sexta-feira, 31 de maio de 2013

A VELHA RABUGENTA


Que vêem amigas?
Que vêem ?
Que pensam quando me olham?
Uma velha rabugenta não muito inteligente de
hábitos incertos, com seus olhos sonhadores
fixos ao longe?
A velha que não responde ao tentar ser
convencida... De, fazer um pequeno esforço?"

A velha, que vocês acreditam que não se dá conta
das coisas que vocês fazem e que continuamente
perde a sua escova ou o sapato ?

A velha, que contra sua vontade, mas humildemente lhes permite a fazer o que queiram, que
me banhem e me alimentem só para o dia passar
mais depressa....

É isso que vocês acham? É isso que vocês vêem?
Se assim for, abram os olhos, amigas,
porque isso que vocês vêem não sou eu!

Vou lhes dizer quem sou, quando estou sentada
aqui, tão tranquila como me ordenaram...

Sou uma menina de 10 anos, que tem pai e mãe,
irmãos e irmãs que se amam.

Sou uma jovenzinha de 16 anos.
Com asas nos pés, e que sonha encontrar
seu amado.

Sou uma noiva aos 20,
Que o coração salta nas lembranças,
Quando fiz a promessa
Que me uniu até o fim de meus dias
com o AMOR de minha vida.

Sou ainda uma moça com 25 anos,
Que tem seus filhos,
Que precisam que eu os guie...
Tenho um lugar seguro e feliz !

Sou a mulher com 30 anos.
Onde os filhos crescem rápido,
E estamos unidos com laços
que deveriam durar para sempre...

Quando tenho 40 anos Meus filhos já cresceram
E não estão em casa...
Mas ao meu lado está meu marido
Que me acalente quando estou triste.

Aos cinquenta, mais uma vez comigo
deixam os bebês, meus netos, e de novo tenho
a alegria das crianças,
meus entes queridos junto a mim

Aos 60 anos, sobre mim nuvens escuras aparecem,
e quando olho meu futuro me arrepio
toda de terror.
Os meus filhos se foram, e agora têm os
seus próprios filhos...
Então penso em tudo o que aconteceu e
no amor que conheci.

Agora sou uma velha. Que cruel é a natureza....
A velhice é uma piada
Que transforma um ser humano Em um alienado.
O corpo murcha
Os atrativos e a força desaparecem Ali,
onde uma vez teve um coração
Agora há uma pedra.

No entanto, nestas ruínas,
a menina de 16 anos ainda está viva.
E o meu coração cansado,
ainda está repleto de sentimentos Vivos
e conhecidos

Recordo os dias felizes e tristes
Em meus pensamentos volto a amar
e a viver o meu passado.
Penso em todos esses anos
Que foram, ao mesmo tempo poucos
Mas que passaram muito rápido,
E aceito o inevitável..
Que nada pode durar para sempre...
por isso, abram seus olhos
e vejam Diante de vocês não está uma
velha mal-humorada
Diante de vocês estou apenas “EU...”

Uma menina, mulher e senhora Viva...!!
E com todos os sentimentos de uma vida...

Lembrem deste poema da próxima vez que encontrar uma pessoa idosa mal-humorada e não a rejeitem, sem olhar primeiro a sua Alma Jovem… Você…. vai estar algum dia em seu lugar…


NOTIFICAR É CUIDAR!

CLARITA

RESPEITO

https://www.facebook.com/CuidarDoIdosoLicaoDeAmor

EM NOME DO ALZHEIMER : AVÓS, PAIS E FILHOS

“Hoje eu me pergunto: quem haverá que consiga traçar com precisão os rumos da própria vida de tal forma que possa prever e evitar os percalços do caminho? Quem de nós saberá responder sem sombra de dúvida o que nos reserva o futuro ou até mesmo o que acontecerá na próxima fração de segundo? Respondo com convicção: a vida é a grande mestra enquanto nós, eternos aprendizes, vamos aprendendo a seguir seu curso pela estrada da existência. Será então que o Alzheimer não pode ser visto como uma lição de amor a ser aprendida?

Desde o ventre materno, o laço afetivo que nos acompanha pela vida afora é sedimentado no seio da família e, por mais conflituoso que ele seja, é a partir daí que aprendemos a exercitar nossa capacidade de amar. Durante a nossa jornada amamos, desamamos, guardamos mágoas, colecionamos frustrações, culpamos o outro pelo nosso fracasso, vibramos com nossas alegrias, enfim, quando nos damos conta o tempo passou e de tudo que ficou pra trás, boas ou más, só nos restam lembranças.

Toda essa bagagem que carregamos na memória é a referência de quem somos e de como chegamos até este momento de agora. Avaliando-a, podemos ter uma perspectiva de tudo que fizemos ou deixamos de fazer e já que não podemos apagar ou remendar o que nos desgostou no passado, urge reconhecer o surgimento de uma nova oportunidade para recomeçar a partir de novas atitudes e posturas diante da nossa própria vida.

Quando em nome do Alzheimer, toda essa memória vai se esvaziando, o indivíduo vai perdendo todo o seu referencial de vida. Dentre as brumas do tempo, a espessa nuvem do esquecimento envolve avós, pais e filhos que, desnorteados, vagam entre confusos sentimentos de medo, dor e solidão. A única forma de suavizar o sofrimento é resgatar a união do grupo familiar para acolher com paciência e amorosidade aquele ente querido que, mergulhando nos vazios do tempo, faz parte da nossa história, dessa memória que compõe o nosso próprio referencial de vida”. (Gracinha Medeiros).
http://www.cuidardeidosos.com.br/

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O TOM DO AMOR - PAULINHO MOSKA

O amor vai te contar um segredo
Não precisa ter medo
Nem sair correndo
O amor nasce pequeno
Cresce, fica estupendo
Às vezes o amor está ali
Você nem tá sabendo
O amor tem formas, formas, aromas,
Vozes, causas, sintomas
O amor...

É mãe, é filho, é amigo,
Às vezes num canto esquecido existe amor
Antigo, antigo
O amor que cuida, parte e assusta
Que erra e pede desculpas
Às vezes o amor quer ferir
E se cura doendo

O amor tem formas, formas, aromas,
Vozes, causas, sintomas
O amor...

É pausa, silêncio, refrão
E explode nessa canção
O amor vai te contar

Um segredo, fica atento, repara bem
Que o meu amor é todo seu

Antigo.

AS RELAÇÕES AFETIVAS PARA OS DOENTES DE ALZHEIMER

O mal de Alzheimer afeta a 600 mil pessoas na Espanha e 18 milhões em todo o mundo. A mudança emocional que sacode as famílias e os doentes é tão ou mais impactante que a própria patologia. Com a chegada do esquecimento, surgem muitas dúvidas.

"Constantemente nos perguntamos quais são seus sentimentos", explica Manel Mañós. Ele tem 87 anos e sua mulher, Laura, morreu com Alzheimer no Dia dos Santos Inocentes, há quase sete anos. "Vivemos uma história de muita dor, mas também de compreensão e muito amor", acrescenta.

A doença vai modificando o humor, o comportamento e o tipo de relação do enfermo com seu entorno social e seus familiares, especialmente com o cônjuge. Como a doença do esquecimento afeta as relações afetivas? O amor adquire um novo significado? Está comprovado que quando o doente de Alzheimer recebe estímulos, como escutar uma melodia de sua juventude, consegue despertar um sorriso. Mas que papel um estímulo emocional tão importante como desfrutar do amor conjugal tem na evolução da doença?

Pouco a pouco, a doença vai desfazendo a personalidade do paciente.
Desde a fase inicial, com os primeiros esquecimentos e, em muitos casos, apatia e depressão, até as mais avançadas, nas quais há uma deterioração física maior e se observam também transtornos do comportamento, o doente e seu entorno familiar passam por um grande processo emocional.

"Para mim, o Alzheimer tem dois momentos: a morte da personalidade e a morte física", afirma Mañós, que era muito apaixonado por sua mulher e fica com os olhos embotados ao lembrar-se dela. "Era muito linda", afirma. "Quando a doença apareceu, o projeto de vida que tínhamos para depois da aposentadoria desapareceu. Eu me informava e tentava me colocar em seu lugar, raciocinar e pensar o que eu sentiria se fosse ela, como eu gostaria que me tratassem. Você tenta devolver à pessoa a vida que a doença está lhe roubando", explica Mañós.

"As emoções do doente de Alzheimer são um terreno ainda bastante inexplorado. As pesquisas se preocupam muito com a cognição, mas não com a emoção", afirma Javier Olazarán, neurologista e principal pesquisador da Fundação María Wolff, onde dirige um projeto que avalia o efeito do prazer sobre o bem-estar do doente de Alzheimer.

Conforme a doença avança, "começam a ver-se afetadas as manifestações mais complexas de afetividade, ligadas ao pensamento mais elevado, como a iniciativa, a motivação ou a capacidade de compreender o que os outros sentem. Sabemos que respondem com menos intensidade, o que não quer dizer que sintam menos", diz o neurologista.

"Os doentes de Alzheimer conservam uma vida afetiva muito mais rica do que a que aparentam porque mantêm as estruturas cerebrais envolvidas com a vida emocional, que demoram mais para se deteriorar", explica José Manuel Martínez-Lage, professor honorário de neurologia da Universidade de Navarra. "O paradoxo está em como expressam suas emoções: suas respostas são mais pobres ou anormais", explica.

Nem todos os doentes sentem da mesma forma. "Dependendo de quais regiões forem afetadas, pode haver uma falta de motivação na hora de buscar estímulos prazerosos, algo que ocorre em 80% dos casos. Outros 20% sentem-se absolutamente desinibidos na hora de buscar prazer, seja por meio da comida, do contato com os outros e até mesmo do aumento da libido. A doença é caprichosa, e não sabemos por que em determinados casos aumentam alguns quadros ou outros", comenta Olazarán. Mercè Boada, chefe clínica do setor de doenças neurodegenerativas do hospital Vall d'Hebrón de Barcelona, também dirige a Fundação ACE, que atende 250 portadores de Alzheimer em seu centro-dia e cursos de memória. Mais da metade tem menos de 60 anos. "Com eles fomos aprendendo como são as relações afetivas e sexuais durante o transcurso da doença", explica Boada. "Precisam de afeto, contato físico e, definitivamente, do amor dos relacionamentos", confirma.

A psicóloga María Paz García Paniagua, da Associação de Familiares de Doentes de León (AFA León), concorda: "É possível que para o doente de Alzheimer alguns sentimentos, principalmente o carinho, sejam os únicos vínculos que os mantêm ligados à realidade que os circunda".

O amor estimula a memória. "Com uma vida afetiva ativa, a doença progride mais lentamente", afirma Martínez-Lage. Lembrar juntos da vida de casado, por exemplo, pode ser um bom estímulo. Sentir carícias, vozes e cheiros familiares e outros elementos de cumplicidade podem ter o poder de evocar a memória. "Durante muitos anos acreditou-se que o doente voltava a ser criança. Não é assim, e deve-se tratar o doente como o adulto que é, ainda que não se possa ouvir suas emoções, palavras e sentimentos da mesma forma", afirma Martínez-Lage. A doença constrói novas pontes, novas formas de cumplicidade. "Ter sido é uma forma de ser", acrescenta.

Apesar de a relação conjugal supor um estímulo para o doente, a outra face da moeda é como o parceiro vive a relação. Quando os olhos deixam de brilhar ao ver o rosto do outro, ou já não se lembra mais onde se conheceram, como foi a primeira vez, o nascimento de seu primeiro filho... Cair no poço do esquecimento da pessoa amada requer grandes doses de fortaleza.

O juramento de amor pode se fortalecer mais do que nunca, ou, ao contrário, desmoronar-se. Os transtornos de comportamento afetam a cada casal de forma diferente. "Você é jovem, se quiser pode ter outro marido, não se prenda por mim", disse há alguns dias Luis, que tem 60 anos e padece de Alzheimer, à sua esposa, María, de 48 anos, quando ela foi visitá-lo na instituição onde mora. "Nesse momento de lucidez, voltei a vê-lo novamente: a mesma generosidade pela qual eu havia me apaixonado voltou a aparecer", afirma María. Eles se apaixonaram loucamente há 18 anos. Lembra-se como deram valor a lutar para ficarem juntos e deixar para trás dois casamentos falidos.

Quando a doença chegou, começou a destruição. "Quando ele olha para mim acho que não me vê como sua mulher, mas como um apoio", afirma María, que reconhece que quando olha para Luis agora vê outra pessoa.

"A doença o roubou de mim, já não é a pessoa por quem me apaixonei", explica. "Chegou a um ponto em que ter relações era um tormento, porque tinha a sensação de que ele só queria se aliviar, e eu já não sentia nada". Custou muito para Maria levar Luis a uma instituição. Ela o visita todos os dias. Compartilham menos tempo, mas com qualidade.

Sentimentos como a solidão, o isolamento, a incapacidade de comunicar ou a vergonha são os piores companheiros para o doente e seu parceiro.

"Com freqüência, o cônjuge não consegue compreender a situação e se sente mal. Não quer se sentir como um objeto de desejo desconhecido, quando antes era conhecido e desejado", explica Boada. Não costumam contar isso a ninguém, mas quando o tema surge na consulta com Boada, a especialista nota que "tiram um peso dos ombros".

Explicam que seu marido ou esposa doente os procuram buscando carinho porque os reconhecem como uma pessoa próxima cujo contato lhes dá prazer e tranqüilidade. "Nesse contato também há memória", afirma.

A sexualidade é outro dos aspectos do casal que muda. "A pessoa com demência pode ter a mesma necessidade de contato físico que tinha antes, de continuar mantendo o mesmo ritmo em suas relações sexuais, mas a forma de comunicar isso pode ser diferente. Antes, por exemplo, se insinuaria a seu parceiro ou parceira propondo uma siesta, mas as vítimas da doença não conseguem se comunicar dessa maneira. Aproximam-se de seus parceiros, a quem ainda desejam, e os tocam, e isso pode acontecer no momento mais inoportuno, o que provavelmente gerará rejeição", explica Boada.

"O cônjuge são tem duas opções: viver isso de uma forma positiva, participando do jogo, ou pode pensar que está sendo usado e então rejeitar o outro", explica Boada. "Devemos educar o casal e a família, que devem compreender que manter a sensação de prazer é boa para a saúde do doente, e isso implica desfrutar da comida, do cheiro do café, do contato físico com os demais e de outros prazeres".

Uma das partes do cérebro afetadas pela doença é o lóbulo pré-frontal, que controla as relações com o entorno e por isso alguns doentes se comportam com maior desinibição. Em alguns casos chega a haver até uma aparente hiperatividade sexual. "Podem dizer à acompanhante ou enfermeira que gostam de seus peitos, chegam até a tocá-la com atrevimento, mas na realidade isso não significa nada", explica Boada.

"A masturbação em público, por exemplo, sobre a qual não se fala, mas que se vê com freqüência nos asilos, deve ser reconduzida, tratada com naturalidade, e deve-se ensinar ao doente que trata-se de algo privado e que portanto ele deve se retirar para seu quarto ou o lavabo", afirma.

Há tantas histórias de amor quanto doentes. Na Fundação ACE, os funcionários ainda se lembram do caso de um paciente de 75 anos que ia ao centro e participava de suas atividades terapêuticas. Ele havia sido diplomata. Sentava-se à mesa como um autêntico cavalheiro inglês, sempre vestido de terno, impecavelmente. Logo fez amizade com uma mulher também doente, a quem dava instruções, como se fosse sua secretária, para que cumprisse suas tarefas. Passavam dias de mãos dadas. Era enternecedor ver como ela lhe arrumava a gravata. Ao acabar o dia, saiam pela porta de mãos dadas e a surpresa chegava quando apareciam a esposa do diplomata e o marido da namorada, que vinham buscá-los. A troca de casais se dava com a maior naturalidade. Que sentimentos surgiram entre ambos? "Com certeza, uma sensação de serenidade, de compartilhar mais horas, compartilhar um projeto de vida comum", conclui Boada. (Mónica L. Ferrado).
http://portaldoenvelhecimento.org.br/

LER E ESCREVER: UM ELIXIR DE VIDA NA TERCEIRA IDADE

            

O sabor que as palavras têm dão cor à vida e dão vida à vida e qualidade a essa vida. O exercício da leitura e da escrita são poderosos instrumentos revigorantes para o cérebro. A atividade intelectual na terceira idade é fundamental para manter os mais idosos ativos e para evitar ou retardar o surgimento ou a progressão de doenças neurológicas degenerativas, que levam a memória e trazem as demências. A investigação tem demonstrado que o treino do raciocínio indutivo, da memória e de outras funções mentais é importante na manutenção da saúde mental.

"Mente sã em corpo são." Para o corpo são, exercício físico e boa alimentação. Para a mente sã, exercício intelectual e bom alimento para ela. É de mente sã que eu vou falar, embora não nos possamos esquecer de manter o corpo são: um não vive bem sem o outro estar em forma. Vou dar exemplos reais de histórias de vida em que a leitura e/ou a escrita deram vida à vida e lhe acrescentaram cor, sabor, prazer e qualidade.

Vou contar-vos acerca de uma doce idosa, doente de Alzheimer, que, aos 83 anos, depois de um decréscimo da sua qualidade de vida intelectual e emocional, em que as memórias se confundiam e as manias ganhavam terreno juntamente com a depressão e a irritação, teve força de vontade para combater esses demónios. Entre outras armas, a leitura esteve sempre presente. A par com a revileitura (em parceria com os medicamentos, o exercício físico e o carinho da família), começou a assistir-se ao renascer do que já se pensava perdido. O cérebro como que rejuvenesceu e foi-lhe possível não apenas saborear as histórias dos muitos livros que lia, mas também a qualidade literária com que eram tecidos, nomeadamente a magia das palavras criadas por Mia Couto. Depois seguiu-se um aumento da atividade de escrita, há muito condicionada a algumas cartas para a família, através da tradução de uma história francesa e respetiva ilustração, para uma criança da sua estima, como anos antes tinha feito para os netos.

Deixem-me contar-vos acerca de um senhor que, depois de se reformar, descobriu o prazer da escrita aos 68 anos. Começou a pesquisar (lendo, ouvindo, conversando), e as histórias e os poemas foram nascendo, num processo de escrevivência, em que também o seu cérebro rejuvenesceu, a vida ganhou mais interesse e novos objetivos.

Deixem-me contar-vos ainda como a literatura serve de elo de comunicação entre gerações. Sempre o foi entre mim e as duas pessoas admiráveis de que falei. Foi-o entre uma filha e uma mãe, que sempre partilharam leituras além de afetos, quando a segunda se encontrava em estado terminal, já sem conseguir falar. A filha selecionou um texto de Rubem Alves (2002) para ler à mãe, no hospital, pretendendo comunicar-lhe como a considerava sábia, apesar da sua baixa escolaridade: "O erudito é aquele que ajunta muitos saberes. O sábio é aquele que, saboreando os saberes ajuntados, se dá conta que muitos deles não têm gosto, ou que têm um gosto que não lhe agrada. O sábio - degustador - livra-se deles. O erudito soma saberes. O sábio diminui saberes. Ele escolhe o que é essencial. Os saberes essenciais são aqueles que nos ajudam a viver". O olhar da mãe, o seu sorriso, a sua expressão facial mostravam compreender o que ouvia e denunciavam o que lhe ia na alma e que não podia traduzir em palavras. Esse dia foi o último em que filha e mãe puderam comunicar, numa partilha de afetos, de palavras, de uma vida que as uniu e que se traduziu num momento final de felicidade para a mãe (e também para a filha), numa comunhão perfeita através da literatura, que lhes permitiu esta despedida.

Serão estas histórias acasos? Não. Ler e escrever são atividades altamente estimulantes para o cérebro e não é preciso ter estudos elevados para as realizar e apreciar; "são saberes essenciais" que nos podem ajudar a viver. Martín (2007) diz que, "assinalado o interesse da estimulação, defendemos que a educação, ao proporcionar um conjunto de padrões de atividade intelectual (por exemplo, através da leitura, da escrita, de atividades discursivas que exercitam o desenvolvimento da linguagem e do pensamento, etc.), ajuda à manutenção dos níveis de ativação cerebral ou, em muitos casos, a recuperar e a compensar a perda de estimulação ambiental ou contextual, que ocorre particularmente depois da reforma".

À leitura e à escrita podemos acrescentar outras atividades que também exercitam o cérebro, como, por exemplo, fazer palavras cruzadas, jogar cartas ou outros jogos, bordar ou fazer renda, construir peças de artesanato. Da prática de todas elas, de acordo com os gostos e os hábitos de cada idoso, resultarão benefícios como a estimulação do cérebro, o sentimento de rejuvenescer, o gosto pela vida.  (Armanda Zenhas).
http://www.educare.pt/

A FAMÍLIA DIANTE DA DOENÇA DE ALZHEIMER


A família funciona como uma totalidade, como uma teia ou uma rede: uma modificação em qualquer parte afeta o todo. Apesar de existirem diversos tipos de família e de relacionamento familiar, em todas elas existem papéis estabelecidos que as mantêm em um certo equilíbrio. Nas famílias mais antigas era comum o pai ser o provedor e a mãe cuidar dos afazeres domésticos. Apesar das modificações ocorridas nesses papéis, cada membro continua com atribuições determinadas em função do seu lugar no seio da família e de suas características pessoais. Quando um dos familiares adoece e não pode mais cumprir o seu papel, há um desequilíbrio, que desencadeia uma crise, obrigando a uma reorganização familiar.

Boss (1998) dá o nome de perda ambígua àquela em que o membro da família está fisicamente presente e psicologicamente ausente, como no caso da demência. O autor explica que este fenômeno gera conflito pelo fato de os familiares não saberem quem está dentro e quem está fora do sistema familiar, resultando em estresse para o grupo.

Objetivamente, a necessidade de cuidar do paciente pode interferir em diversos aspectos da vida do cuidador e dos outros membros da família. Por exemplo, os cuidados de uma filha com uma mãe enferma interferem com o seu emprego ou tomam o tempo que seria dedicado a seu marido ou a seus filhos. A situação é agravada porque os cuidados com pacientes demenciados podem durar muitos anos, tornando as trocas na família cada vez mais complexas (Zarit e Edwards, 1996).

Mas não há só as questões de ordem prática. A evolução das doenças mentais deixa os familiares do doente bastante desorientados e confusos, sentindo-se quase sempre impotentes. Como lembra Novaes (1995, p. 44), "a perda de autonomia de um pai por exemplo, sua dependência emocional... desestabiliza a relação até então estabelecida, traz conflitos, afastamentos e insegurança... ".

Cuidar de um idoso dependente é um dos eventos mais estressantes e perturbadores no ciclo de vida familiar. Alguns familiares se distanciam para evitar confrontos, compromissos desagradáveis e a redefinição dos papéis estabelecidos. Outro motivo de distanciamento pode ser o medo: conviver com uma pessoa demente, ainda mais sendo parente, implica estar a todo o momento experimentando o medo de também ter a doença (embora em alguns casos cuidar também possa ser uma maneira de não se dar conta do próprio medo de adoecer).

Dependendo de vários fatores, a rearrumação familiar pode ser mais ou menos fácil, como veremos. As experiências familiares anteriores à doença permeiam a relação atual, ora trazendo bem-estar, ora trazendo desavenças. Nas famílias que já não vinham funcionando bem, comumente persistem e até são exacerbados problemas de relacionamento após o surgimento da doença em um de seus membros (apesar de haver casos de familiares que reataram relações após um período de conflitos, ocasiões em que a doença tem a função de unir). É comum que em situações de crise os conflitos se intensifiquem, ocasionando por vezes separações irreversíveis.

Outro fator a ser considerado é o momento em que a família tomou conhecimento da doença. Famílias que tiveram várias perdas próximo ao surgimento da enfermidade provavelmente custarão mais a se adaptar à nova situação. O mesmo ocorre quando algum parente foi morar em local distante, casou-se, aposentou-se ou perdeu o emprego quando começaram a aparecer os sintomas da doença.


A estigmatização da doença é igualmente prejudicial para a adaptação. Quando se trata de assuntos sigilosos referentes à doença ou quando ela é motivo de vergonha, quando se tenta atribuir a culpa a alguém, não há como reconhecer a perda, compartilhar a dor e se recuperar para investir em outros projetos (Walsh e Mc Goldrick, 1998).
http://revista.unati.uerj.br/

DESMISTIFICANDO A VELHICE


Sou extremamente emputecida com essa mania que as pessoas têm de glorificar a velhice, é como se houvesse uma obrigação de achar que é algo bom, que tem alguma coisa de bonito na pele enrugada, nos cabelos brancos e na saúde frágil. Esse emputecimento não é nada novo, já me sentia assim aos 20, já ouvi muitas colegas de escola afirmarem que tinham o "sonho" de ficarem bem velhinhas e terem muitos netos. Sempre achei esse sonho muito do besta!

Não, não descobri a fonte da juventude. Só descobri, e faz bastante tempo, que a velhice é algo terrível, muito pior do que a pior das doenças, e que as pessoas inventaram uma historinha muito da fraquinha para tentar convencer e se convencer de que tem algo de bom nisso. As ditas "vantagens" são sempre aquelas coisas que existiam no adulto e que alguns demoram um pouco mais para perder, ou seja, o que se diz de bom da velhice é o que a velhice ainda não levou.

Os exemplos de velhos maravilhosos, e todos têm pelo menos um, são pessoas que foram maravilhosas quando adultas e que, durante algum tempo, conseguiram manter algumas dessas características. Geralmente as pessoas desses exemplos ou acabaram por perder essas características tão notáveis, ou morreram antes da deterioração total.

E o tão propagado consolo de que "é natural" também me deixa pasma! Sei que a deterioração física demora mais ou menos tempo dependendo da pessoa, mas sei que ela só não acontece para quem morre antes e não acho isso justo. E daí que é inevitável? E daí que é o processo natural? E daí que não posso fazer nada além de escolher um dos dois caminhos? Só porque é natural tenho que achar lindo?

É ruim, é triste, é feio e não vejo por que tenho que fazer de conta que é tudo bonitinho. Não preciso achar que é bom só porque não posso evitar! Já que a única opção também não me atrai, então vou ficar mais e mais velha, até estar um caco e morrer, mas não vou fazer isso mentindo! Se tem que fazer eu faço, e da melhor maneira possível. Mas sob protesto! Sempre fui rebelde e não será depois de velha que vou deixar de ser!

Todos nós já vimos essa cena e cenas similares diversas vezes: Uma família chega a um restaurante. São duas crianças, dois adultos e uma senhora idosa com uma bengala e muita dificuldade de locomoção. A mulher jovem tem que ajudar a senhora idosa a entrar no restaurante, a chegar até a mesa, a sentar, a ler o cardápio... Eles passam algum tempo ali e toda a atenção que dão para a senhora é estarem periodicamente verificando se ela precisa de ajuda para alguma coisa, ela precisa de ajuda para tudo.

Eu me pergunto: Que tipo de vida terrível, cheia de maldades e das piores ações que um ser humano pode cometer, poderia com alguma justiça tornar justificável que uma pessoa receba da vida um castigo tão grande? Concluo que muito, muito poucas, e fico com raiva, uma tremenda raiva de saber que por melhor que a gente viva, todos estamos sujeitos a esse horror! E juro! não entendo como é que alguém pode achar isso bom!

Dizem que vendo dessa forma não mentirosa eu vou sofrer. Pensar em geral equivale a sofrer e já estou meio acostumada com isso. Mesmo que quisesse não conseguiria ser diferente. E, respeitados ou não, os velhos são seres que estão se deteriorando em ritmo gradual e irreversível, isso é horrível e tudo o que dizem que existe de bom na velhice das duas uma: ou é algo que seria melhor ainda antes da velhice, ou é alguma coisa da fase adulta que AINDA não foi roubada pela velhice.

Às vezes acho que o que leva a isso é apenas o medo de assumir que nosso último destino é um horror sem comparação e também a necessidade de fazer de conta que uma coisa ruim é boa para poder suportar a vida e não cometer suicídio. Não acho que exista alguém que não tenha medo da velhice.

Todos falam da "velhice com qualidade", de se cuidar para ter uma "boa velhice", de manter a alegria e o pique para ser um "velho de bem com a vida"... Pois para mim esses falsos conceitos são sintomas de medo. Por terem muito medo da velhice, quando falam da própria, todos exaltam justamente aquilo que não é velhice. Só acreditaria que tem algo de bonito na velhice se alguém pudesse me mostrar que reumatismo é um charme, que descontrole do corpo é a última moda, que usar fraldão não tem nada de ruim, que a perda da memória faz um bem danado para o intelecto, que usar bengala ou andador é tão lindo quanto usar rímel e batom.

Mas ninguém diz: "Ai que lindo um corpinho todo cheio de artrite e reumatismo!", "Olha que gracinha esse andador!", "Puxa gente que legal, ganhei uma ruga novinha!", "Ah, que felicidade, meu colesterol está lá no alto!", "Não consigo mais me levantar sozinho da cadeira, não é bacana?", "Viram meu extrato bancário? Gastei todo meu dinheiro com remédios, tô tão feliz!"

Pois é, embora vejamos e saibamos que isso acontece com as pessoas o tempo todo, negamos até o fim que acontecerá com a gente. Se isso não é medo... Já vi uma pessoa afirmando que um familiar morreu de Alzheimer mas foi feliz até o fim e me pergunto: Quem tem essa doença, tão comum na chamada terceira idade, pode ser feliz? Talvez sim porque pelo que sei a pessoa vai perdendo a consciência totalmente. Pensar que perda total de memória, consciência, capacidade de movimento e de decisão podem ser associadas à felicidade é um caminho... Mas, como EU posso ser feliz se deixei de ser EU ?????

Amadurecimento, conhecimento, experiência... isso tudo é balela! só serve quando você ainda tem alguma coisa de adulto que a velhice não levou. Amadurecida é uma pessoa adulta e responsável. Velhice equivale mais à podridão. E quando falo isso não tenho nenhuma intenção de ofender os velhos, estou pensando em uma fruta. Nosso corpo começa a deteriorar por dentro e por fora da mesma forma que a fruta começa a apodrecer. É um processo. Conhecimento é algo que você, se adquirir ao longo da vida, vai ter bastante na fase adulta, mas é também algo que vai ser levado pela velhice quando sua mente começar a falhar. Experiência é algo que, em geral, só serve pra você mesmo e muitas vezes nem pra você serve mais, menos ainda na velhice quando você não pode usá-la para nada ou quando você esquecer que a teve.

Um exemplo bem bobo: Um casal constrói uma casa. Levam anos de trabalho, esforço, dedicação, sonhos. Uma experiência que, teoricamente, poderia servir para um filho. Pois bem, o filho cresce e compra um apartamento, nem ele nem a esposa têm a mínima intenção de construir uma casa. O casal, levado pelo destino, tem que mudar de estado e vender a casa que custou tanto e também compra um apartamento sem nenhuma intenção de construir qualquer casa no novo endereço. De que valeu toda essa experiência???

Construir a casa adiantou, é claro, afinal foi com a venda dela que compraram o apartamento. Mas a experiência adquirida com essa construção, tudo que aprenderam e que passaram com projeto, pedreiros, material, acabamento, etc. Tudo isso não serve para nada porque não vão construir outra, não vão corrigir os erros da primeira na próxima. Maturidade. De que serve a maturidade se quando você é maduro o suficiente para saber uma coisa, não tem energia ou futuro suficiente para realizá-la?

Tudo isso é besteira? Pode até ser, mas tudo que falam para convencer os velhinhos de que eles estão na "melhor idade" é MENTIRA! Muitos argumentam que você seguramente terá uma velhice ótima se “plantar” isso na juventude. Não é verdade, nem sempre se planta o que colheu. Tem muito filho da puta por aí que deveria estar vivendo um inferno e está numa boa enquanto pessoas excelentes amargam solidão e falta de tudo. Essa conversa de que cada um colhe o que plantou é outra mentira da grossa.

Se acontece de só na velhice alguém poder fazer alguma coisa que não pôde fazer na juventude, como uma aventureira e linda viagem, isso não é em absoluto prova de vantagem da velhice, comprova apenas uma desvantagem que aquela pessoa teve na idade adulta. Certamente se tivesse conseguido fazer isso na fase adulta teria aproveitado ainda mais, sem precisar da humilhação fantasiada de exemplo de ser visto como um "animal raro" e tratado com carinho, condescendência e, certamente, preocupação de muitos que ficaram pensando sem dizer nada: "Será que a vovozinha vai mesmo aguentar ou vai estragar o passeio de todo mundo tendo um treco bem aqui?".

A beleza e a pele lisa, a saúde e a possibilidade de fazer planos para o futuro são muitíssimo mais importantes do que a experiência e do que qualquer conhecimento adquirido, principalmente porque na velhice esses conhecimentos costumam ganhar um cimento e não evoluir! Não sou chegada a essa coisa de tentar me enganar, e fico puta da vida por ver que praticamente todo mundo tem esse papo pronto de que a velhice é linda, a experiência vale muito mais do que a juventude, a velhice está apenas no espírito. Quando alguém vem com esse papo pra cima de mim fico achando que estão me tomando por uma imbecil com cérebro de ameba! E o que me deixa pasma é que tem gente que parece acreditar mesmo nessa baboseira toda!

Tudo que tem de bom na vida a velhice leva, inclusive a tão propagada experiência, a tão louvada maturidade! Você chega aos “enta” e vai perdendo gradativamente tudo, absolutamente tudo, inclusive você mesmo. Quando toda a sua experiência e maturidade se tornam vagos clarões em um cérebro quase sem memória, quando toda atividade física se torna um obstáculo praticamente ou totalmente intransponível, todo mundo, TODO MUNDO MESMO, acha que você tem mais é que morrer, que já está na hora de você se posicionar na mesa do velório e virar uma figura meio borrada nas fotos antigas. Se você, apesar das opiniões contrárias, insistir em ficar mais um ano ou dois, você vai provavelmente causar imensos transtornos para os outros, tantos que em alguns casos as pessoas acabam precisando de terapia.

Quase tudo que se relaciona como coisas boas da velhice são na verdade as características da juventude que alguns velhos ainda não perderam. Não há absolutamente nada de bom na velhice. Mesmo as histórias para contar que tantos citam não são características agradáveis da velhice, muito pelo contrário, são em geral muito deprimentes: De que adianta ter muitas histórias para contar se não tem quem as queira ouvir? No geral ninguém presta atenção em "conversa de velho" e quando o faz é por mera educação, para parecer "bonzinho" diante do grupo ou então para dizer depois coisas do tipo: "Olha só como as coisas eram bizarras no tempo da minha avó!"

Chegar à velhice significa chegar a um ponto em que você recebe um castigo pior do que toda e qualquer doença. Significa que, tendo pecado (se é que existe esse papo besta de pecado) ou não, tendo vivido uma vida útil e ética ou não, não importa, você será castigado da pior maneira possível. É pior do que a pior das doenças porque mesmo a pior das doenças ainda reserva ao portador e aos seus entes queridos um fio ao menos de esperança. Na velhice não há esperança!

Quanto à cabeça, de que adianta a cabeça querer e os sonhos se manterem intactos? O corpo obedece cada vez menos até chegar o momento em que não obedece mais nada. A velhice rouba absolutamente tudo que você teve ou que possa ter tido, ela não permite o menor sonho, o menor desejo, a menor esperança... A não ser na mentira! Não percebo, mas não percebo mesmo, onde está a beleza disso tudo.

É como a história do livre arbítrio sem livre arbítrio nenhum: Ou eu fico velha, cada vez mais velha até não ter mais nada de mim e morrer, ou eu me mato, morro jovem e evito todos os transtornos da velhice. Que merda de livre arbítrio! E a terceira opção? E o plano B? Simplesmente não tem! E ainda chamam de "Livre" !!!!

A decrepitude começa antes dos 60 para a maioria das pessoas. A gente vai aos poucos se deteriorando como uma fruta esquecida na geladeira. É um processo cujo avanço varia de pessoa para pessoa mas que é sempre gradual e irreversível. É esse processo que chamo de feio. E quando falo em feio não me refiro ao culto da beleza, à vaidade que é a mola mestra da sociedade de consumo. Digo feio porque acho feio alguém ir perdendo tudo que tem aos poucos, como numa doença sem cura e sem esperança de cura. Acho feio, acho injusto, acho errado. Sei que é natural, sei que é inevitável. Mas é feio!

E não estou só reclamando dos meus seios caídos, das minhas celulites, dos meus quilos a mais... falo é da velhice que rouba tudo que a pessoa tem e teve, rouba a memória, a lucidez, o vigor, a saúde, a sanidade, o controle do próprio corpo até nos processos mais banais. Estou falando no geral! Não importa se eu sou uma adolescente ou uma velha de 100 anos: a velhice é um castigo tremendo e injusto pra TODO MUNDO! Não importa se sou amarga e suicida, ou feliz e de bem com a vida: a velhice é um castigo tremendo e injusto pra TODO MUNDO! Mesmo que eu morra jovem ou me mate, ainda assim o fato é que a velhice é um castigo tremendo e injusto pra TODO MUNDO! Mesmo você que acha que tem uma lista enorme de coisas bonitas e válidas na velhice (pra mim todas essas coisas são apenas aquelas que a velhice ainda não roubou), você não merece o castigo de perder a força física, a lucidez, a memória, a saúde. VOCÊ NÃO MERECE. NINGUÉM MERECE!

Quando vejo algum velho feliz eu sempre me pergunto se é de verdade. Muitas vezes descobri que não é. Muitas pessoas velhas estão felizes quando em grupo porque se sentem tão sozinhas na maior parte do tempo que quando conseguem estar em grupo demonstram uma alegria imensa, mas passageira, infelizmente. Muitas pessoas velhas mostram felicidade como fuga, é a maneira que encontram de não pensar, de mentir para si mesmas e para os outros para tentar acreditar na própria mentira. Já vi alguns desses dizerem coisas tocantes quando se desarmam um pouco. Há também velhos, e são muitos, que buscam na religião o refúgio de que precisam; esses não perdem um culto ou missa e aceitam com tremenda facilidade a promessa da vida melhor depois da morte porque quase toda a esperança dessa já se foi, sua vida geralmente se resume a ir à igreja e a receber a família e fazer planos e carinhos para os netos, deles mesmos não se lembram mais. Não é fácil ser feliz com doença, decrepitude, isolamento, solidão e essas coisas que, embora jovens e crianças também tenham, são mais freqüentes na velhice, são "marcas" da velhice.

Todo mundo fica achando que só pode ser feliz quem aceita o fato (pra mim a mentira) de que a velhice é bonita, é uma fase legal porque faz parte da vida... Nem vem com essa de que quem viveu bem vai ficar mais conformado por estar indo embora e curtir seus últimos dias! Essas mentiras que inventaram para consolar os coitados dos velhos são absurdas ao extremo!

Muitos dizem que devemos aceitar com sabedoria mais essa fase da vida. Acho que essa é a chave da discórdia. Para a maioria das pessoas, aceitar com sabedoria significa curtir ao máximo o que sobrar de juventude e dizer que isso é uma velhice de qualidade. Para mim aceitar com sabedoria é saber que o que ainda tem de bom no meu corpo e na minha vida é aquilo que a velhice não levou e, por não poder fazer outra coisa além disso, segurar o máximo que puder e aproveitar ao máximo cada fio de juventude que me restar.

E, por favor, que ninguém confunda isso com encher a cara de botox ou esticar a pele até virar plástico. Estou falando de curtir no sentido de aproveitar mesmo, viver, sorrir, amar, viajar... No final das contas fazemos exatamente a mesma coisa, apenas com uma visão oposta. Os resultados podem ser os mesmos, mas uma postura é mentirosa e ditada pelo medo enquanto a outra é mais sincera e racional. Nem preciso dizer que prefiro a segunda...

"Só quem adquiriu sabedoria consegue envelhecer com tranqüilidade." Acho que é meio o contrário. Quase todo mundo diz que vai envelhecer com tranqüilidade, ou com dignidade. Isso não demonstra sabedoria, demonstra desejo se você não é velho e demonstra negação se você já entrou nos "enta". Para mim sabedoria é ter coragem de assumir que tudo o que podemos ver de bom em uma pessoa velha é aquilo que ela, por vontade ou por sorte, ainda não perdeu da sua juventude. É saber que, se viver tempo suficiente, vai chegar um momento que até a vontade será uma característica da juventude roubada pela velhice e essa pessoa terá perdido tudo e morrerá. Todos nós vemos isso o tempo todo e mesmo assim negamos o fato. Isso não é sabedoria, é cultivar uma mentira!

"E o que seria de nós se não envelhecêssemos, se não diminuíssemos o ritmo para depois falecer? a vida seria insuportável sendo eterna, cheia de paixões desenfreadas e uma juventude interminável." Essa é outra mentira das grandes que de tanto serem ditas acabaram por se travestir de verdade! Se não diminuíssemos o ritmo seríamos todos mais produtivos e o mundo seria muito melhor, quantas coisas as pessoas fariam dos 60 aos 90 se ainda tivessem energia para isso? A vida não seria insuportável se durasse mais, isso é balela das grandes. Para quem gosta de viver e conhecer podemos fazer a pergunta: Quanto tempo alguém precisaria para ir a todos os lugares, aprender todas as línguas, ler todos os livros, praticar todas as artes, entender todas as culturas, conhecer todas as pessoas? Não vejo como isso possa ser insuportável.

O problema não é ser amarga, é ser verdadeira. Vou aproveitar ao máximo cada fiapo que me reste de juventude e vou segurar com muita garra cada brilho de energia que ainda tenha, mas em momento nenhum vou mentir e dizer que a velhice é coisa boa. Não há nada que eu possa fazer. A opção do suicídio não me atrai, eu queria que tivesse uma terceira, mas não tem e não posso fazer absolutamente nada quanto a isso, então tenho que envelhecer da melhor maneira possível, só. Pra mim é assim: Não dá pra mudar, não mudo, que mais posso fazer? É da natureza e não posso afetar a natureza a esse ponto, não afeto!

Enfim, não tenho como fazer absolutamente nada, e ninguém tem. A única coisa que posso fazer é escolher se vou viver ou se vou me matar, escolhi viver por várias razões, daí o que posso fazer é viver da melhor maneira que puder afetando para bem tudo aquilo que tenho poder de afetar.

Não posso, com essa escolha, evitar a velhice. Então vou envelhecer, já estou envelhecendo, sou e vou ser enquanto conseguir, uma velha muito da espoleta! Vou amar até não poder mais, vou sorrir até não poder mais, vou andar, cantar, brincar, viajar, tudo isso até não poder mais. E, no que depender de mim, vai demorar bastante pra eu não poder mais!

Mas... uma coisa eu me nego terminantemente a fazer: Não vou mentir pra mim mesma e dizer que a velhice é linda e que é uma maravilha ser velha, ah, isso eu não vou mesmo! Não posso evitar a velhice, mas me recuso a mentir sobre ela! Posso ser impotente, mas não vou ser mentirosa!

Minha postura é derrotista? Não, pelo contrário! Ninguém precisa ficar amargo, triste e deprimido porque tem coragem de encarar um fato. Todos têm medo e quase todos têm medo da velhice, se não fosse por esse medo não teriam cunhado falsas expressões do tipo: "É preciso cultivar uma velhice saudável", "Todos podemos envelhecer com dignidade", "O importante é manter o espírito jovem"; e a campeã de todas as balelas que já ouvi sobre o assunto: "Melhor idade".

Não fosse o medo as expressões seriam verdadeiras do tipo: "A velhice é um horror, por isso vou segurar com força e enquanto puder o que me restar de juventude no corpo e na mente."

Justamente pelo fato de achar que sofremos uma tremenda injustiça da vida é que eu quero e vou tirar mais proveito dela! Será que todo mundo só consegue achar que se alguém não concorda com o mundo Pollyana tem que obrigatoriamente ser alguém amargo e infeliz? Um dia meus netos vão me usar como exemplo e vão citar de mim as coisas que a velhice demorar mais pra me roubar, e meu ânimo pra brigar contra a apatia vai ser o último a cair!

Acho a velhice muito feia, tão feia que quero adiá-la o máximo que puder! Ela é a doença incurável que rouba tudo, a única coisa que nos resta a fazer é não entregar nada! Ser feliz com o que a velhice ainda não levou e segurar essas coisas com garra! Se ela vai roubar tudo que tenho e se isso é inevitável, tudo bem, mas eu posso e vou resistir ao máximo! Só não vou, e não entendo que as pessoas façam isso, mentir para mim mesma e dizer que esse roubo é bom! (Divina de Jesus Scarpim)
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1585060

VELHICE ...UM DIA, PARA TODOS

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O HOMEM QUE TINHA ALZHEIMER


Aníbal Barbalho, aqui pra nós, é engenheiro, inclusive professor do curso de engenharia da UFRN, hoje aposentado, por absoluto erro de cálculo. Na verdade, ele é um contador de histórias que por insistência dos amigos já lançou um livro cheio de bom humor e anda juntando histórias e estórias, pequenos contos, como esta sobre do homem que tinha Alzheimer.

As lembranças me fazem viver.
Lembrar a infância é lembrar aventuras.
As brincadeiras, os amiguinhos, as danações, os carões de pais e avós.
Lembrar do colégio, dos professores, dos colegas, das aulas enfadonhas e dos primeiros conhecimentos. Alguns ficaram para sempre. Outros desapareceram com o passar do tempo. Quanto se passou entre aqueles tempos e os momentos atuais? Não sei. Pedi um pouco a noção de tempo.
São apenas recordações. É tudo que me resta.
Às vezes me pergunto: qual minha idade verdadeira?
Quando estou deitado e quase sempre estou deitado, passa na minha mente histórias e estórias. Nunca sei bem se estou dormindo e sonhando ou mesmo acordado e apenas pensando. Que coisa intrigante.
Não gosto mais de ler. Nem livros e nem revistas. Lembro que gostava muito de ler jornais. Mas, agora quando tento ler, não compreendo quase nada. Falam de pessoas que nunca conheci e de cidades que nem sabia que existiam. Ver televisão para mim é uma tortura. Sempre alguém liga pela manhã e outro alguém desliga no início da noite. Dizem que é bom para exercitar meu cérebro. Que nada. Só me traz desconforto em ver pessoas bonitas, que fingem que não me conhecem e nem falam comigo.
Meus sonhos/pensamentos sempre me levam para um mundo que me era muito mais prazeroso. Gostava muito de viajar para lugares distantes. Hoje, nos meus sonhos, não sei se viajo para longe ou é o longe que viaja para perto de mim.
Lembranças de cores, perfumes, imagens, músicas e principalmente mulheres. Tive muitas, mas poucas me tiveram. Às vezes lembro das mulheres belas e outras nem tanto. Algumas dessas estão associadas às músicas de minha preferência. Não sei bem se lembro das músicas que lembram as mulheres ou ao contrário. Não importa. Aliás, pouca coisa hoje me importa.
Quase todos os dias várias pessoas entram no meu quarto e me perguntam: Como está? Está melhor? Tem tomado os remédios?
Não sei quem são essas pessoas. Falam em filhos e netos. Se referem a papai e vovô. Mas quem são? Não fazem parte das minhas recordações e sonhos. De onde apareceram na minha vida? Por que às vezes me beijam e me abraçam? Se eu nem as conheço…
Prefiro quando elas vão embora e eu volto aos meus pensamentos. São mais reais e me dão mais prazer.
Nos últimos dias uma pergunta não sai de meus pensamentos.
Quem sou eu?.
(Vicente Serejo)

A LUZ ESTÁ APAGADA !


Dizem que no final do túnel sempre tem uma luz, mas a verdade é que muitas vezes não conseguimos enxergá-la, e o fato de não a enxergarmos nos enche de angústia e de tristeza. Você está vendo a luz no final do túnel?

É que muitas vezes parece que está tudo dando certo, que o sonho vai se realizar, que você está no caminho certo, que a grande hora chegou, mas ai de repente tudo desaba e parece que nada está direito, parece que não vemos mais o caminho e que tudo vai dar errado. É como se aquela luz no final do túnel estivesse apagada.

Você olha ao seu redor e só vê escuridão, você está trilhando um caminho que você não conhece e isso te assusta, mesmo porque você não enxerga o fim desse caminho, você acha que sabe para onde está indo, mas a verdade, é que você tem dúvidas. É difícil, não é? Somos tomados pelo medo, pela confusão, pela dúvida, pela angústia... queremos entender, mas nem sempre é possível.

Eu sei o que você está sentindo, eu sei como é difícil e ruim se sentir assim, e eu também sei que não conseguimos explicar aquilo que sentimos, simplesmente sentimos. Nesse momento muitos de nós temos vontade de parar e muitos, de fato, param. Não pare!

A LUZ NÃO ESTÁ APAGADA! Você pode até não estar vendo a luz, você pode até afirmar que não há luz nenhuma acessa. Mas saiba que a LUZ ESTÁ ACESSA! Sabe por quê?

Porque nós, algumas vezes, não conseguimos enxergar com os olhos espirituais, só vemos com nossos meros olhos humanos. A luz está acessa, mas para vê-la precisamos olhar com os olhos do Pai.

Enquanto o caminho nos parece escuro, para Deus está claríssimo, quando não entendemos nada, Ele entende tudo, quando entregamos tudo para Ele, a luz e o túnel não nos pertencem mais, é tudo dEle. Para ele não há confusão, não há dúvidas, não há medo. Quando entregamos nosso caminho para o Senhor devemos saber que muitas vezes não entenderemos os caminhos dEle para nós, mas, eu afirmo que os caminhos dEle são com certeza melhores do que os nossos.

Muitas vezes eu me sinto assim também, não é muito bom, e nem sempre eu sei o que Deus quer me ensinar, não sei se Ele está me preparando, não entendo os tempos dEle, mas mesmo assim obedeço, busco absorver tudo o que esse tempo difícil tem para me ensinar, tento abreviar esse tempo. Mas nem sempre é fácil.
Me lembrar que a luz está acessa, nem sempre é uma tarefa fácil, mas é sempre uma tarefa possível.  O Senhor nos fala para sempre trazermos à memória aquilo que nos dá esperança. (Lamentações 3.21)

Não se esqueça de sonhar todo dia, e mesmo que pareça tão difícil, se lembre constantemente do seu sonho. Busque olhar com os olhos do Pai, só assim você verá a luz acessa. Mas não se esqueça de que muitas vezes Deus quer que apenas confiemos nEle, e mesmo que a luz nos pareça apagado, é nesse momento que Ele quer ver a nossa fidelidade.

Mesmo que você esteja com vontade de desistir, não desista; mesmo que você não esteja muito bem, não pare; mesmo que pareça que nunca vai se realizar, acredite que Aquele que prometeu é fiel para cumprir.
Continuemos firmes e inabaláveis, no caminho que nem sempre entendemos, mas que confiamos no Deus que faz todas as coisas, no Deus que cuida de nós.

A LUZ ESTÁ ACESSA SIM!

Que nesta semana, o Pai te revele um pouco mais da graça e do amor dEle, e que todos os dias você traga à memória aquilo que te dá esperança. No amor do Pai, guardando meu coração em esperança. (Bruna Thalita).

COMO UMA ONDA - TIM MAIA


Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Como uma onda no mar