de Abril de 2012.)

Um comentário:

  1. Saudade de vocês Tio Valdemar e Tia Vanina, como foi bom poder conviver com vocês. Só me resta dizer que a Saudade é querer voltar atrás para rever as pessoas que amamos.

    ResponderExcluir