"Um dia em um Hospital
Psiquiátrico em Botafogo uma mulher abatida e claramente cansada leva sua mãe,
uma senhora que já beirava os 90 anos, para uma consulta.
Ela diz ao Doutor:
Minha mãe está muito idosa, não
consegue andar sem minha ajuda, não pode ir ao banheiro sozinha, não tem mais o
menor controle sobre nada e depende de mim até para comer. Ela não se comporta
bem com cuidadores e quer minha ajuda, mas estamos nessa situação há dois anos
e preciso cuidar da minha vida e não consigo. Os médicos dizem que ela não tem
nenhuma doença grave, é apenas velhice e precisa desses cuidados. O que eu faço
você pode falar e tentar tratar ela? Quero minha vida de volta, estou
desesperada.
Ouvindo tudo que ela tem a dizer,
o psiquiatra responde:
Senhora, desde o dia que você
nasceu até, no mínimo, seus 12 anos de idade você dependia da sua mãe pra quase
tudo. Passou pela fase de não conseguir se limpar sozinha, precisava dela para
amamentar, comer, foram várias noites de sono pra cuidar de você chorando,
tratou e sofreu junto de suas doenças. Avisou sobre os meninos ruins, deu
conselhos nos seus primeiros amores eternos, estava lá para aplaudir as
vitórias e te acolher nas derrotas. Foi ela que te protegeu e deu amor
incondicional quando você mais precisou, abrindo mão da vida dela para formar e
educar você.
Você está passando por essa
situação há dois anos? Então agradeça por ela estar viva, e que bom que você
está tendo a oportunidade de devolver um pouco do que ela fez por você durante
esse tempo. É bom lembrar que você ainda está devendo pelo menos 10 anos de
cuidados e se esse tempo passar, a gente volta a conversar"
OS PAIS DEPENDENTES DOS FILHOS
Dependência significa um estado
em que a pessoa é incapaz de existir ou funcionar de maneira satisfatória sem a
ajuda de outrem (Neri, 1995). Manifesta-se na necessidade que as crianças têm
dos adultos, os adultos de outros adultos e os adultos dos filhos. A natureza
da dependência transforma-se ao longo do curso de vida e, no caso da velhice, a
dependência é decorrente das mudanças das exigências psicológicas e sociais (Neri,
1995), bem como de mudanças biológicas, entre estas, o aparecimento de doenças degenerativas.
Do ponto de vista das mudanças
das exigências sociais que levam à perda da autonomia na velhice, temos a perda
do trabalho e aposentadoria que, muitas vezes, leva à dependência. Neste caso,
os filhos, a família ou o Estado assumem o papel de pais. A incapacidade física
para desempenhar atividades da vida diária pode variar de grau, produzindo diferentes
resultados na dependência do idoso. Inicialmente, o paciente sente-se
fragilizado mentalmente e impotente para enfrentar sua doença. Dentro deste contexto,
constatamos o papel das relações mãe-filha. Depois de ter sido filha de sua
mãe, mais tarde, a mãe de seus filhos tornar-se-á a mãe de sua mãe. Depen- dendo
da qualidade das suas relações ao longo da vida, nesta última etapa, os
sentimentos predominantes po- dem ser conflitantes e cheios de culpa
(Krassoievitch, 1988).
Considerando que a perda da
autonomia é uma das características proeminentes na Doença da Alzheimer, a
família e, principalmente, o familiar cuidador/a torna-se o principal apoio
para auxiliar na manutenção da identidade e autonomia do idoso enfermo
neuro-psiquicamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário