Para o alcance de uma velhice
bem-sucedida é muito importante tomar algumas medidas preventivas e munir-se de
informações sobre essa etapa da vida. Não que o envelhecimento seja necessariamente
acompanhado de perdas, nem de doenças e afastamento social, é que além de
podermos cuidar da saúde física também podemos cuidar da saúde mental para
viver com satisfação e equilíbrio essa fase da vida.
"É comum relacionar velhice
com solidão, como se fosse uma experiência obrigatória quando as pessoas ficam
mais velhas. A solidão não ocorre na velhice mais do que em outro período da
vida". Quando nos referimos à
solidão na velhice, podemos perguntar: porque na “velhice”? A solidão na
velhice seria diferente da solidão em outra fase da vida? Ao longo da vida
estamos expostos a eventos positivos e negativos que concorrem para que
possamos experimentar solidão em algum momento.
O homem é um ser um ser
essencialmente social, por isso acreditamos que a vida em grupo apresente mais
vantagem para o ser humano. No entanto, em todo o nosso curso
de vida existem diferentes formas de sentir solidão, bem como maneiras de
afastá-la ou de conviver com ela. Assim, a idade em que esse sentimento pode
ser experimentado também não é determinada.
O termo solidão é definido como o
estado de “estar só” ou a condição de “ser só”. Refere-se a um estado emocional
que inclui isolamento, tristeza, apatia, insatisfação na vida, o qual é
provocado pela ausência de contatos e relacionamentos importantes, agradáveis e
significativos. Muito mais importante do que estar fisicamente sozinha (o) é o
estado emocional de estar privada (o) de um ou vários relacionamentos que
gostaria de ter. Dessa forma, a solidão pode se caracterizar por experiências
de isolamento social, de isolamento emocional, ou ambas ao mesmo tempo. A experiência de isolamento
social significa a diminuição de relacionamentos significativos e
satisfatórios, a qualidade dos vários tipos de relacionamentos que a pessoa
pode ter, como por exemplo, relacionamentos superficiais ou íntimos, com amigos
antigos ou recentes, com colegas de trabalho, com vizinhos ou parentes. O
isolamento emocional diz respeito ao modo como as pessoas se sentem em relação
a elas mesmas, com os relacionamentos que têm.
Podemos sentir solidão emocional
por não ter pessoas com as quais se esteja emocionalmente comprometido, pela
perda de amigos íntimos ou confidentes. Entretanto, viver só, ou ser
socialmente isolado, não significa sentir solidão. Entretanto, viver só, ou ser
socialmente isolado, não significa sentir solidão e também pessoas com recursos
pessoais, psicológicos, tais como saúde - o que faz manter a autonomia e
independência - uma rede satisfatória de amigos ou o envolvimento em atividades
produtivas e de lazer também experimentam a solidão.
Cinema
A solidão é tema bastante
explorado em filmes, músicas, poemas, romances, novelas, e na filosofia, sendo
fonte de inspiração para a descrição de sentimentos. Como podemos ouvir na
música “Solidão” da cantora Sandra de Sá; na música “La Solitudine” da Laura
Pausini; e em filmes tais como: “As Pontes de Madison”, de Clint Eastwood, EUA,
1995; “Coisas que você deve dizer somente de olhar para ela” de Beth Andalaft,
EUA, 2001; e “Naufrago” de Robert Zmeckis, EUA, 2000. Refletir sobre a solidão
leva à busca das origens desse sentimento.
Filosofia
Na filosofia, a dimensão de
solidão pode-se ver em Platão, em alguns de seus Diálogos, que falam de um
certo “demônio” interior, o demônio socrático, não como uma entidade maligna,
mas uma voz que ressoa lá no fundo da gente, que sinaliza e alerta, provoca e
orienta, sendo ao mesmo tempo graça e provocação. E no livro do Pequeno
Príncipe de Saint-Exupéry, experimentando a solidão do deserto, põe-se a
repensar a vida, constatando que o essencial é invisível aos olhos. Todos nós
experimentamos, em muitos momentos da vida, esse constante ir e vir na procura
da nossa identidade como na proposto pelo filósofo Sócrates “Homem, conhece-te
a ti mesmo!”. Essa é a dimensão positiva da solidão.
Solidão pode ser positiva
Vários psicólogos têm investigado
as condições que determinam a solidão e os sentimentos das pessoas que vivem
tal circunstância. A solidão é vista por alguns estudiosos como o sentimento
que experimentamos em algum momento da vida e que o conjunto de condições da
vida moderna que estamos expostos favorecem seu aparecimento. Mudanças nos
estilos de vida podem contribuir para a solidão dos idosos.
O aumento do número de mulheres
que se tornam independentes porque trabalham e coincide com o adiamento do
casamento e a diminuição do número de filhos, maior longevidade das mulheres, a
viuvez, mudanças nos arranjos familiares, como divórcios e novos casamentos.
Por outro lado, a solidão é vista também como um momento de construção social e
como sinal de amadurecimento emocional, representando um conquista associada ao
autoconhecimento e à autoestima.
Quando vemos uma pessoa que mora
sozinha, frequentemente associamos seu estilo de vida a uma vida de solidão.
Ficar só é um fenômeno altamente complexo que envolve a capacidade que uma
pessoa tem de desenvolver esse sentimento, desde a infância e de solidificá-lo
na vida adulta. Diferentes pessoas têm diferentes caminhos de buscar sentido na
vida. Estar na companhia de outra pessoa não faz com que se deixe de estar só.
Uma pessoa que se sente solitária diz “preciso ver ou conversar com alguém”,
ela mesma pode dizer “preciso ficar sozinha para pensar ou refletir”. Isso nos
faz lembrar de um antigo provérbio “Antes só do que mal acompanhado”.
Procurar um companheiro apenas
para não ficar só ou para ter alguém a seu dispor pode às vezes acarretar mais
problemas. Escolhas erradas podem até mesmo provocar afastamento de pessoas
queridas, de familiares e dos amigos, o que aumenta as dificuldades.
Filósofos e antropólogos apontam
outras dimensões para a experiência de solidão. Para eles o exílio social, o
sentimento de abandono e rejeição refere-se à solidão negativa. O encontro
consigo mesmo, a tranqüilidade espiritual e religiosa, a introspecção e a
revisão de vida significa a solidão existencial. O isolamento para o exercício
da criatividade refere-se à solidão positiva.
Muitos artistas se dizem mais
criativos quando estão sozinhos com sua arte. A solidão crônica, patológica,
refere-se à depressão que leva o indivíduo a algo destrutivo. E a solidão
temporária é a experiência de uma transição no curso de vida, uma crise
psicossocial ou biológica temporária, como por exemplo, um desemprego, perda de
um parente, acidentes, separação conjugal, aposentadoria, saída dos filhos de
casa.
Solidão não é experiência
obrigatória na velhice
Com base nesses estudos
concluímos que não são todos os idosos que sentem solidão, embora seja comum
relacionar velhice com solidão, como se fosse uma experiência obrigatória
quando as pessoas ficam mais velhas. A solidão não ocorre na velhice mais do
que em outro período da vida. A solidão não é um estado natural e permanente
nos idosos. O impacto dos eventos de vida sobre uma pessoa depende de sua
história, de fatores de personalidade, da manutenção de contatos com os filhos,
netos e outros familiares e da existência de amigos.
Atitudes positivas em relação à
velhice podem facilitar o bem-estar psicológico nesta fase da vida. Estar
satisfeito com a própria vida e procurar desenvolver novos papéis sociais e
selecionar metas e relacionamentos de acordo com princípios pessoais, sabendo o
que lhe é mais significativo e enriquecedor ajuda a combater a solidão
negativa. Apesar de a família representar uma fonte de relacionamento seguro,
os idosos preferem contatos sociais com amigos da mesma idade.
É possível envelhecer sem solidão
e nem isolamento. Amigos, parentes, vizinhos, têm uma participação importante
na prevenção da solidão. Procurar conhecer novas pessoas, fazer novos amigos,
pode contribuir para o autoconhecimento e a autodescoberta. Envolver-se em
atividades prazerosas, sentir-se útil aumenta o senso de auto-realização. Ter a
oportunidade de transmitir conhecimentos e experiências a outras pessoas,
buscar novas aberturas de comunicação entre as pessoas, participar de grupos de
convivência, favorecendo o aprendizado, resulta em crescimento pessoal.
Caminhos
Procure conscientizar-se de seu
papel como cidadão na sociedade, reconhecer seus direitos e deveres. Investir
em si mesmo, cuidando da sua saúde física e mental, fazendo exercícios físicos
e mentais, cuidando da aparência, melhorando a auto-estima. Se adaptar às
mudanças na velhice sem isolar-se, valorizar suas capacidades e
potencialidades. Desenvolver a espiritualidade que visa à sabedoria e traz
conforto. E saber eleger prioridades, defender sua privacidade e seus pontos de
vista. Não há nada de errado em gostar às vezes de estar sozinho em alguns
momentos, desde que isso contribua para o seu bem-estar e crescimento pessoal.
(por Elisandra Vilella G. Sé)
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