Um dia você olha no espelho e
percebe que o tempo passou. O corpo e a pele já não são os mesmos, a disposição
vai dando espaço ao cansaço e a insegurança das primeiras experiências se
transformou em sabedoria. Muitos idosos lidam bem com esta
situação e até fazem da Terceira Idade, a melhor fase de suas vidas, saindo
para dançar, participando de grupos de atividades e curtindo tudo o que a vida
pode lhes oferecer sem dar espaço para a solidão, porém, boa parte deles não
consegue superar a sensação de inutilidade e vazio decorrentes das mudanças no
corpo e na rotina e acaba se isolando de seu ciclo social, seja por vergonha de
estar parado, seja por se sentir descartado: "muita gente acha que os
problemas de saúde dos idosos são decorrentes da saúde fragilizada. De fato,
nosso organismo fica mais vulnerável com o passar dos anos e, assim como toda
máquina, vai perdendo suas reservas, mas manter a autoestima em alta e receber
afeto ajuda a fortalecer o sistema imunológico nesta fase da vida",
explica o psicofisiologista da Unifesp, Ricardo Moneze. Um estudo da Universidade de
Chicago, nos Estados Unidos comprova o poder das emoções na saúde dos idosos.
Depois de avaliar 229 pessoas, com idade entre 50 e 68 anos, os pesquisadores
descobriram que idosos solitários têm pressão sanguínea até 30% mais elevada do
que os mais ativos. Além disso, constataram também, que estes pacientes são
mais propensos a apresentar doenças cardíacas.
Mas eu nem comecei a viver ainda!
Um dos grandes dilemas dos idosos
é assumir para si mesmos que a idade chegou e conseguir manter o ânimo mesmo
depois de perceber que o corpo e a vida já não seguem no mesmo ritmo da época
da juventude:
"alguns sofrem e teimam em
aceitar que a idade chegou. Em geral, isso acontece porque se criou uma ideia
falsa de que a terceira idade é ruim. Estar velho não é um problema ou uma
doença e pode representar o começo e não o fim, como muitos pensam. Você pode
até não conseguir mais dançar salsa como gostava, mas pode começar uma aula de
tango ou uma valsa e descobrir o prazer destas outras danças", explica
Moneze. "Ser idoso significa acumular experiências e não deixar de
vivê-las",continua.
Aposentado?
Que nada! Outra situação que leva
os idosos ao isolamento, é a sensação de inutilidade diante da aposentadoria.
Para eles, principalmente para os homens, deixar de trabalhar significa deixar
de ser útil e capaz de comandar sua própria vida e o isolamento funciona como
válvula de escape nestes casos: "é uma questão social. Desde sempre o
trabalho dignifica o homem, porém, não ter uma ocupação formal não significa
que a pessoa é inútil, ela apenas já cumpriu suas obrigações quanto a isso e
está na fase de aproveitar e descansar", explica.
Se a sensação de ficar parado
incomoda, que tal fazer uma aula de dança ou um curso de artesanato? Participar
de grupos da Terceira Idade também pode ajudar a manter a mente saudável.
Lidando com as perdas
Se no começo da vida reunimos
amigos, aumentamos a família e vemos a prosperidade como sinônimo de ganhos, na
velhice, uma das coisas mais desagradáveis e dolorosas é lidar com as perdas. É
o melhor amigo que se foi, o filho que mudou de cidade, a aposentadoria, a
beleza que dá lugar as rugas.
Sem dúvida, lidar com tantas perdas é muito difícil e
doloroso e exige maturidade e preparo emocional para não causar medos, traumas
e depressão, mas não adianta encará-las como algo negativo, elas são naturais
na vida de qualquer pessoa e devem ser vistas como tal: "não dá para achar
que a vida se resume em perdas. Elas doem, a saudade bate na porta, mas a vida
é assim e não há nada que se possa fazer para mudar isso. O melhor é encarar e
seguir em frente pensando não no que se perdeu, mas no que ainda é possível
ganhar", diz.
Descartável por quê?
Muitas vezes, não é o idoso que
se isola, é a família que o deixa de escanteio por não ter paciência ou por
falta de tempo para conversar e dar a atenção necessária. Nestes casos, é
preciso que todos os que convivem com o idoso se sensibilize e perceba que
deixá-lo de lado pode trazer consequências graves em função da sensação de
abandono:
"para se ter uma ideia da
gravidade do problema, mais da metade dos idosos atendidos no consultório
apresentam doenças típicas de quem está sofrendo emocionalmente. São quadros
clínicos diversos, como psoríase e hipertensão, mas que em geral, são motivados
por solidão e tristeza", explica Ricardo.
Uma balança com saldo positivo
Uma das melhores alternativas
para melhorar a qualidade de vida dos idosos, segundo o especialista é mudar a
concepção negativa de velhice e fazer uma avaliação dos aspectos negativos e
positivos da vida até ali. É só comparar para ver qual lado da balança pesa
mais: "não tem como dar saldo negativo. Por pior que tenha sido sua vida,
você pode aprender com ela, conheceu pessoas, amou, riu, chorou, isso é viver e
a sabedoria dos mais velhos ajuda a compreender a vida desta maneira, basta
tentar", sugere.
De bem com a vida
Se o assunto é qualidade de vida
na terceira idade, a dica é relaxar e curtir o momento: "a melhor maneira
de afastar os pensamentos ruins é ocupar a cabeça e o tempo com atividades
prazerosas, assim, mente e corpo entram em harmonia sem sofrimentos e
frustrações", explica Ricardo.
Quer curtir a terceira idade longe da solidão? Preste atenção
nas dicas do especialista:
-Pratique exercícios físicos. Eles trazem saúde, bem-estar e
favorecem o contato social.
-Mantenha uma alimentação equilibrada, sem muita gordura, sal e açúcar.
Mas não se torture, a hora da refeição tem que ser prazerosa.
-Evite cigarros e bebidas alcoólicas. "Os vícios fazem mal a saúde
em qualquer fase da vida, mas quando acumulados, na velhice podem trazer
consequências maiores".
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