"As lembranças me fazem viver.
Lembrar a infância é lembrar
aventuras.
As brincadeiras, os amiguinhos,
as danações, os carões de pais e avós.
Lembrar do colégio, dos
professores, dos colegas, das aulas enfadonhas e dos primeiros conhecimentos.
Alguns ficaram para sempre. Outros desapareceram com o passar do tempo. Quanto
se passou entre aqueles tempos e os momentos atuais? Não sei. Pedi um pouco a
noção de tempo.
São apenas recordações. É tudo
que me resta.
Às vezes me pergunto: qual minha
idade verdadeira?
Quando estou deitado e quase
sempre estou deitado, passa na minha mente histórias e estórias. Nunca sei bem
se estou dormindo e sonhando ou mesmo acordado e apenas pensando. Que coisa
intrigante.
Não gosto mais de ler. Nem livros
e nem revistas. Lembro que gostava muito de ler jornais. Mas, agora quando
tento ler, não compreendo quase nada. Falam de pessoas que nunca conheci e de
cidades que nem sabia que existiam. Ver televisão para mim é uma tortura.
Sempre alguém liga pela manhã e outro alguém desliga no início da noite. Dizem
que é bom para exercitar meu cérebro. Que nada. Só me traz desconforto em ver
pessoas bonitas, que fingem que não me conhecem e nem falam comigo.
Meus sonhos/pensamentos sempre me
levam para um mundo que me era muito mais prazeroso. Gostava muito de viajar
para lugares distantes. Hoje, nos meus sonhos, não sei se viajo para longe ou é
o longe que viaja para perto de mim.
Lembranças de cores, perfumes,
imagens, músicas e principalmente mulheres. Tive muitas, mas poucas me tiveram.
Às vezes lembro das mulheres belas e outras nem tanto. Algumas dessas estão
associadas às músicas de minha preferência. Não sei bem se lembro das músicas
que lembram as mulheres ou ao contrário. Não importa. Aliás, pouca coisa hoje
me importa.
Quase todos os dias várias
pessoas entram no meu quarto e me perguntam: Como está? Está melhor? Tem tomado
os remédios?
Não sei quem são essas pessoas.
Falam em filhos e netos. Se referem a papai e vovô. Mas quem são? Não fazem
parte das minhas recordações e sonhos. De onde apareceram na minha vida? Por
que às vezes me beijam e me abraçam? Se eu nem as conheço…
Prefiro quando elas vão embora e
eu volto aos meus pensamentos. São mais reais e me dão mais prazer.
Nos últimos dias uma pergunta não
sai de meus pensamentos.
Quem sou eu?." (Aníbal Barbalho).
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