terça-feira, 18 de junho de 2013

O AMOR NA DOENÇA: O PAPEL DA FAMÍLIA NO CUIDADO DO ALZHEIMER


De uma hora para outra um familiar próximo, seja pai, mãe ou avós, começa a perder a memória. Com o tempo, esquece dos próprios filhos e netos. A personalidade muda; a agressividade, mesmo que nunca tenha se manifestado, aparece e a necessidade de cuidados especiais se torna inevitável. A situação descrita acima é hoje vivida por cerca de 1,2 milhão de famílias brasileiras que possuem um parente com mal de Alzheimer. E o mais desolador é que, na maioria das vezes, os parentes não sabem como lidar com a doença. Sem esperanças por se tratar de uma enfermidade incurável, eles acabam adoecendo junto e, desamparados, deixam o doente desprovidos de afeto.

“É preciso compreender que cuidando com amor, a família consegue fazer a diferença na vida do doente e tudo fica mais leve”, afirma a professora aposentada Yone Beraldo. Ela conseguiu superar a dor de vivenciar o sofrimento da mãe (falecida em 2007) com a doença durante 20 anos. “O amor que eu sentia pela minha mãe só cresceu no tempo em que cuidei dela”, diz a aposentada. Mas compreender a nova condição da família e aprender a lidar com a sensação de desamparo não foi tão fácil assim. Além da ajuda de profissionais, Yone contou com o apoio de pessoas que passavam pela mesma dificuldade. “È ótimo aprender com as experiências dos outros e desabafar com quem sabe o que a gente passa”, diz.

Para a presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), regional de São Paulo, Vera Caorvilla, acabar com o preconceito familiar e disseminar conhecimento sobre a doença são os principais desafios. “Geralmente, o primeiro sentimento da família é de revolta”. Para ajudar nesse processo de entendimento, a Abraz oferece aos familiares encontros periódicos, nos quais participam especialistas e pessoas que estão enfrentando o mesmo problema.

Outra dificuldade apontada pelos familiares é ter que dar assistência ao paciente durante as 24 horas do dia. Isso porque, na maioria das vezes uma única pessoa é eleita para essa tarefa, o que acaba a sobrecarregando. Prova disso é que são frequentes os casos de cuidadores de pacientes com Alzheimer adoecerem com sintomas de depressão e morrerem antes do doente. “É melhor o paciente ficar em casa para se sentir mais seguro, mas é preciso que a família esteja preparada e organizada para isso”, afirma a psiquiatra Rita Reis Ferreira.

Ser surpreendido com um caso de Alzheimer na família é obviamente difícil e complexo. Mas nada como encarar a situação, erguer a cabeça e procurar ajuda para entender a doença. Unir em vez de desagregar. Não ter expectativas exageradas. Resgatar o amor e, assim, tentar melhorar a qualidade de vida da pessoa doente que, na maioria dos casos, é a grande responsável pela existência e história da família. “A pessoa doente construiu uma história de vida e você faz parte dela. Isso precisa ser preservado”, conclui Vera.  (Mariana Teodoro)

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