terça-feira, 25 de março de 2014

OS PORTADORES DO MAL DE ALZHEIMER NÃO PERDEM A POSSIBILIDADE DE SENTIR


Estudo revela que, apesar de a memória se desvanecer, os portadores do mal de Alzheimer não perdem a possibilidade de sentir. Mesmo que não consigam se lembrar dos motivos da alegria ou da tristeza


A memória pode se apagar, mas os sentimentos perpetuam. Embora se esqueçam facilmente dos fatos, as emoções decorrentes de um acontecimento — coisas como um filme, um telefonema, uma visita — não se extinguem em pacientes com problemas de memória, conforme costuma-se pensar. Um estudo realizado na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, e publicado no periódico especializado Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas) conseguiu demonstrar que os portadores de doenças como o mal de Alzheimer estão menos ausentes do que se imagina. Submetidos a um teste aparentemente simples, eles continuaram a experimentar sensações como tristeza e alegria, mesmo sem se lembrar do motivo.

De acordo com o principal autor da pesquisa, o neurologista Justin S. Feinstein, a expectativa é de que o resultado ajude a criar outros paradigmas nos cuidados dispensados a idosos que sofrem do problema. “Acredito que, com nossas descobertas, vamos fazer os membros da família desses pacientes perceberem que mesmo uma ligação rápida, uma visitinha ou uma simples piada podem fazer um mundo de diferença para o bem-estar e a felicidade de quem sofre de demência”, disse, em entrevista ao Correio.

No estudo, Feinstein e sua equipe fizeram um teste de memória com cinco portadores de diferentes graus de demência, mas todos com o comprometimento diagnosticado. Eles assistiram a um trecho de um filme triste, enquanto eram observados. Durante a exibição, todos demonstraram tristeza, seja chorando ou por meio de expressões faciais. Imediatamente depois do filme, os participantes da pesquisa disseram que se sentiam tristes e que foram afetados de forma negativa.

Entre cinco minutos e 10 minutos depois, eles passavam pelo teste de memória. Quatro pacientes conseguiram se lembrar de cinco ou menos detalhes, sendo que um deles não foi capaz de se recordar de nada. Posteriormente, tinham de descrever o que sentiam naquele momento. Todos continuavam tristes. O mesmo aconteceu quando assistiram a uma comédia. Embora não se lembrassem das cenas, eles reportaram uma sensação de bem-estar e humor. Uma das participantes contou aos pesquisadores que, no dia a dia, costuma ter sentimentos bons ou ruins, mas nunca faz ideia do que provoca essas emoções. “Quando me sinto bem, não me preocupo, obviamente. O ruim é quando estou me sentindo realmente triste e não consigo descobrir o porquê. E esses sentimentos não vão embora”, disse.

O amor

Por intuição, a professora Maria Ernestina Rocha Neves, 77 anos, aprendeu o melhor remédio para a doença do marido que, há uma década, tem Alzheimer: “É o amor”, diz. “Ele foi meu primeiro namorado, agora é meu neném”, brinca, com carinho, sobre o marido, Francisco de Assis Neves, 80. Mesmo parecendo ausente, quando chamado, Francisco olha para ela com adoração. “O que eu sou, Chico?”, pergunta Ernestina. Ele dá uma risada gostosa e responde: “Você é linda”.

Até quatro anos atrás, Francisco, ex-funcionário do Senado — “O mais culto que já passou por lá”, segundo a mulher —, ainda lia jornal e fazia palavras cruzadas. “Eu pedia para ele ler para mim, depois me fazia de desentendida e perguntava para ele: ‘O que era mesmo que estava escrito?’”, explica Ernestina. Hoje, porém, Francisco já não consegue assinar o nome. “Ele tinha uma letra linda”, recorda a mulher.

Apesar de a doença ter avançado há cerca de um ano e meio, Francisco é um homem saudável e faz coisas, como mastigar, que poucas pessoas no estágio em que se encontra conseguem realizar. “Tem de receber muito amor, carinho e paciência. Me dedico muito a ele, por isso que está assim. Não considero que ele dê trabalho. É um prazer tomar conta dele, ele tem de ter tudo do melhor”, ensina Ernestina.

Francisco não é paparicado somente pela mulher. Os seis filhos, as 14 netas e, agora, a bisneta estão sempre por perto. Às terças, quartas e quintas, os netos almoçam com os avós. “É só ele perguntar por algum filho que ele vem correndo”, conta Ernestina. Muito católica, ela emociona-se ao dizer que Francisco pode se esquecer de tudo — menos de rezar o Pai-Nosso e a Ave Maria. “Tem coisas que a ciência não consegue explicar.”

Acredito que, com nossas descobertas, vamos fazer os membros da família desses pacientes perceberem que mesmo uma ligação rápida, uma visitinha ou uma simples piada podem fazer um mundo de diferença”
Justin S. Feinstein, pesquisador da Universidade de Iowa
http://www.abpbrasil.org.br/

Um comentário:

  1. Bom dia,

    É possível conseguir a pesquisa na íntegra? Preciso embasar um trabalho da faculdade de psicologia, meu tema será Memória, e me interesso muito por esse tema.
    Meu email é: ic_so@hotmail.com

    aguardo
    Isabel

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