A dona de casa Acyr Magalhães, de
84 anos, e os amigos fazem parte de uma geração que nem imaginava que iria viver
tanto. Mas a expectativa de vida no Brasil só aumenta. Hoje, o país tem muita
gente que já está chegando e até passando dos 100 anos de idade. Uma prova de
que é possível viver mais. Agora, o grande desafio da ciência é encontrar a
cura para as doenças que aparecem justamente na idade avançada.
Chega um dia em que aquela
segurança que adquirimos com a maturidade começa a ir embora, um pouco a cada
dia. A vida parece fugir ao nosso controle. Por que não somos mais os mesmos? A aposentada Zailda Silvestre de
Melo ainda não completou 75 anos. Há seis, recebeu o diagnóstico: Mal de
Alzheimer. Por trás do olhar calmo, ela guarda um passado rico em alegrias e
sofrimentos. Mas, hoje, essa viúva, mãe de quatro filhos e avó precisa ser
vigiada e cuidada como uma criança. As mudanças que percebemos no
funcionamento do nosso cérebro, a partir dos 70 ou 80 anos de idade, na
verdade, têm início muito antes, quando temos apenas 20 ou 30 anos. É nesse
momento que as células do cérebro passam a envelhecer.
E quando é que essas alterações,
os lapsos e esquecimentos, passam a representar um sinal de alerta? Segundo os
médicos, é quando elas interferem diretamente no nosso dia-a-dia e atrapalham
muito a nossa rotina. "Perda de memória,
comprometimento no dia-a-dia, alterações comportamentais, podendo evoluir para
comprometimento de linguagem, capacidade de julgamento e capacidade de
crítica", explica Ivan Okamoto, diretor do Núcleo de Envelhecimento
Cerebral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ainda não se conhece totalmente as doenças degenerativas que atingem nosso cérebro. Mas a ciência tem pressa, porque, como estamos vivendo cada vez mais, elas também vão ficando cada vez mais freqüentes. Antigamente, as pessoas que sofriam desses males eram chamadas de "esclerosadas". Mas os médicos sabem, agora, que os transtornos que ocorrem na terceira idade podem ter várias causas. E a metade dos pacientes sofre do Mal de Alzheimer.
No caso de Zailda, a família
percebeu que alguma coisa estava errada logo que ela ficou viúva e muito
deprimida. "'Seu marido morreu' foi a pior coisa que eu já escutei na
vida. Deus me livre. Eu gostava demais dele", revela a aposentada.
"A evolução foi assim: de
uma mãe que era matriarca e que começou a perder a memória e falar algumas coisas.
Mas, de repente, ela começou a parar de desenvolver mesmo as coisas. E isso
aconteceu rápido. Ela passou a não fazer café, não fazer arroz e não fazer
almoço", conta a gerente de vendas Rosa Maria de Melo, filha de dona
Zailda.
Dona Zailda hoje se trata no
Núcleo de Envelhecimento Cerebral da Unifesp. Com o avanço da doença, há uma
perda progressiva de neurônios. Os testes indicam aos médicos quais as áreas do
cérebro estão afetadas. Ainda não se descobriu a cura, mas já é possível tratar
o paciente.
"São medicações no sentido
de estabilizar a doença e na tentativa de oferecer mais qualidade de vida para
o paciente e de se ter uma progressão lenta", esclarece doutor Ivan
Okamoto.
O Mal de Alzheimer tem um forte componente genético e não se conhece uma forma de prevenir a doença. Os cientistas acreditam que levar uma vida saudável pode ser uma ajuda valiosa. O avanço da doença é inevitável, mas o carinho e a proteção da família tornam esse processo menos doloroso. Foi por isso que as filhas concordaram em deixar dona Zailda participar do Globo Repórter. Ao contrário do que se acreditava no passado, estudos recentes mostram que o melhor para o paciente não é ser internado em uma clínica, mas continuar em casa.
"Esse paciente é muito
melhor tratado na sua própria casa, porque ele está cercado das suas coisas.
Ele mantém uma memória residual, em que consegue ter uma noção. Então, o
paciente se sente mais seguro dentro da sua própria casa. O carinho familiar
minimiza as diversas dificuldades que esse paciente pode apresentar", diz
Ivan Okamoto.
Dona Zailda garante que adora
viver. "A vida tem umas coisa ruins e outras boas, porque não há obrigação
de ser tudo junto. Eu tenho minhas filhas, tenho cachorro, tenho gato. Eu tenho
tudo", declara a aposentada. Rosa diz que sente saudades da mãe, mas que
agora tem uma filha, cujo futuro é hoje. "Eu vou pensando no dia-a-dia.
Não estou mais presa ao futuro. Acho que nem vale muito a pena ficar muito
presa ao futuro, depois da grandeza que é você cuidar de alguém que cuidou de
você a vida inteira", finaliza.
(http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/)
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