Cuidado: ato ou tarefa de zelar
pelo bem-estar de alguém, prestando-lhe assistência e assumindo
responsabilidades e os encargos inerentes a estes atos.
Cuidador: pessoa que se dedica à
tarefa de cuidar, sejam familiares, voluntários ou não, que assumem esta
atividade, ou pessoas contratadas para este fim. No presente trabalho, cuidador
é definido como o principal membro da família responsável por prover
assistência ao portador de Alzheimer (Caovilla, 2002 p.164).
A fábula mito do cuidado (Boff,
1999, p: 46), favorece-nos na reflexão sobre cuidado:
Certo dia, ao atravessar um rio,
Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma idéia inspirada. Tomou um pouco
de barro e começou A dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito,
apareceu Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse
espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.
Quando, porém, Cuidado quis dar
nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto
o seu nome.
Enquanto Júpiter e Cuidado
discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à
criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então
uma discussão generalizada.
De comum acordo pediram a Saturno
que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
“Você, Júpiter, deu-lhe o
espírito; receberá, pois de volta este espírito por ocasião da morte dessa
criatura.
Você, Terra, deu-lhe o corpo;
receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.
Mas como você, Cuidado, foi quem,
por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.
E uma vez que entre vocês há
acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada
Homem, Isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.”
Percebe-se que sem cuidado nós
deixamos de ser humanos. Todos necessitam de cuidados. No inicio da vida; a
dependência dos cuidados maternos, e depois da família e dos amigos para sentir
amparo e a capacidade de enfrentar o mundo.
De acordo com Travensolo (2003),
com a chegada da velhice e das limitações físicas, necessita-se de mais
cuidados, sem significar, necessariamente, perda da autonomia, porém no caso de
portadores de Alzheimer, a perda da autonomia é progressiva.
O Cuidador entra ai com um papel
fundamental e essencial na qualidade de vida do portador de Alzheimer, em
função disso terá um tratamento especial durante a continuidade do trabalho.
CUIDADOR
Cuidador é aquele que cuida da dor. Que cuida
do outro que foi acometido por uma doença degenerativa e impiedosa, cujo alvo
não é somente o sujeito, mas todos aqueles que o cercam, em um raio bastante
amplo. E é também o que é alvejado pelas dores produzidas no ambiente familiar
pela doença de Alzheimer, tendo que suportar as exigências impostas pela
doença, pela família e por si mesmo. Franca (2004),
Cuidar de um parente idoso requer
respeito, afetividade, entendimento sobre envelhecimento e organização de
tarefas diárias que envolvem o cuidador e o idoso. Hoje, o papel do idoso na família e na
sociedade precisa ser revisto, já que nas últimas décadas o envelhecimento
populacional e o aumento da longevidade das pessoas têm acarretado alterações
nas dinâmicas familiares.(Ferrari, 1992).
O portador de Alzheimer precisa
de um cuidador, pois se torna gradativamente incapaz de realizar tarefas da
vida diária. O cuidador é uma pessoa que esta envolvida no processo de cuidar
do outro.(Ministério da Previdência e Assistência Social, 1999).
De acordo com Kepler (2003), o
cuidador surge:
1. Por
instinto: Ele (a) assume o papel motivado por impulsos inconscientes que
satisfaçam a uma necessidade de sobrevivência do indivíduo. Ex: relação mãe e
filho.
2. Por
vontade: Ele (a) é motivado por uma necessidade de satisfação das próprias
emoções através da relação com o outro. Nesse caso se refere à relação entre
familiares, podendo até ultrapassar os limites e surgir a super proteção, diante
da emotividade do cuidador.
3. Por capacidade: É aquele (a) que se prepara
tecnicamente, através de estudos, ou por experiência, por longa prática.
4. Por conjuntura: É aquele (a)
que está na situação limite. onde há falta de outra opção ou essa opção é
imposta. Nesse caso, não é através das leis da natureza, não existe afeto, é
apenas por questões políticas, econômicas ou por falta de outro cuidador
adequado. Esse cuidador atua por obrigação, comodismo ou benefício próprio. É
daí que ocorre o maior desequilíbrio da relação de cuidado, com resultados
pouco satisfatórios e cuja durabilidade depende da relação do cuidador/cuidado.
Não há afinidade, não há empatia, tornando-se difícil a convivência.
O cuidador precisa estar bem
consigo próprio, ter paciência e principalmente aceitar a situação, para saber
enfrentar a difícil tarefa que lhe foi imposta. Ele precisa estar bem
atualizado, conhecer bem os sintomas, os cuidados, as práticas, porque a pessoa
cada vez precisará dele. O cuidador deve compreender que o bem estar da pessoa
torna o dia-a-dia mais tranqüilo, transformando-o mais agradável possível para
ambos.s enfrentadas.
Existe na literatura uma atenção
considerável com a definição de Cuidador, porém, os critérios utilizados ainda
não são tão claros. Cada estudo tem seu modo próprio de caracterizar o
cuidador, como podemos verificar abaixo:
Hinrichsen & Niederehe
(1994), consideravam cuidador como o membro da família que propicia cuidados ao
paciente. Haley (1997), defini-os nos primeiros estágios da doença, como
aqueles que auxiliam o doente principalmente nas questões voltadas aos aspectos
financeiros e a administração dos medicamentos. No entanto, com o progresso da
doença, passam a se responsabilizar também pelos cuidados pessoais do paciente,
tais como dar banho, alimentar-se e vestir.
De acordo com Wanderley (1998),
há uma série de nomenclaturas usadas para designar a atividade de cuidar, porém
esta classificação tem como objetivo apresentar as multiqualificações que um
cuidador pode ter e não implica em categorias excludentes, mas complementares:
· Cuidador Remunerado – aufere rendimento
pelo exercício da atividade de cuidar;
· Cuidador Voluntário – não é remunerado;
· Cuidador Principal – tem a responsabilidade
permanente da pessoa sob o seu comando;
· Cuidador Secundário – divide, de alguma
forma, a responsabilidade do cuidado com o cuidador principal, auxiliando-o,
substituindo-o;
· Cuidador Leigo – não recebeu
qualificação específica para o exercício da atividade;
· Cuidador Familiar – tem algum parentesco
com a pessoa cuidada;
· Cuidador Terceiro – não possui qualquer
parentesco com a pessoa cuidada.
Na literatura Americana, o
cuidador é visto com um aliado da saúde. Ele é parceiro do tratamento,
acompanhando o doente e participando da promoção da saúde. Existe um
investimento da sociedade americana em assistência domiciliar, traduzido na
forma de uma rede de apoio, por meio de serviços, que dá orientação e suporte
ao trabalho do cuidador informal, ou seja, àquele que, pela sua condição
familiar ou de proximidade com o doente, assume as funções de cuidar de seu
dependente. (Karsch, 1998).
Existem também, segundo Duarte e
Diogo, (2000), três tipos de cuidador: o cuidador institucional, solicitado
pela instituição em que o idoso se encontra internado, mas contratado pela
família; o cuidador domiciliar, o contratado também pela família por sugestão
do médico que acompanha o idoso ou pela dificuldade da família em atender às
necessidades dele; o cuidador familiar, que pode ser um cônjuge, filho, ou
qualquer outro membro da família que voluntariamente ou não assumem a tarefa de
cuidar do idoso.
Luders & Storani (1999)
acrescentam que o ato de cuidar é o fato de assistir alguém ou prestar-lhe
serviços, quando ele necessita. É uma atividade complexa, com dimensões éticas,
psicológicas, sociais, demográficas e que também tem seus aspectos clínicos,
técnicos e comunitários.
De acordo com Ferretti (2002),
não é fácil mudar a imagem que temos de uma pessoa a quem amamos, conhecemos e
convivemos por muitos anos ou por toda a nossa vida. A doença de Alzheimer em
seus estágios iniciais não nos traz transformações visíveis, mas sabemos que as
mudanças ocorridas no cérebro desta pessoa fazem com que progressivamente ela
se torne uma estranha para nós. Por isso a importância do cuidador procurar
grupos de apoio e informações sobre o estágio em que o paciente se encontra,
podendo minimizar os impactos emocionais decorrentes dessa transformação.
“Não consigo compreender porque
minha mãe esta assim, ela era tão ativa e gostava de brincar com todos. Hoje
não a reconheço e não consigo aceitar que isso esteja acontecendo com ela, não
entendo muito bem a doença, só sei que a pessoa fica caduca e não se lembra que
é , onde esta e quem são as pessoas que estão por perto , isso me faz chorar
muito. (depoimento de uma cuidadora (B.F.S.), durante atendimento psicológico
no Hospital de São Paulo.).”
Talvez o impacto que atinge a
família do portador da Doença de Alzheimer (DA), não venha do diagnóstico
propriamente dito, mas sim das dificuldades que a família encontrará em lidar
com as várias mudanças que gradativamente vão se instalando na pessoa que está
doente, deixando-os perplexos e impotentes na resolução de problemas, muitas
vezes de fácil solução e com os quais esta família não se sente preparada para
lidar.
Se considerarmos, como Boss
(1998), que o processo demencial tem características de uma morte ambígua,
podemos traçar um paralelo que nos permita uma melhor compreensão da relação
dos familiares com um dos membros que demenciou.
Aceitar a realidade da perda
significa aceitar a inevitabilidade e a irreversibilidade da doença. É uma
tarefa que leva tempo porque a tendência inicial é negar o fato, distorcê-lo ou
dar-lhe outro significado, ou mesmo "esquecer-se" dele. A aceitação
envolve aspectos emocionais e não só intelectuais, e é por isso que muitas
vezes é necessária a ajuda de um profissional. Do extremo da negação, em que se
encontravam alguns cuidadores, ao extremo da entrega à dor, os familiares
precisam de suporte para reequilibrar-se e caminhar em direção às mudanças que
promovam bem-estar. (Karsh, 1998).
O não-reconhecimento da dor, bem
como a impossibilidade de elaborá-la manifesta-se por sintomas variados e
comportamentos atípicos. Estar sempre eufórico, evitar pensamentos dolorosos
são formas de não passar por essas etapas, e o preço que se paga por isso é
muitas vezes algum tipo de depressão.
O que acontece é que o cuidador
familiar não tem noção do que lhe espera, não tem noção do quanto será exigido.
Se houver uma estrutura familiar favorável, ou seja, familiares dispostos a
tomarem o papel de cuidadores deste idoso, melhor para todos e, principalmente,
para o idoso. Se, no entanto, pouco ou somente um assumir o cuidado, todos,
inclusive e principalmente o idoso, saem perdendo. Quem mais assume o papel de
cuidador são as mulheres: a esposa, a filha, a irmã, a sobrinha, a cuidadora
profissional, a enfermeira. Na grande maioria das vezes, recai sobre um membro
da família que já mora com o idoso.
A figura feminina geralmente é
vista como cuidadora, e pesquisas nacionais e internacionais mostram que na
grande maioria quem cuida é a mulher, que além de responsável pelos cuidados
com os filhos, com o marido e com o lar passam a assumir, também, o papel de
cuidadora de seus idosos total ou parcialmente dependentes (zagabria, 2001).
Segundo Silva (1995), na nossa
sociedade, é usual afirmar que cuidar é função da mulher, porque ela é
destinada, por natureza, para a vida doméstica, para ser mãe e cuidar da
família. Observa que tal naturalização é repassada de geração para geração, mas
afirma que o ato de cuidar não é natural, e, sim, produzido social e
culturalmente, de acordo com as formações sociais históricas.
O cuidado muitas vezes é
realizado também, como uma questão de obrigatoriedade. O cuidador assume, na
maioria das vezes, um papel que lhe foi imposto pela circunstância, e não por
escolha própria; apesar de, no início, também achar que esta missão
naturalmente seja sua. Assim é que, Leite (2000) verificou que, quando se trata
de filhos cuidando de pais idosos, há um entendimento de obrigação em retribuir
algo que lhes foi dado no passado, além do sentimento de responsabilidade pelos
mais velhos e doentes, que estão em situação de dependência parcial/total.
“Não me sinto preparada para
cuidar de minha mãe tenho fito isso porque ninguém quis assumir este papel, às
vezes me sinto culpada por pensar assim, amo minha mãe, mas queria dividir a
responsabilidade. Não consigo aceitar o fato dela não me reconhecer, isso me
incomoda”. Chora muito... (depoimento de uma filha cuidadora (I.S), em sua
primeira reunião no grupo de apoio, Zona Norte).
De acordo com Portela &
Bettinelli (2003), é importante que, mesmo que o cuidado ao idoso em domicílio
seja por um familiar, exista a presença e o acompanhamento da equipe de saúde,
que pode ser particular ou não.
http://www.silviahelena.psc.br
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