domingo, 16 de junho de 2013

COMO CUIDAR

A liberdade é como um pássaro que voa para todo lugar, sem limites

"A liberdade é como um pássaro que voa para todo lugar sem limites mas, não tira a liberdade do vôo do outro"

Os movimentos, formas e cores compõem nossas vidas as quais surgem os desafios, como cuidar de um ser amado com demência significa colocarmo-nos  em constante estresse, a dor bate violentamente e  muitas vezes acompanhado da  revolta e paralelo a estas emoções  o leve estremecer da alma nos confundem, a oscilação dos momentos de nosso familiar adoentado  retratando     fases em que eles ora  estão agitados e querendo “ir para casa”. Frases desconhecidas,  ora ligadas ao passado em que historicamente faziam parte, ora dão  ensejo ao delírio  seja pela fragilidade orgânica ostensiva que os arrebata através de infecções que são notadas em exames de sangue, urina ou fezes,  nem sempre acompanhada de febre, ora são velhos e crianças simultaneamente, vencendo o calvário da doença que os aflige intensamente .

Todo o nosso cotidiano como cuidadores se transforma, em inquietação e o desânimo são nossos companheiros  aliados, súbitos e inesperados. Ao dar os medicamentos necessários no tratamento que visa amenizar os sintomas ou retardar a evolução da doença,  muitas vezes eles na imprecisão de suas habilidades e emoções , os jogam fora ou escondem embaixo da língua.

Assim sem fronteiras  somos sistematicamente convidados a enfrentar grandes desafios como um dos mais graves: O desmembramento da família quando  os antigos desacertos se fazem presentes e tornam-se mais ostensivos frente a doença incurável e é sempre na figura dos cuidados e responsabilidades que geralmente recaem em um só responsável mesmo oriundo de uma numerosa família.

Para ilustrar melhor sobre o assunto família, cito o exemplo da minha amiga Tina que desabafa:Houve um tempo que eu via minha mãe andar, fazer a comida pra 9 irmãos, papai e ainda um tio nosso (irmão dela) achava que aquela mulher tão forte e tão cheia de energia jamais iria  envelhecer, que ela estaria sempre lá, nos olhando, educando, falando, dando os tapinhas na hora certa, penteando nossos cabelos e nos indicando o caminho certo, o caminho que ela conhecia dentro das possibilidades da educação dela, mas, era um bom caminho. E hoje quandoo olho pra ela, e vejo que não sabe nem onde quer ficar sentada, nem escolhe o que quer comer, minha ficha cai : "Como será o meu futuro"? Só a Deus pertence!!!!

Um adendo: A Tina embora tenha uma numerosa família constituída, cuida sozinha de sua mãe Marieta, sendo que embora seus irmãos moram muito próximos,  raramente a visita, assim como eu, com dois  irmãos, nunca se preocuparam com a saúde física ou mental da minha mãe.

Assim  estagnação e a dor se fazem presente, estancam-se os esforços físicos e emocionais intensos para gerir o desgaste do acompanhamento deste familiar adoecido, como é difícil fincar os pés no chão se presenciamos a perda do ente querido que esteja se distanciando do que nos representou, seja através de diálogos cada vez mais raros, o olhar mais distanciado, os passos mais incertos, o corpo menos resistente Usamos a força do braço num abraço, sempre chamados a tentar novos desafios a romper limites. 

O esgotamento físico e emocional do cuidador se torna parceria, mesmo por que evitar o desgaste é uma estratégia muito difícil, procuramos, entretanto,  estabelecer rotina, relatórios , promovemos toda a organização do lar em torno deles e muitas vezes nos perdemos nas sutilezas das mudanças bruscas do humor que acompanha o doente , sentimo-nos partidos e cansados. A doença se transforma em sua essência como uma ladeira em declive  vislumbrando as surpresas diárias: o inesperado.

Fazer acompanhamento de rotina com exames e consultas, quando vivemos em torno de um doente com DA é imprescindível, porém com toda a situação que vivenciamos,  machucamos-nos intimamente gerando em nós   angustia  em relação aos baques que a dor do ser amado nos provoca de forma intensa e incluindo   os sustos quase que diários , mesmo que não queiramos percebemos que a solidão torna-se  uma constante, ficamos numa ilha sem direito ao olhar pelas frestas e perante  uma porta travada pela insegurança e muitas vezes o medo a denunciar as baladas de uma suposta campainha.

O cuidador familiar é o alvo certo destas horas incertas, precisamos estar cientes disto para sofrer menos, sempre enfocando a palavra  COMANDAR a situação e a comparo a um barco  com âncoras de um porto mais seguro retratando a importância do conhecimento acerca da doença, se cometermos  o equívoco  de ficar respondendo as perguntas repetitivas e as acusações que fatalmente será alvo do paciente amado, discutindo os pensamentos desequilibrastes, adoecemos.

Cuidar, afagar, organizar a rotina com horários e agendas, comandar o lar com postura de CONHECIMENTO, é exatamente a firmeza da qual  o cuidador deveria em tese ter, com atenção ao familiar, sem se deixar dominar por ele a ponto de se sentir mal e angustiado. 

Organização é a palavra chave, e o conhecimento das reações do portador sendo necessário para a construção do fortalecimento interior, este familiar adoentado com perdas significativas de memória irá retratar suas angústias com ataques pessoais em torno de seu acompanhante , com palavras pesadas e acusações, isto de certa forma dói intimamente , faz sofrer, martiriza, neste declive em  que nos pega desprevenidos , uma boa estratégia é procurar dialogar com amigos e parentes sobre estes surtos e reações que inevitavelmente poderá ocorrer dentro do nosso lar, assim criamos  mecanismo de defesa interior, para não se deixar influenciar por estas situações .

Quando o paciente de demência   promove a desarmonia doméstica, fruto do seu desajuste cognitivo, está de uma certa forma chamando a atenção para si, podemos por outro lado, nos  socorrer a estratégias como mudança da conversa, ou afirmar suas insinuações, que são decorrentes do mal estar gerado pela própria doença,neste momento procuramos não entrar em conflito o contrariando em suas afirmações ou acusações.

Lidar com este paciente requer criatividade a todo o momento, podemos dar-lhes tarefas simples para que se sinta útil como conservar  uma caixa de panos de prato e lençol, e pedir para que dobre as peças, dispor de caixas de brinquedos não tóxicos como bolas de borracha, bonecas  e brinquedos diversos, este familiar além de sentir-se útil estará participando do ambiente em que vive.

Estabelecer rotinas inclui deixá-los ouvir músicas com DVD apropriados para interagir com ele, procure observar a reação de seu doentinho em frente  a televisão, evite programas que podem levá-lo ao desgaste emocional, com tanto programas  que visam  abusos emocionais abordando assuntos sobre crimes e noticiários descabidos, procure se precaver com horários e escolha de canais ou sugestão de compras de DVD que o faça bem, com músicas e filmes agradáveis, assim vamos criando em torno deles um ambiente mais favorável possível.

O sol da manhã ou do final da tarde contém vitaminas excelentes para o organismo do idoso e da criança, se ele não conseguir andar, improvise uma cadeira de rodas, estas simples atitudes podem contribuir para uma melhor qualidade de vida.

Nuca  se esqueça  de você que cuida, tente sair, passear e arejar, ao menos dar umas voltas no quarteirão, dialogar com vizinhos e os raros amigos que ainda conservamos na função de cuidar de algum familiar com demência, você é importante e só o tempo acalma a dor e vai embora deixe a luz do dia te iluminar suavemente.
http://alzheimernafamilia.blogspot.com.br/

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