A
velhice é o tempo em que vivemos a doce inutilidade. Porque mais
cedo ou mais tarde iremos experimentar esse território
desconcertante da inutilidade. Esse é o movimento natural da vida.
Perder a juventude é você perder a sua utilidade, é uma
conseqüência natural da idade que chega. O sol do amanhã… Sob o
olhar de uma cuidadora… Como você decide viver é o que faz a
diferença no momento das provações, nos diz Padre Fábio de Melo,
falando sobre a velhice…
O
que falta muitas vezes para poder resolver os nossos problemas é a
simplicidade em enxergá-los. Devemos retirar os excessos. Não
permitir que os nossos excessos venham obscurecer a nossa visão, ou
até mesmo de nos impedir de encaminhar uma solução para aquilo que
nos faz sofrer. Isso é ter fé. É a gente acreditar que Deus está
ao nosso lado no momento da nossa luta, no momento da nossa dor. E
que, portanto, a gente tem o direito de ser simples.
É
interessante observar os movimentos de nossas mudanças interiores.
Nem sempre sabemos identificar o nascimento da inadequação que gera
todo o processo. O fato é que um dia a gente acorda e percebe que a
roupa não nos serve mais. Como se no curto espaço do descanso de
uma noite a alma sofresse dilatação, deixando de caber no espaço
antigo onde antes tão bem se acomodava. É inevitável. Mais cedo ou
mais tarde, os sonhos da juventude perdem o viço. O que antes nos
causava gozo, aos poucos, bem ao poucos deixa de causar. Nossos
valores vão se tornando mais consistentes.
Mas
não precisamos necessariamente chegar à velhice extrema, para
entendermos o sentido da inutilidade que leva ao amor… Perder
tempo, gastar tempo, ou melhor dizendo “Ter a utilidade do seu
tempo” para as coisas que nos levam aos verdadeiros sentimentos…
Se permitir “jogar conversa fora” com seus filhos, seus amigos,
fazer piqueniques e voltar a ser criança, andar na chuva, sentir o
cheiro da terra molhada, passear na praça, na praia, no bosque…
sentir a liberdade do rosto te acariciando a pele… jogar frescobol,
voleibol, “buraco”, seja o que for, apenas com o intuito de
reunir os amigos, e a família… Assim como faziam os homens das
cavernas. Ascendiam a fogueira e ao seu redor conversavam,
conversavam e conversavam… e assim os laços iam se tecendo, os
abraços se alongavam e a vida mesmo na rusticidade daqueles tempos,
era aconchegante!!!
Tempo… sempre o tempo do Senhor a nos
ensinar… Assim como na história de Alice no País das Maravilhas
em que seu coelho, corria com o relógio pendurado atrás do tempo…
Estamos hoje nós a fazer o mesmo… Que o tempo da inutilidade
amorosa, possa ser constante no tempo de nossa utilidade existencial.
Que a simplicidade faça morada em nossos corações, atitudes e
sentimentos. E que nossos sentimentos estejam sempre no ritmo e no
compasso do “amor inútil” aquele que traz pleno significado.
Que
saibamos respeitar a dor de cada hora, a esperança de cada momento,
sendo ao mesmo tempo de Aço e de Flores… Que neste tempo de
Quaresma, possamos sentir a esperança brotar de cada coração, nos
fazendo pessoas melhores, menos complicadas, de aço, para enfrentar
os desafios, mas sem perder a doçura de ser simplesmente humano…
Um tempo para nos purificar… Primeiro consigo mesmo, pois muitas
vezes somos nosso maior carrasco e depois com todas as pessoas que
nos cercam.
É essa sensibilidade de enxergar cada tempo com
sabedoria, que nos levará a conhecer o significado do amor…
http://fmanha.com.br/
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