Sentir saudades deve ser sinal de
sorte. Indicativo de coisa que faz bem, de vida que deixa marcas, de gente que
vai e fica. Saudades é o passado presente. É o que foi e ainda está tão em nós,
latejando, queimando, doendo.
Sinto saudades dessas pegadas que
vejo no caminho atrás de mim. Do caminho, da caminhada, dos caminhantes.
Saudades da exceção e do comum. De momentos cotidianos, dos “bom dia”, de
conversas banais com pessoas que não foram simplesmente pessoas. Saudades de
dias que pareciam não ter fim, de noites que pareciam não amanhecer, de tempos
vestidos de eternidade. E que passaram.
Sinto saudades do presente. De
pessoas que ainda vejo, de cheiros que ainda sinto, de vozes que ainda falam em
meus ouvidos. Saudades antecipadas do que fará falta. Saudades que me lembram
de que isso vai passar.
Sinto saudades do horizonte
futuro. De tudo que, por mais que eu viva e me entregue, jamais será vivido o
suficiente para me satisfazer e não me deixar com gosto de quero mais. Sinto
saudades de tempos que virão e, como todos os tempos que vieram (e um dia
também foram conjugados no futuro), também passarão.
Sim, sentir saudades deve ser
sinal de sorte, mas também deve ser sinal de que algo corre pelas veias (algo
que não é apenas sangue). Deve ser indicativo de que a vida não está passando
alheia, desavisada, sem por que. Saudades é sinal de que vida está com razão de
ser, de que o outro está valendo a pena, de que a gente está vivo, lembrando,
sangrando e esperando o próximo encontro, o próximo abraço apertado, o próximo
momento para sentir saudades.
Se pudesse escolher, eu gostaria,
sim, de sentir saudades, sempre. Quero que cada presente me deixe marcas, me
doa no futuro, me faça sofrer. Às vezes, a dor não é dor, a dor é amor – e por
isso dói tanto. Quero ter a sorte de encontrar gente que me cative a ponto de
deixar marcas, de viver uma vida que me deixe com vontade de viver mais, de
passar por tempos intensos, que acabem no exato momento em que tiverem que acabar,
mas que continuem comigo.
Quero as saudades, porque são
elas que me fazem crer que viver vale a pena.
http://verrumo.wordpress.com/
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