Quando o francês Antoine de
Saint-Exupéry escreveu esta frase em “O Pequeno Príncipe” ele levantou uma das
mais importantes reflexões que se arrastaria pelos séculos afora e que iria
fazer com que a humanidade se indagasse sobre si própria. Esta célebre frase
abre importante reflexão acerca das diferenças entre a essência e a aparência.
Existe enorme diferença, um abismo, enfim, uma profunda distância entre “ver” e
“enxergar”.
Esta frase que já nasceu com toda sua
contemporaneidade, se torna ainda mais atual nos tempos presentes. Nos tempos
onde o homem cria desejos e necessidades artificiais e se esquece,
definitivamente, dos valores e das necessidades reais. Nesses tempos de hoje,
nesta sociedade, o homem anula a realidade e iguala, de forma altamente cruel,
a essência à aparência. Isto nos leva a buscar, outra vez, as reflexões
contidas na frase de Saint-Exupéry: o que significa “ver” e o que significa
“enxergar” o mundo e as coisas do mundo? Para que serve a vida se estamos sendo
moldados para jamais buscar a nossa essência no mundo? Para que serve a vida,
afinal, se estamos sendo moldados para nos contentarmos com a aparência do
mundo e das coisas do mundo, aparência construída por poucos e que está
totalmente distante de nossa verdadeira essência? Querem nos fazer crer que a
essência de uns poucos tem que servir para muitos. Querem transformar a
verdadeira essência do homem em aparência, em coisas, é a coisificação do
homem, do mundo, da vida.
Por isso, o simples ato de “ver” está
totalmente distante do nobre ato de “enxergar”. “Ver” o mundo e as coisas do
mundo é simplesmente se contentar em admirar, é se estagnar na tranquila
postura de observar o mundo apenas em sua aparência, recusando-se a buscar sua
essência. Já o ato de “enxergar” o mundo é procurar por sua significação, é
fugir da cômoda postura de simples admirador. É procurar, constantemente, por
sua verdadeira função, seu real papel no mundo e, não simplesmente se contentar
em admirá-lo. É também procurar a sua própria significação no “outro” que
também compartilha contigo este mundo e as coisas do mundo. Qual é a sua
relação com o outro neste mundo? Qual é a significação de termos a capacidade
de raciocínio, de criação dentro deste mundo? Para que serve esta capacidade
superior? Serve apenas para admirar o mundo e as suas coisas? Ou, será que
serve para atuarmos neste mundo buscando, incessantemente, transformá-lo?
Diante da nossa sublime capacidade de compreensão, de criação, de
transformação, o simples dom da observação mecânica, estática, perde totalmente
o sentido. Por isso, o “pequeno príncipe” jamais se abdicava de suas
interrogações. Por isso, ele jamais desistia de buscar suas respostas. Ele não
se contentava com o simples ato mecânico de “ver” o mundo, ele queria
“enxergar” o mundo. Ele jamais se contentava com a mera aparência, ele sempre
perseguia a busca da verdadeira essência de estar, de existir neste mundo.
Assim, Saint-Exupéry, num texto que
muitos afirmam ter sido feito para a infância, nos mostra de maneira altamente
adulta que a aparência não passa do simples indício da existência de uma real
essência. Que o dom de “ver” o mundo nos indica que é necessário evoluirmos
para a sublime condição de “enxergar” o mundo, buscando, incansavelmente sua
transformação. Aí, nos indica que devemos abominar as afirmações como “se
nascemos assim é porque assim deve ser”, ou “as coisas sempre foram assim”. São
posturas como essas que transmitem a alguns poucos a sensação de que podem
moldar a grande maioria, de que podem criar desejos, necessidades segundo sua
própria vontade. São posturas como essas que fazem com que poucos se sintam no
direito de criar aparências segundo sua medíocre essência [agora sem aspas].
Por fim, meu caro (a) leitor (a), o que mais existe neste mundo são pessoas que
possuem os olhos perfeitos, uma visão incrivelmente perfeita, porém, não são
capazes de enxergar absolutamente nada.
(http://www.jmonline.com.br/)
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