sexta-feira, 28 de junho de 2013

O HOMEM QUE TINHA ALZHEIMER

"As lembranças me fazem viver.
Lembrar a infância é lembrar aventuras.
As brincadeiras, os amiguinhos, as danações, os carões de pais e avós.
Lembrar do colégio, dos professores, dos colegas, das aulas enfadonhas e dos primeiros conhecimentos. Alguns ficaram para sempre. Outros desapareceram com o passar do tempo. Quanto se passou entre aqueles tempos e os momentos atuais? Não sei. Pedi um pouco a noção de tempo.
São apenas recordações. É tudo que me resta.
Às vezes me pergunto: qual minha idade verdadeira?
Quando estou deitado e quase sempre estou deitado, passa na minha mente histórias e estórias. Nunca sei bem se estou dormindo e sonhando ou mesmo acordado e apenas pensando. Que coisa intrigante.
Não gosto mais de ler. Nem livros e nem revistas. Lembro que gostava muito de ler jornais. Mas, agora quando tento ler, não compreendo quase nada. Falam de pessoas que nunca conheci e de cidades que nem sabia que existiam. Ver televisão para mim é uma tortura. Sempre alguém liga pela manhã e outro alguém desliga no início da noite. Dizem que é bom para exercitar meu cérebro. Que nada. Só me traz desconforto em ver pessoas bonitas, que fingem que não me conhecem e nem falam comigo.
Meus sonhos/pensamentos sempre me levam para um mundo que me era muito mais prazeroso. Gostava muito de viajar para lugares distantes. Hoje, nos meus sonhos, não sei se viajo para longe ou é o longe que viaja para perto de mim.
Lembranças de cores, perfumes, imagens, músicas e principalmente mulheres. Tive muitas, mas poucas me tiveram. Às vezes lembro das mulheres belas e outras nem tanto. Algumas dessas estão associadas às músicas de minha preferência. Não sei bem se lembro das músicas que lembram as mulheres ou ao contrário. Não importa. Aliás, pouca coisa hoje me importa.
Quase todos os dias várias pessoas entram no meu quarto e me perguntam: Como está? Está melhor? Tem tomado os remédios?
Não sei quem são essas pessoas. Falam em filhos e netos. Se referem a papai e vovô. Mas quem são? Não fazem parte das minhas recordações e sonhos. De onde apareceram na minha vida? Por que às vezes me beijam e me abraçam? Se eu nem as conheço…
Prefiro quando elas vão embora e eu volto aos meus pensamentos. São mais reais e me dão mais prazer.
Nos últimos dias uma pergunta não sai de meus pensamentos.
Quem sou eu?." (Aníbal Barbalho).

A FELICIDADE - EMÍLIO SANTIAGO

A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois, de leve, oscila
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira 
Tristeza não tem fim
Felicidade, sim 
A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor 
Tristeza não tem fim
Felicidade, sim
A felicidade é uma coisa boa
E tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
E ninho de passarinhos
Tudo de bom, ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato sempre dela muito bem

quinta-feira, 27 de junho de 2013

NÓS E O TEMPO


O tempo é infinito
E somos um recorte do tempo
São ciclos que se fecham para darmos passos acima
Sabemos o que somos e o que queremos dentro desse infinito
Estágios de uma continuidade que tem uma sutileza
Que só percebemos quando periodizamos.
Necessitamos de ritmo.
Distribuímos anos.
Periodizamos a vida.
O dia é um rito.
Nossas leis são reguladas.
Dimensionamos o tempo.
Somos regidos pelos eventos.
Orientamos as horas, acertamos os minutos.
Controlamos os prazos, só não regulamos acontecimentos.
Estamos sempre em compassos, agendando sonhos.
Tempo vivido
Tempo coletivo
Tempo particular
Passado, presente e futuro.
Não existem na linha da vida.
O agora parece não acabar.
Não damos conta que ele já foi algo que acabou.
Estamos sempre medindo o tempo.
O tempo é fluído.
O tempo é um curso.
Nós somos o tempo.

(Elisandra Villela Gasparetto Sé)

VIDEO GAMES E IDOSOS

quarta-feira, 26 de junho de 2013

APRENDA ACEITAR NA VIDA

 

Ao abordar o presente tema, falo de ACEITAR no sentido de suportar, tolerar; e, não, no sentido de concordar. Por exemplo, você pode divergir nos assuntos e na maneira de pensar de um colega ou de um parente, não concordando com as suas opiniões a respeito, digamos, de política ou religião. Em verdade, as pessoas podem discordar sobre muitos outros assuntos, como diminuição ou não da idade penal, corrupção, saúde, emprego, transporte coletivo, etc.,etc. 

Todavia, diante de casos assim, é preciso que tenhamos amadurecimento espiritual e emocional para respeitarmos as opiniões alheias e nos elevarmos acima de nossas divergências, não fazendo disso motivo para que não possamos conviver em harmonia, paz e compreensão.

Assim, também, seria muito mais fácil, então, aceitar as dores e os sofrimentos que a vida nos impõe. Sei que não é coisa fácil, mas é preciso aceitar! Na vida, nem tudo é somente alegrias. Há, também, instantes de dor e de muitas turbulências que perturbam o nosso coração; daí que o Mestre da vida, percebendo tudo isso, já nos advertia, dizendo: “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim” (Jo 13:14-1).

Afinal, um coração perturbado nos faz perder o sossego, a tranquilidade e a confiança. E, isso é ruim porque ninguém pode viver desnorteado, desorientado e sem sossego, sendo certo que por mais intensa que seja a dor, é preciso dar sentido à vida, procurando reconstruí-la e encontrando a paz e a felicidade.

Das coisas ruins que acontecessem em nossa vida, que vai da doença à morte, passando pela perda de emprego e da briga e separação de casais, dentre muitos outros casos; achamos que essa é a maior dor e sofrimento. Ledo engano. Mundo afora, e, muitas vezes, até mesmo bem perto de você há alguém que também esteja sofrendo; e o sofrimento e a dor não escolhem cor, sexo, riqueza ou pobreza.

Há inúmeras pessoas doentes vivendo em estado terminal ou estado vegetativo persistente, seja na UTI de um hospital ou em sua própria casa, cuja vida é prolongada à custa de aparelhos, onde o paciente não fala, não ouve, não se alimenta de forma corriqueira e vive entubado, com sondas e tubos de oxigênio.

Por outro lado, há aqueles outros que, embora vivos, parecem que estão mortos. São os portadores de Alzheimer em estado avançado, os quais acabam perdendo a memória, sendo que alguns deles chegam ao ponto de não reconhecer os próprios filhos, ficando cada vez mais dependente da ajuda dos outros até mesmo para rotinas básicas, como a higiene e a alimentação. 

Diante de casos assim cheios de dor e sofrimento não é hora de saber o por quê de tudo isso. Basta somente aceitar, recebendo com humildade tudo o que vier. Afinal, há tempo para tudo. E, “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu : há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou ; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar ;tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria ;tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras ; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar ;tempo de buscar e tempo de perder ; tempo de guardar e tempo de deitar fora ; tempo de estar calado e tempo de falar ; tempo de amar e tempo de aborrecer ; tempo de guerra e tempo de paz” (Eclesiastes,3:1-8).

E em meio às mais sublimes aflições nunca devemos nos desesperar. E se a vida tem mesmo suas inevitáveis tempestades, aprenda a aceitar na vida, pois, as tribulações e os males que nos advém quase sempre trazem ínsitas lições que precisamos aprender.

Por mais triste e doloroso, sê sempre forte. Antigo provérbio já dizia que o vento não quebra uma árvore que se dobra. E, então, nunca diga a Deus que você agora tem uma grande dor. Diga à sua dor que você tem um grande Deus e que Ele vai lhe dar forças para vencer e superar esse momento de profunda tristeza.


Na vida é sempre assim: nada é perfeito, e para colher rosas é preciso aceitar os espinhos. (Eldes Ivan de Souza).
http://www.jornaloeste.com.br/

Irene Ravache fala sobre o Mal de Alzheimer



Irene Ravache fala sobre sua mãe que teve Alzheimer e o sofrimento que a doença traz para toda a família. Os sintomas que não são percebidos, a dificuldade do convívio, a fase de negação, o desprendimento, o longo aprendizado., o desgaste físico e psicológico do cuidador.     

sábado, 22 de junho de 2013

UM AMOR PURO - DJAVAN

O que há dentro do meu coração
Eu tenho guardado pra te dar
E todas as horas que o tempo
Tem pra me conceder
São tuas até morrer

E a tua história, eu não sei
Mas me diga só o que for bom
Um amor tão puro que ainda nem sabe
A força que tem
é teu e de mais ninguém

Te adoro em tudo, tudo, tudo
Quero mais que tudo, tudo, tudo
Te amar sem limites
Viver uma grande história

Aqui ou noutro lugar
Que pode ser feio ou bonito
Se nós estivermos juntos
Haverá um céu azul

Um amor puro
Não sabe a força que tem
Meu amor eu juro

Ser teu e de mais ninguém

AMOR E DOR


À medida que o dia e à noite. Como o sol e a lua. Como positivos e negativos de todas as coisas que fizeram a vida, o amor e a dor nos acompanham ao longo do caminho dos cuidados na mesma medida. E entre eles, que eterna questão que divide, como o nascer e o pôr do sol: por quê?

Por que aprender o que é o verdadeiro amor, dedicação e sacrifício, pode e deve passar por uma experiência tão brutal? Por que eles têm e nós temos que sofrer tanta dor indescritível e experimentar, tanto sofrimento, tanta injustiça? Que sentido faz que-suas-vidas e nosso pessoal e emocional, elas são e ser submetido a tantas emoções intensas?

Entre o amor  ea dor nos movemos pacientes e cuidadores. Entre a luz e a sombra. Entre quem éramos e o que nos tornamos. Entre as lembranças e esquecimentos. Entre o oxigênio e asfixia. Entre si e têm-nos sentir tão perdido, tão só, tão abandonado, por vezes, para nossas famílias, nossos amigos e da sociedade desumanizada da qual somos parte e que tão insensivelmente acostumados.

O amor incondicional que sentimos por eles nos empurra para permanecer fiel ao seu lado, acompanhando, orientando, servindo como eles fizeram com a gente ao longo de nossas vidas, quando eles pareciam indestrutíveis. A dor que gosto de vê-los quebrar no final deles nos ensina a valorizar o que é realmente importante e rejeitar o supérfluo. Entre esses dois sentimentos que deslizou como água que atravessa o rio de sua existência terrena. 

Esse é o mundo do mal de Alzheimer. Esse é o mundo de cuidar de alguém que sofre no corpo, mente e alma, vida e morte. Da saúde e na doença. Força e fraqueza. Fortaleza e fragmentação. Aceitação e resignação. Luta e perdas.  Início e no final. Amor e dor. Mas acima de tudo, a satisfação e o orgulho em não abandoná-los à própria sorte, como muitos outros fazem do egoísmo mais repulsiva e rejeição da idade, os enfermos, os decadente. Então eu vejo isso. Sinto muito. E esta é apenas a minha opinião pessoal.

CARTA DE PAULO DE TARSO - REFLEXÃO

MEU IDOSO E EU

“Ser o familiar e também o cuidador  do idoso é uma tarefa que exige dedicação em tempo integral, geralmente esta tarefa acaba sendo transferida para um dos filhos.  É incrível como isto acontece, não sei se somos nós que atraímos esta tarefa ou ela nos é delegada pelos demais familiares por “ser o mais prático”, ou seja: você é mulher, portanto a tarefa é sua.

Segundo pesquisa recente, as filhas são as principais responsáveis em prover o cuidado ao idoso enquanto os filhos são responsáveis por fornecer ajuda financeira aos seus pais.

Os membros da família apresentam sentimentos variados e contraditórios em relação ao doente, como por exemplo, tristeza/pena de ver seu idoso debilitado, impaciência por ter que oferecer cuidados, abdicar de ideais e ambições para poder dedicar-se ao idoso. Dificuldades financeiras devido ao abandono das suas atividades para dedicação exclusiva ao idoso.

Recentemente assisti na TV uma psicóloga dizer que no início o cuidador/familiar  dedica-se de corpo e alma, tem prazer na tarefa de cuidar do seu ente querido, mas com o passar dos anos esta pessoa “o cuidador/familiar” passa a apresentar comprometimento na saúde física e mental, motivado muitas vezes pelo sentimento de abandono e isolamento pela não participação dos demais familiares, a falta de tempo para o seu lazer, o estresse pelo desgaste físico e emocional que o “cuidar” de outro lhe impõe.

É assim que me encontro hoje, cansada, absolutamente cansada, por isso que estou iniciando este Site com a intenção de trocar experiências, encontrar pessoas que como eu estão passando por esta fase difícil.  Nós que somos o “familiar/cuidador”, não podemos de forma alguma desistir e se entregar, afinal de contas nosso idoso merece receber sempre o melhor de nós”.
http://meuidosoeeu.com.br

O AMOR QUE PERMANECE, APESAR DO ALZHEIMER


Sobre o amor, dizia Fernando Pessoa: Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? Ou pelas palavras de Antoine de Saint-Exupéry: O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.

O amor parece mesmo uma fonte inesgotável, um reservatório de emoções e sentimentos. O Alzheimer o consome  consumido pelas mazelas do tempo, uma mente e um corpo arrasados pela evolução da doença. As expressões iniciais de Fernando Pessoa e  Antonie, não poderiam ter palavras mais fortes para definir os sentimentos do companheiro de um portador de Alzheimer. Um exemplo de que quando se ama, há entrega e liberdade para exercer o pleno direito de simplesmente amar e entregar-se, mantendo-se íntegro e fiel à esse amor, independente de passado, futuro e presente, ou simplesmente do fato dessas fazes não mais existirem na mente do amado.

O amor do marido, ou da esposa e até mesmo da família revelam um importante auxilio no trajeto entre o antes e o depois do paciente com Alzheimer. É uma dura batalha, seguida de altos e baixos, lembranças tão presentes e em segundos um saudosismo, acompanhado do completo esquecimento de quem sempre foi seu mais perfeito amor.

Talvez essa fase difícil, ao qual precisamos chamar de doença, ou patologia, ou transtorno pelos seus mais diversos agravos a saúde psicossomática de um indivíduo, talvez seja a mais perfeita prova de amor que alguém revela para seu companheiro. O estar junto, perto, próximo, com você, mas estar lá, para juntos, de mães dadas, ou ao lado seguir um caminho difícil, baseado no viver e no deixar de viver, por não saber mais quem é, ou quem um dia foi. Quando falo de uma prova de amor, quero falar das dificuldades que passam a existir na vida de uma família que  tem um portador de Alzheimer. 

Um casal está junto há 30 anos e aos poucos, aqueles pequenos e bobos esquecimentos passam a existir no dia-dia daquela família. Em poucos meses o amado já não mais é reconhecido, como quem sempre foi. Seu fiel companheiro e amor da vida inteira, a angústia passa a existir no coração daquela mulher que não entende o porquê de tamanhas falhas de memória, do porque desta vez não foi o encontrar na porta e deixar os chinelos perto da poltrona e as deixou logo ali, ao lado da geladeira, ela já não associa os fatos. A família percebe os lapsos, mas espera... Escondida não se sabe, se na falta de informação, preconceito, na ausência de paciência para lidar com o problema, ou simplesmente no descaso.

Quando escolhemos alguém para amar, precisamos intensamente da atenção desse alguém. É preciso que ele nos perceba que queira saber da nossa vida, que questione e imponha-se na participação e decisões que seu coração deseja tomar. 

Conviver com alguém que simplesmente um dia acorda e não se recorda do seu rosto é um grande choque. Um descobrimento crucial na vida do companheiro, que já não se identifica na vida do outro e passa a se sentir “sobrando”. Mas no fundo da alma do amor que aparenta ter morrido para o outro, ainda existem lembranças, um trecho daquela canção especial que foi dançada a primeira vez  a décadas atrás, ou um perfume que a recorda o cheiro do cabelo desse amor agora distante demais, que talvez nesse momento para ela, nunca tenha existido e que para ele continua em sua alma e espera um dia poder ser relembrado.

Esse “descobrimento especial” é algo que talvez que pode ser visto, como uma nova chance, de todos os dias reconquistar de forma diferente aquela pessoa que você sempre amou. “Hoje a noite eu vou conversar com você, mas amanhã, talvez eu não me recorde do seu rosto” essa é uma afirmativa do portador de Alzheimer, se ele entendesse e  conseguisse expressar em palavras os acontecimentos de sua mente.

Estar junto nesse momento da vida é provar, agora bem mais que antes o tamanho do seu amor. É pegar na mão e levar o amor da sua vida adiante, agora orientado e guiado por suas mãos... Aquelas, que há muitos anos não se tocavam, ou que todos os dias no final da tarde passeavam pelo jardim.
http://portaldoenvelhecimento.org.br/

Amor e atenção da família são fundamentais no tratamento de pacientes com mal de Alzheimer

sexta-feira, 21 de junho de 2013

SAUDADES, SEMPRE


Sentir saudades deve ser sinal de sorte. Indicativo de coisa que faz bem, de vida que deixa marcas, de gente que vai e fica. Saudades é o passado presente. É o que foi e ainda está tão em nós, latejando, queimando, doendo.

Sinto saudades dessas pegadas que vejo no caminho atrás de mim. Do caminho, da caminhada, dos caminhantes. Saudades da exceção e do comum. De momentos cotidianos, dos “bom dia”, de conversas banais com pessoas que não foram simplesmente pessoas. Saudades de dias que pareciam não ter fim, de noites que pareciam não amanhecer, de tempos vestidos de eternidade. E que passaram.

Sinto saudades do presente. De pessoas que ainda vejo, de cheiros que ainda sinto, de vozes que ainda falam em meus ouvidos. Saudades antecipadas do que fará falta. Saudades que me lembram de que isso vai passar.

Sinto saudades do horizonte futuro. De tudo que, por mais que eu viva e me entregue, jamais será vivido o suficiente para me satisfazer e não me deixar com gosto de quero mais. Sinto saudades de tempos que virão e, como todos os tempos que vieram (e um dia também foram conjugados no futuro), também passarão.

Sim, sentir saudades deve ser sinal de sorte, mas também deve ser sinal de que algo corre pelas veias (algo que não é apenas sangue). Deve ser indicativo de que a vida não está passando alheia, desavisada, sem por que. Saudades é sinal de que vida está com razão de ser, de que o outro está valendo a pena, de que a gente está vivo, lembrando, sangrando e esperando o próximo encontro, o próximo abraço apertado, o próximo momento para sentir saudades.

Se pudesse escolher, eu gostaria, sim, de sentir saudades, sempre. Quero que cada presente me deixe marcas, me doa no futuro, me faça sofrer. Às vezes, a dor não é dor, a dor é amor – e por isso dói tanto. Quero ter a sorte de encontrar gente que me cative a ponto de deixar marcas, de viver uma vida que me deixe com vontade de viver mais, de passar por tempos intensos, que acabem no exato momento em que tiverem que acabar, mas que continuem comigo.

Quero as saudades, porque são elas que me fazem crer que viver vale a pena.

http://verrumo.wordpress.com/

AMOR MADURO


O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso. Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.
O amor maduro somente aceita viver os problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.
O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto ilusão.
Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e a sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.
O amor maduro não disputa, não cobra, pouco pergunta, menos quer saber.
Teme sim. Porém, não faz do temor argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos os equívocos do passado.
O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é filho da capacidade de crer e continuar, é o sentimento que se manteve
mais forte depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais
com epidemias de ciúme.
O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte
salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos,
jardins abandonados cheios de sementes.
Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.
Não exige, dá.
Não pergunta, adivinha.
Existe para fazer feliz.
Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.
(Artur da Távola)

You've got a friend - James Taylor

terça-feira, 18 de junho de 2013

SEJA CALMANTE


ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO


1. Distrair e redirecionar a atenção da pessoa com DA.
Quando a pessoa com DA estiver cansada, desorientada, com medo, frustrada, com desconforto por não ter alguma necessidade sua satisfeita, ela pode responder a isso tendo comportamentos alterados ou até reações catastróficas (atitudes explosivas) como: gritos, tentativa de agressão, querer quebrar tudo, choro desesperado. Embora cada pessoa seja diferente da outra, especialmente quem tem Doença de Alzheimer (DA), algumas estratégias podem ser eficientes para ajudar o CUIDADOR a lidar melhor com isso:
    - Afastar-se da pessoa com DA e imediatamente analisar a situação: ver se ela corre algum perigo de fugir, machucar a si ou outro alguém. Objetos cortantes, pesados e fáceis de atirar já devem ter sido retirados do ambiente muito antes como medida de prevenção e melhorar a segurança de todos.

  -  Falar com calma (de longe), frases curtas que a acalmem ou a distraiam, que a confortem, lhe deem segurança e que lhe sejam agradáveis, são atitudes mais indicadas. JAMAIS DISCUTIR OU GRITAR COM ELA. Se perceber que ela não se agitou mais e que já esteja mais calma, convide-a carinhosamente para ir a outro cômodo da casa para ajudar você a fazer alguma coisa (que ela goste de fazer), ou tomar um lanche, um suco, ligar para alguém que ela goste muito. Não é indicado convidá-la a passear num momento desses.

   - Caso não perceba melhora no comportamento, peça ajuda de algum vizinho, amigo ou parente mais próximo.

  -  Após a situação estiver controlada, é importante lembrar o que aconteceu antes e depois do comportamento alterado para tentar descobrir o “gatilho”, ou seja, aquilo que pode ter provocado reações como esta. Geralmente comportamentos difíceis ou catastróficos provém do ambiente como:pouca iluminação, fralda suja, fome, alguma visita que chegou, alguém que saiu, barulho, algum objeto (espelho, peça de decoração, quadro), efeito de alguma medicação, atitude não adequada do cuidador ou até mesmo sede, cansaço, dor, sono.

- O ideal é ter um caderninho para fazer as anotações, cada vez que isto acontecer, de maneira organizada. Então, escreva objetivamente nele: o que aconteceu ANTES, DURANTE (é o comportamento que teve) e DEPOIS. Isto poderá ajudá-lo, com o tempo, a descobrir o que provocou o comportamento difícil e tentar mudar o que seja possível, na tentativa de evitar outros episódios como este.

 -  Se isto se repetir com mais frequência, é indicado conversar com o médico para ver o que é possível fazer para evitar ou aliviar esta situação.

2.     "Calce os sapatos" da pessoa que tem DA.
Quando seu ente querido estiver com os sentimentos à flor da pele, calce os sapatos dele. Encarar as coisas sob seu ponto poderá dar a você mais paciência  e a ele, mais conforto e calma. Sabemos que os resultados dependem muito de cada um, do motivo que o leva a sentir e agir desta ou daquela maneira. Pode ser: o ambiente físico em que vive, a abordagem do cuidador, a medicação, a própria doença... mesmo assim, voz calma, toque suave, sorriso no rosto e palavras doces, são as melhores estratégias de alívio da dor e aumento do amor. Pense nisso.

3.     Previna fugas quando sair de casa.
Sempre que sair de casa com a pessoa com DA, coloque uma pulseira contendo nome e telefone de contato e, se possível, que esteja escrito a informação de que ela tem dificuldades com a memória, ou então na roupa dela, escrito o nome e um telefone, caso aconteça de perder-se.

É recomendado que o cuidador sempre tenha na carteira uma foto recente de seu rosto, para facilitar no momento da procura, caso perca-se dela. Nunca deixe a pessoa com DA sozinha, nem por alguns poucos instantes, nem em casa e muito menos quando estão fora de casa. Mesmo que ela nunca tenha dado motivos como fugir ou pendurar-se em alguma janela, por exemplo.

A pessoa com DA é imprevisível. Você está numa loja ou num shopping, vai ao banheiro e diz assim para ela: “Não saia daí porque eu estou aqui ao lado já volto!” Só que ela já não consegue mais lembrar informações recentes, nem sabe mais o que é perigoso, então vai esquecer o que você disse e agir conforme seus impulsos.

4. Distrair ao invés de discutir.
Quando seu ente amado teimar em sair de casa sozinho, não diga “você não pode sair sozinho!!” E sim: “antes de sair, você poderia me ajudar a dobrar essas roupas?” Tente por este caminho. Distrair é a melhor opção, pois logo a pessoa poderá esquecer sua intenção.  Negar, brigar, gritar, perder o controle, será muito pior, tenha certeza. Então, experimente pedir ajuda em algo que seja significativo para ele e que goste fazer (tomar um suco, comer um doce, procurar alguma foto, cuidar de plantas ou de um animalzinho de estimação, arrumar uma cama, enfim, algo que ainda consiga fazer e mesmo que faça mal feito). Se der uma tarefa difícil, poderá cansá-lo e isto é muito ruim, pois poderá levá-lo a comportar-se de maneira agitada ou agressiva.

5. Quando seu amado com  Doença de Alzheimer apresentar comportamento de ficar andando de um lado para o outro sem rumo:
1.  Fique atento quanto à sua segurança, trancando portas e janelas, pois é um momento perigoso para fugas.
2.  Não deixe à vista: chaves de carro, bolsas, sapatos, óculos de sol, bonés, que possam lembrá-lo de sair.
 3.  Retire do ambiente tapetes, móveis baixos e coloque protetor naqueles cujas quinas  possam ferir.
 4.  Dê uma tarefa agradável para ele fazer, mudando-o de ambiente e pedindo sempre para que o ajude nisso, na tentativa de distraí-lo.
 5.  Procure acalmá-lo, com voz suave e com palavras que o conforte e acalme.
 6.  Se este comportamento não estiver fazendo nenhum mal a ele ou a outros, deixe-o andar por um tempo e tente distraí-lo novamente mais tarde. Mas não o recrimine ou brigue com ele por isto, porque pode piorar a situação.
 LEMBRE que seu amado não consegue refletir sobre seu comportamento. Você sim.
http://www.institutoalzheimerbrasil.org.br/

O AMOR NA DOENÇA: O PAPEL DA FAMÍLIA NO CUIDADO DO ALZHEIMER


De uma hora para outra um familiar próximo, seja pai, mãe ou avós, começa a perder a memória. Com o tempo, esquece dos próprios filhos e netos. A personalidade muda; a agressividade, mesmo que nunca tenha se manifestado, aparece e a necessidade de cuidados especiais se torna inevitável. A situação descrita acima é hoje vivida por cerca de 1,2 milhão de famílias brasileiras que possuem um parente com mal de Alzheimer. E o mais desolador é que, na maioria das vezes, os parentes não sabem como lidar com a doença. Sem esperanças por se tratar de uma enfermidade incurável, eles acabam adoecendo junto e, desamparados, deixam o doente desprovidos de afeto.

“É preciso compreender que cuidando com amor, a família consegue fazer a diferença na vida do doente e tudo fica mais leve”, afirma a professora aposentada Yone Beraldo. Ela conseguiu superar a dor de vivenciar o sofrimento da mãe (falecida em 2007) com a doença durante 20 anos. “O amor que eu sentia pela minha mãe só cresceu no tempo em que cuidei dela”, diz a aposentada. Mas compreender a nova condição da família e aprender a lidar com a sensação de desamparo não foi tão fácil assim. Além da ajuda de profissionais, Yone contou com o apoio de pessoas que passavam pela mesma dificuldade. “È ótimo aprender com as experiências dos outros e desabafar com quem sabe o que a gente passa”, diz.

Para a presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), regional de São Paulo, Vera Caorvilla, acabar com o preconceito familiar e disseminar conhecimento sobre a doença são os principais desafios. “Geralmente, o primeiro sentimento da família é de revolta”. Para ajudar nesse processo de entendimento, a Abraz oferece aos familiares encontros periódicos, nos quais participam especialistas e pessoas que estão enfrentando o mesmo problema.

Outra dificuldade apontada pelos familiares é ter que dar assistência ao paciente durante as 24 horas do dia. Isso porque, na maioria das vezes uma única pessoa é eleita para essa tarefa, o que acaba a sobrecarregando. Prova disso é que são frequentes os casos de cuidadores de pacientes com Alzheimer adoecerem com sintomas de depressão e morrerem antes do doente. “É melhor o paciente ficar em casa para se sentir mais seguro, mas é preciso que a família esteja preparada e organizada para isso”, afirma a psiquiatra Rita Reis Ferreira.

Ser surpreendido com um caso de Alzheimer na família é obviamente difícil e complexo. Mas nada como encarar a situação, erguer a cabeça e procurar ajuda para entender a doença. Unir em vez de desagregar. Não ter expectativas exageradas. Resgatar o amor e, assim, tentar melhorar a qualidade de vida da pessoa doente que, na maioria dos casos, é a grande responsável pela existência e história da família. “A pessoa doente construiu uma história de vida e você faz parte dela. Isso precisa ser preservado”, conclui Vera.  (Mariana Teodoro)

http://abiliodiniz.uol.com.br

segunda-feira, 17 de junho de 2013

NAQUELA MESA - ZÉLIA DUNCAN



Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele

E a saudade dele ta doendo em mim