terça-feira, 14 de maio de 2013

O CUIDADO E O CUIDADOR



Cuidado: ato ou tarefa de zelar pelo bem-estar de alguém, prestando-lhe assistência e assumindo responsabilidades e os encargos inerentes a estes atos.
Cuidador: pessoa que se dedica à tarefa de cuidar, sejam familiares, voluntários ou não, que assumem esta atividade, ou pessoas contratadas para este fim. No presente trabalho, cuidador é definido como o principal membro da família responsável por prover assistência ao portador de Alzheimer (Caovilla, 2002 p.164).
A fábula mito do cuidado (Boff, 1999, p: 46), favorece-nos na reflexão sobre cuidado:
Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma idéia inspirada. Tomou um pouco de barro e começou A dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.
Quando, porém, Cuidado quis dar nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.
Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada.
De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
“Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.
Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.
Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.
E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, Isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.”
Percebe-se que sem cuidado nós deixamos de ser humanos. Todos necessitam de cuidados. No inicio da vida; a dependência dos cuidados maternos, e depois da família e dos amigos para sentir amparo e a capacidade de enfrentar o mundo.
De acordo com Travensolo (2003), com a chegada da velhice e das limitações físicas, necessita-se de mais cuidados, sem significar, necessariamente, perda da autonomia, porém no caso de portadores de Alzheimer, a perda da autonomia é progressiva.
O Cuidador entra ai com um papel fundamental e essencial na qualidade de vida do portador de Alzheimer, em função disso terá um tratamento especial durante a continuidade do trabalho.

CUIDADOR
 Cuidador é aquele que cuida da dor. Que cuida do outro que foi acometido por uma doença degenerativa e impiedosa, cujo alvo não é somente o sujeito, mas todos aqueles que o cercam, em um raio bastante amplo. E é também o que é alvejado pelas dores produzidas no ambiente familiar pela doença de Alzheimer, tendo que suportar as exigências impostas pela doença, pela família e por si mesmo. Franca (2004),
Cuidar de um parente idoso requer respeito, afetividade, entendimento sobre envelhecimento e organização de tarefas diárias que envolvem o cuidador e o idoso.  Hoje, o papel do idoso na família e na sociedade precisa ser revisto, já que nas últimas décadas o envelhecimento populacional e o aumento da longevidade das pessoas têm acarretado alterações nas dinâmicas familiares.(Ferrari, 1992).
O portador de Alzheimer precisa de um cuidador, pois se torna gradativamente incapaz de realizar tarefas da vida diária. O cuidador é uma pessoa que esta envolvida no processo de cuidar do outro.(Ministério da Previdência e Assistência Social, 1999).
De acordo com Kepler (2003), o cuidador surge:
1.    Por instinto: Ele (a) assume o papel motivado por impulsos inconscientes que satisfaçam a uma necessidade de sobrevivência do indivíduo. Ex: relação mãe e filho.
2.    Por vontade: Ele (a) é motivado por uma necessidade de satisfação das próprias emoções através da relação com o outro. Nesse caso se refere à relação entre familiares, podendo até ultrapassar os limites e surgir a super proteção, diante da emotividade do cuidador.
3.  Por capacidade: É aquele (a) que se prepara tecnicamente, através de estudos, ou por experiência, por longa prática.
4. Por conjuntura: É aquele (a) que está na situação limite. onde há falta de outra opção ou essa opção é imposta. Nesse caso, não é através das leis da natureza, não existe afeto, é apenas por questões políticas, econômicas ou por falta de outro cuidador adequado. Esse cuidador atua por obrigação, comodismo ou benefício próprio. É daí que ocorre o maior desequilíbrio da relação de cuidado, com resultados pouco satisfatórios e cuja durabilidade depende da relação do cuidador/cuidado. Não há afinidade, não há empatia, tornando-se difícil a convivência.

O cuidador precisa estar bem consigo próprio, ter paciência e principalmente aceitar a situação, para saber enfrentar a difícil tarefa que lhe foi imposta. Ele precisa estar bem atualizado, conhecer bem os sintomas, os cuidados, as práticas, porque a pessoa cada vez precisará dele. O cuidador deve compreender que o bem estar da pessoa torna o dia-a-dia mais tranqüilo, transformando-o mais agradável possível para ambos.s enfrentadas.
Existe na literatura uma atenção considerável com a definição de Cuidador, porém, os critérios utilizados ainda não são tão claros. Cada estudo tem seu modo próprio de caracterizar o cuidador, como podemos verificar abaixo:
Hinrichsen & Niederehe (1994), consideravam cuidador como o membro da família que propicia cuidados ao paciente. Haley (1997), defini-os nos primeiros estágios da doença, como aqueles que auxiliam o doente principalmente nas questões voltadas aos aspectos financeiros e a administração dos medicamentos. No entanto, com o progresso da doença, passam a se responsabilizar também pelos cuidados pessoais do paciente, tais como dar banho, alimentar-se e vestir.
De acordo com Wanderley (1998), há uma série de nomenclaturas usadas para designar a atividade de cuidar, porém esta classificação tem como objetivo apresentar as multiqualificações que um cuidador pode ter e não implica em categorias excludentes, mas complementares:
·       Cuidador Remunerado – aufere rendimento pelo exercício da atividade de cuidar;
·       Cuidador Voluntário – não é remunerado;
·       Cuidador Principal – tem a responsabilidade permanente da pessoa sob o seu comando;
·       Cuidador Secundário – divide, de alguma forma, a responsabilidade do cuidado com o cuidador principal, auxiliando-o, substituindo-o;
·       Cuidador Leigo – não recebeu qualificação específica para o exercício da atividade;
·       Cuidador Familiar – tem algum parentesco com a pessoa cuidada;
·       Cuidador Terceiro – não possui qualquer parentesco com a pessoa cuidada.

Na literatura Americana, o cuidador é visto com um aliado da saúde. Ele é parceiro do tratamento, acompanhando o doente e participando da promoção da saúde. Existe um investimento da sociedade americana em assistência domiciliar, traduzido na forma de uma rede de apoio, por meio de serviços, que dá orientação e suporte ao trabalho do cuidador informal, ou seja, àquele que, pela sua condição familiar ou de proximidade com o doente, assume as funções de cuidar de seu dependente. (Karsch, 1998).
Existem também, segundo Duarte e Diogo, (2000), três tipos de cuidador: o cuidador institucional, solicitado pela instituição em que o idoso se encontra internado, mas contratado pela família; o cuidador domiciliar, o contratado também pela família por sugestão do médico que acompanha o idoso ou pela dificuldade da família em atender às necessidades dele; o cuidador familiar, que pode ser um cônjuge, filho, ou qualquer outro membro da família que voluntariamente ou não assumem a tarefa de cuidar do idoso.
Luders & Storani (1999) acrescentam que o ato de cuidar é o fato de assistir alguém ou prestar-lhe serviços, quando ele necessita. É uma atividade complexa, com dimensões éticas, psicológicas, sociais, demográficas e que também tem seus aspectos clínicos, técnicos e comunitários.
De acordo com Ferretti (2002), não é fácil mudar a imagem que temos de uma pessoa a quem amamos, conhecemos e convivemos por muitos anos ou por toda a nossa vida. A doença de Alzheimer em seus estágios iniciais não nos traz transformações visíveis, mas sabemos que as mudanças ocorridas no cérebro desta pessoa fazem com que progressivamente ela se torne uma estranha para nós. Por isso a importância do cuidador procurar grupos de apoio e informações sobre o estágio em que o paciente se encontra, podendo minimizar os impactos emocionais decorrentes dessa transformação.
“Não consigo compreender porque minha mãe esta assim, ela era tão ativa e gostava de brincar com todos. Hoje não a reconheço e não consigo aceitar que isso esteja acontecendo com ela, não entendo muito bem a doença, só sei que a pessoa fica caduca e não se lembra que é , onde esta e quem são as pessoas que estão por perto , isso me faz chorar muito. (depoimento de uma cuidadora (B.F.S.), durante atendimento psicológico no Hospital de São Paulo.).”
Talvez o impacto que atinge a família do portador da Doença de Alzheimer (DA), não venha do diagnóstico propriamente dito, mas sim das dificuldades que a família encontrará em lidar com as várias mudanças que gradativamente vão se instalando na pessoa que está doente, deixando-os perplexos e impotentes na resolução de problemas, muitas vezes de fácil solução e com os quais esta família não se sente preparada para lidar.
Se considerarmos, como Boss (1998), que o processo demencial tem características de uma morte ambígua, podemos traçar um paralelo que nos permita uma melhor compreensão da relação dos familiares com um dos membros que demenciou.
Aceitar a realidade da perda significa aceitar a inevitabilidade e a irreversibilidade da doença. É uma tarefa que leva tempo porque a tendência inicial é negar o fato, distorcê-lo ou dar-lhe outro significado, ou mesmo "esquecer-se" dele. A aceitação envolve aspectos emocionais e não só intelectuais, e é por isso que muitas vezes é necessária a ajuda de um profissional. Do extremo da negação, em que se encontravam alguns cuidadores, ao extremo da entrega à dor, os familiares precisam de suporte para reequilibrar-se e caminhar em direção às mudanças que promovam bem-estar. (Karsh, 1998).
O não-reconhecimento da dor, bem como a impossibilidade de elaborá-la manifesta-se por sintomas variados e comportamentos atípicos. Estar sempre eufórico, evitar pensamentos dolorosos são formas de não passar por essas etapas, e o preço que se paga por isso é muitas vezes algum tipo de depressão.
O que acontece é que o cuidador familiar não tem noção do que lhe espera, não tem noção do quanto será exigido. Se houver uma estrutura familiar favorável, ou seja, familiares dispostos a tomarem o papel de cuidadores deste idoso, melhor para todos e, principalmente, para o idoso. Se, no entanto, pouco ou somente um assumir o cuidado, todos, inclusive e principalmente o idoso, saem perdendo. Quem mais assume o papel de cuidador são as mulheres: a esposa, a filha, a irmã, a sobrinha, a cuidadora profissional, a enfermeira. Na grande maioria das vezes, recai sobre um membro da família que já mora com o idoso.
A figura feminina geralmente é vista como cuidadora, e pesquisas nacionais e internacionais mostram que na grande maioria quem cuida é a mulher, que além de responsável pelos cuidados com os filhos, com o marido e com o lar passam a assumir, também, o papel de cuidadora de seus idosos total ou parcialmente dependentes (zagabria, 2001).
Segundo Silva (1995), na nossa sociedade, é usual afirmar que cuidar é função da mulher, porque ela é destinada, por natureza, para a vida doméstica, para ser mãe e cuidar da família. Observa que tal naturalização é repassada de geração para geração, mas afirma que o ato de cuidar não é natural, e, sim, produzido social e culturalmente, de acordo com as formações sociais históricas.
O cuidado muitas vezes é realizado também, como uma questão de obrigatoriedade. O cuidador assume, na maioria das vezes, um papel que lhe foi imposto pela circunstância, e não por escolha própria; apesar de, no início, também achar que esta missão naturalmente seja sua. Assim é que, Leite (2000) verificou que, quando se trata de filhos cuidando de pais idosos, há um entendimento de obrigação em retribuir algo que lhes foi dado no passado, além do sentimento de responsabilidade pelos mais velhos e doentes, que estão em situação de dependência parcial/total.
“Não me sinto preparada para cuidar de minha mãe tenho fito isso porque ninguém quis assumir este papel, às vezes me sinto culpada por pensar assim, amo minha mãe, mas queria dividir a responsabilidade. Não consigo aceitar o fato dela não me reconhecer, isso me incomoda”. Chora muito... (depoimento de uma filha cuidadora (I.S), em sua primeira reunião no grupo de apoio, Zona Norte).
De acordo com Portela & Bettinelli (2003), é importante que, mesmo que o cuidado ao idoso em domicílio seja por um familiar, exista a presença e o acompanhamento da equipe de saúde, que pode ser particular ou não.
http://www.silviahelena.psc.br

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