Toda doença traz sua carga de sofrimento, não só para o doente como
para a própria família. Mas, segundo os especialistas, poucas trazem
tanto sofrimento para todos quando o mal de Alzheimer, a forma mais
comum de demência senil. Ela não tem cura, e a grande maioria é tratada
em casa. O idoso vai perdendo a consciência de si mesmo e do mundo,
sofre mudanças drásticas com comportamento, como surtos de
agressividade, enfrenta alucinações e aos poucos vai se "esvaziando"
como pessoa: ao longo do processo, torna-se incapaz de interagir com a
realidade em volta. Este processo de verdadeira deteriorização pode
durar até 20 anos. E a família é obrigada a conviver com a perda sem
nenhuma possibilidade de ajuda ao doente, com exceção de alguns
medicamentos que diminuem muito pouco os sintomas.
Uma das saídas que surgiram nos últimos anos é a criação de grupos de
apoio aos familiares, incentivados pela Abraz (Associação Brasileira de
Alzheimer). A Folha de São Paulo trouxe recentemente uma matéria
interessante sobre o problema, com depoimentos de dois profissionais que
buscam ajudar a família a aceitar a dor desta perda gradual e
irreversível.
Uma dela é a psicóloga Rosilene Alves de Souza Lima, que coordena um
grupo em São Paulo. Ela conta que já viu muitos cuidadores adoecerem e
morrerem antes do paciente, incapazes de suportar o estresse. "A única
coisa que a família tem na mão é o cuidado, mas o Alzheimer vai
progredir independentemente do que se faça. Se o cuidador parar de
viver, não vai mudar o estado do paciente." diz a psicóloga. "A demência
traz muitos acertos de contas. Envolve os familiares não só nos
aspectos operacionais, de levar aos médicos, trocar roupas, dar banho. É
preciso lidar com a culpa, a frustração, a irritação". Os grupos de
apoio permitem a troca de informações entre pessoas que vivem o mesmo
problema, em que estão envolvidas desde questões práticas, sobre como
lidar com um paciente que se recusa a comer, até os desafios emocionais.
A reportagem da Folha trouxe ainda uma entrevista com o médico e
psicólogo Edoardo Giusti, autor do livro "Alzheimer -Cuidados Clínicos e
Aconselhamento Familiar". Abaixo, algumas das palavras do especialista.
"Os familiares podem tornar a vida do doente mais suportável,
se tiverem paciência e forem acolhedores e afetivos. Mas, o Alzheimer é
degenerativo e até agora, embora as pesquisas tenham feito algum
progresso, não há nada que possa mudar o curso da doença."
"A
deterioração das faculdades cognitivas gera, nos estágios mais graves, o
esfacelamento psíquico. É um processo involutivo irreversível. A
família deve receber orientação para compreender melhor a gravidade do
estado demencial, para poder distinguir a presença dos vários distúrbios
que podem atingir cada indivíduo. O tratamento não farmacológico é útil
para ajudar a controlar a doença e tornar a vida do doente menos
difícil e mais digna. Para ser eficaz, é preciso apoio afetivo e que os
cuidadores aceitem a condição do paciente."
"É muito comum a
pessoa negar a doença. Os familiares precisam ser insistentes, firmes,
mas nunca agressivos. Essa é a parte mais difícil. Um meio negativo e
familiares que não aceitam a doença causam sofrimento emocional para o
paciente, mas isso pode não fazer diferença no aumento das lesões.
Quando não há condições de assistir ao doente e à sua família, a
internação pode ser mais adequada."
http://previa.vitrinedigital.net/
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