Estudo revela que, apesar de a memória se desvanecer, os portadores do mal de Alzheimer não perdem a possibilidade de sentir. Mesmo que não consigam se lembrar dos motivos da alegria ou da tristeza
A memória pode se apagar, mas os sentimentos perpetuam. Embora se
esqueçam facilmente dos fatos, as emoções decorrentes de um
acontecimento — coisas como um filme, um telefonema, uma visita — não se
extinguem em pacientes com problemas de memória, conforme costuma-se
pensar. Um estudo realizado na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos,
e publicado no periódico especializado Proceedings of the National
Academy of Sciences (Pnas) conseguiu demonstrar que os portadores de
doenças como o mal de Alzheimer estão menos ausentes do que se imagina.
Submetidos a um teste aparentemente simples, eles continuaram a
experimentar sensações como tristeza e alegria, mesmo sem se lembrar do
motivo.
De acordo com o principal autor da pesquisa, o neurologista Justin S.
Feinstein, a expectativa é de que o resultado ajude a criar outros
paradigmas nos cuidados dispensados a idosos que sofrem do problema.
“Acredito que, com nossas descobertas, vamos fazer os membros da família
desses pacientes perceberem que mesmo uma ligação rápida, uma visitinha
ou uma simples piada podem fazer um mundo de diferença para o bem-estar
e a felicidade de quem sofre de demência”, disse, em entrevista ao
Correio.
No estudo, Feinstein e sua equipe fizeram um teste de memória com cinco
portadores de diferentes graus de demência, mas todos com o
comprometimento diagnosticado. Eles assistiram a um trecho de um filme
triste, enquanto eram observados. Durante a exibição, todos demonstraram
tristeza, seja chorando ou por meio de expressões faciais.
Imediatamente depois do filme, os participantes da pesquisa disseram que
se sentiam tristes e que foram afetados de forma negativa.
Entre cinco minutos e 10 minutos depois, eles passavam pelo teste de
memória. Quatro pacientes conseguiram se lembrar de cinco ou menos
detalhes, sendo que um deles não foi capaz de se recordar de nada.
Posteriormente, tinham de descrever o que sentiam naquele momento. Todos
continuavam tristes. O mesmo aconteceu quando assistiram a uma comédia.
Embora não se lembrassem das cenas, eles reportaram uma sensação de
bem-estar e humor. Uma das participantes contou aos pesquisadores que,
no dia a dia, costuma ter sentimentos bons ou ruins, mas nunca faz ideia
do que provoca essas emoções. “Quando me sinto bem, não me preocupo,
obviamente. O ruim é quando estou me sentindo realmente triste e não
consigo descobrir o porquê. E esses sentimentos não vão embora”, disse.
O amor
Por intuição, a professora Maria Ernestina Rocha Neves, 77 anos,
aprendeu o melhor remédio para a doença do marido que, há uma década,
tem Alzheimer: “É o amor”, diz. “Ele foi meu primeiro namorado, agora é
meu neném”, brinca, com carinho, sobre o marido, Francisco de Assis
Neves, 80. Mesmo parecendo ausente, quando chamado, Francisco olha para
ela com adoração. “O que eu sou, Chico?”, pergunta Ernestina. Ele dá uma
risada gostosa e responde: “Você é linda”.
Até quatro anos atrás, Francisco, ex-funcionário do Senado — “O mais
culto que já passou por lá”, segundo a mulher —, ainda lia jornal e
fazia palavras cruzadas. “Eu pedia para ele ler para mim, depois me
fazia de desentendida e perguntava para ele: ‘O que era mesmo que estava
escrito?’”, explica Ernestina. Hoje, porém, Francisco já não consegue
assinar o nome. “Ele tinha uma letra linda”, recorda a mulher.
Apesar de a doença ter avançado há cerca de um ano e meio, Francisco é
um homem saudável e faz coisas, como mastigar, que poucas pessoas no
estágio em que se encontra conseguem realizar. “Tem de receber muito
amor, carinho e paciência. Me dedico muito a ele, por isso que está
assim. Não considero que ele dê trabalho. É um prazer tomar conta dele,
ele tem de ter tudo do melhor”, ensina Ernestina.
Francisco não é paparicado somente pela mulher. Os seis filhos, as 14
netas e, agora, a bisneta estão sempre por perto. Às terças, quartas e
quintas, os netos almoçam com os avós. “É só ele perguntar por algum
filho que ele vem correndo”, conta Ernestina. Muito católica, ela
emociona-se ao dizer que Francisco pode se esquecer de tudo — menos de
rezar o Pai-Nosso e a Ave Maria. “Tem coisas que a ciência não consegue
explicar.”
Acredito que, com nossas descobertas, vamos fazer os membros da família
desses pacientes perceberem que mesmo uma ligação rápida, uma visitinha
ou uma simples piada podem fazer um mundo de diferença”
Justin S. Feinstein, pesquisador da Universidade de Iowa
http://www.abpbrasil.org.br/
Bom dia,
ResponderExcluirÉ possível conseguir a pesquisa na íntegra? Preciso embasar um trabalho da faculdade de psicologia, meu tema será Memória, e me interesso muito por esse tema.
Meu email é: ic_so@hotmail.com
aguardo
Isabel