A evolução da Doença de Alzheimer
(DA) em minha amada mãe é notória.
Apesar de todo o acompanhamento médico e farmacológico. Sabemos que o Alzheimer
é uma doença degenerativa atualmente incurável, no entanto, o tratamento
permite melhorar a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratando os sintomas,
controlando as alterações de comportamento e proporcionando conforto e
qualidade de vida a minha amada mãe.
O Alzheimer é uma doença cruel e
silenciosa. Chega de mansinho sem que possamos identifica-la. É como um ladrão
que rouba o bem mais importante do ser humano: a sua própria identidade, perdendo em contrapartida a sua dignidade,
seus valores, sua essência e suas convicções.
São mudanças tão sutis como
pequenos lapsos de memória, muitas vezes imperceptível. E assim, com um lapso
aqui e outro ali, o nosso ente querido parece ir vagarosamente desligando seus
circuitos internos, distanciando-se a cada dia da realidade, da rotina do dia a
dia.
É uma doença estéril, vazia e sem
vida como um deserto. É um ladrão de corações, almas e lembranças... É uma
desordem degenerativa do cérebro que afeta a memória e a personalidade, não
existe a cura... não há como saber em
que velocidade ela evolui, variando de pessoa para pessoa, piorando com a
passagem do tempo.
Como cuidadora de minha amada
mãe, sinto-me solitária, numa ilha deserta, mesmo estando no meio dos familiares.
É um poço profundo, um estado de melancolia, cansaço físico e estresse
constante. A relação familiar altamente desgastante. Não existe mais diálogo
com a irmã que mora com minha amada mãe. Como é difícil. Não existe um
compartilhar de sentimentos, divisão de tarefas. É uma aridez total. É uma criatura totalmente cristalizada,
petrificada em seus sentimentos. Ninguém assume o verdadeiro papel de cuidador.
Os meus sentimentos se mesclam
entre cansaço, depressão, tristeza e agonia de ver a minha amada mãe sendo “devorada” pelo Alzheimer. O “aqui e agora” está cada dia menos presente. Destaque maior
aos eventos do passado. Sem noção de temporalidade.
Continuo a base de antidepressivo,
com minha “fortaleza bastante
estremecida, cheia de rachaduras”. No entanto, estou a mergulhar no novo “universo” de minha amada mãe. A cada
pergunta feita repetidamente, é respondida como se fosse a primeira: “que dia é
hoje?”, “já tomei banho?”, “já tomei o meu remédio?”, “já merendei?”, dentre outras.
É importante que tenhamos muita
compreensão, muita paciência, muita dedicação e, sobretudo muito amor para
convivermos com a realidade de uma pessoa com Alzheimer.
“O doente de Alzheimer é uma criança
invertida. Está em fase de “desaprendizado”.
É ao mesmo tempo criança e majestade, segundo os especialistas. Isto porque,
a criança nasce totalmente dependente, cheia de cuidados e carinhos, vai aos
poucos se tornando independente. Tem creches e
escolas para ajuda-la a se educar e a crescer. É a fase de aprendizado, de
crescimento físico, psicológico e emocional.
O idoso portador da demência, do
mal de Alzheimer, está na fase do “desaprendizado”.
Esquecendo tudo, ou quase tudo que aprendeu na vida. Muitas vezes sem cuidados
especiais e sob o crivo da crítica de todos os mais novo que, vaidosos,
esquecem-se de que também ficarão velhos um dia.” É a total falta de respeito ao idoso.
Apesar do processo de “desaprendizado” de minha amada mãe, o
sentimento de amor está cada vez mais fortalecido. A nossa cumplicidade é muito
grande. Muitos beijos, abraços, carinhos, declarações de amor, fazem parte do
nosso cotidiano. O seu sorriso ao me ver chegando é que me fortalece.
Agora mesmo no feriado de
Carnaval, ficamos minha amada mãe e eu sozinhas em sua casa. Nestes dias senti
uma “áurea de amor” muito forte.
Sinto a cada dia a presença de Deus
em minha vida. É quem me conduz nesta nova estrada de minha vida.
Lembramos de “estórias do passado”,
ouvimos música, cantamos, passeamos e todas as noites dormíamos “agarradinhas”
na mesma cama. Puro amor.
Sei que ainda passarei por muitos
sofrimentos. A doença em sua constante evolução, será cada vez mais cruel,
tirando toda a sua autonomia. É como se algo misterioso chegasse e sugasse a
cada dia a alma de minha amada mãe, até tornar-se apenas “um corpo vazio”.
Tenho certeza que a cada dia
estarei fortalecida com muito amor para enfrentar este temível “ladrão
de almas”.
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