Lidar
com um uma pessoa que sofra da doença de Alzheimer não é fácil e por vezes até
se torna constrangedor – afinal de contas, como falar com uma pessoa que parece
viver exclusivamente no passado e que pode vir a ter cada vez mais problemas de
comunicação?
Sempre que falar com uma pessoa que sofra
da doença de Alzheimer deve fazê-lo de forma calma e tranquila – evite pressas.
Por outro lado, as frases devem ser curtas, claras e diretas para facilitar a
compreensão por parte do doente. Evite utilizar a palavra “não”, principalmente
no início de uma frase, uma vez que os doentes com Alzheimer muitas vezes não
registam as primeiras palavras de uma frase, ou seja, “não te sentes aí” pode
ser entendido como “senta-te aí”.
Sempre que falar com um doente com
Alzheimer, evite forçá-lo a reconhecê-lo a si ou às outras pessoas que possam
estar presentes – o mesmo aplica-se a eventos ou incidências recentes. Por
outro lado, também não se deve deixar levar pelas questões incessantes e
repetitivas que a pessoa pode fazer-lhe, opte antes por mudar o tema de
conversa para um assunto sobre o qual sabe que o doente goste de falar.
Quando fala com um doente com Alzheimer
deve ter cuidado com a sua própria linguagem corporal, ou seja, a posição dos
braços e mãos, sorrir exageradamente ou não o suficiente. Evite falar muito
alto ou gritar com a pessoa – nem todos os idosos ouvem mal! Gestos e tons de
voz excessivos podem assustar uma pessoa com Alzheimer.
A doença de Alzheimer é irreversível e quem
dela sofre irá perder, progressivamente, a sua memória de curto prazo,
prevalecendo a memória de longo prazo. Por isso, e para assegurar a comunicação
com a pessoa, quem fala com ela deve adaptar-se a esta nova realidade – apesar de
isso implicar conversas sobre coisas que aconteceram há 30 anos atrás (e sobre
as quais pode ou não ter conhecimento), terá a vantagem de manter o doente
alerto e comunicativo.
No que toca aos doentes com Alzheimer, o
mais importante é mesmo conversar – o assunto é completamente secundário. Para
manter uma conversa com uma pessoa que sofra de Alzheimer busque inspiração
naquilo que vos rodeia: comentem o que está a dar na televisão, as pessoas que
estão a passar na rua ou assuntos em que a pessoa sempre teve grande interesse.
Por vezes, a pessoa com Alzheimer quer apenas ouvir uma voz amiga – leia para
ela um livro, revista ou jornal em voz alta.
Para além de falar, existem inúmeras outras
maneiras de comunicar com um doente com Alzheimer, principalmente se este já
apresenta dificuldades em formular frases completas ou se já deixou mesmo de
falar. Um abraço forte, segurar-lhe a mão, um carinho nas costas, um sorriso ou
piscar de olhos podem valer mais de mil palavras.
Comunicar com um doente com Alzheimer é
também estar atento à sua linguagem corporal e expressões faciais: gostam de
ser tocados? Apreciam ouvir música? Estão contentes sentados no sofá a folhear
revistas? Gostam de passar horas à janela a ver quem passa ou precisam de
companhia física?
Tão importante como a forma com que se fala
com um doente com Alzheimer, é a forma como se aborda a pessoa. A confusão e a
agitação são outros sintomas desta doença e, por isso mesmo, deve abordar um
doente com Alzheimer sempre de forma tranquila e gentil. No entanto, evite
aparecer-lhe de lado, ou seja, a abordagem deve ser feita de frente, para que a
pessoa não se assuste.
A doença de Alzheimer também é
caracterizada por comportamentos agressivos e até violentos – algo que pode ser
despoletado pela forma como fala com a pessoa ou se a assustou de alguma
maneira. Por vezes, o doente pode gritar, chorar, tentar bater ou até fugir e
estas são reações que podem tornar-se normais. Não leve estes comportamentos a
peito (afinal é a doença a falar e não o doente), nem tente falar (ou pior,
gritar) para tentar acalmar a pessoa – o mais certo é inflamar ainda mais a
situação. Deixe que a pessoa se acalme por si só antes de voltar a falar com
ela.
Uma das maiores tristezas relacionadas com
a convivência com um doente com Alzheimer é o facto de a pessoa deixar de
reconhecer quem os rodeia, mesmo que seja um marido, filho ou neto. É triste,
mas é assim mesmo e não há volta a dar. Por isso mesmo, sempre que falar com
uma pessoa com Alzheimer identifique-se, ou seja, diga o seu nome e quem é.
Infelizmente, muitos doentes com Alzheimer deixam mesmo de perceber o que
significa “irmã”, “tia” ou “vizinha”, e nesses casos é melhor limitar-se ao
nome apenas.
Se não desejar falar com ele, não obrigue
nenhum familiar que não se sinta confortável na presença do doente com
Alzheimer a fazê-lo, porque a própria pessoa pode pressentir tudo isso. Da
mesma maneira que não deve falar sobre o doente a terceiros, na presença do
próprio – podem sofrer de perda de memória, ter dificuldade em comunicar, mas
não em compreender.
Aproveite bem cada momento que passa com o
doente com Alzheimer, seja a conversar ou em silêncio, esteja presente e mostre
isso à outra pessoa. Vão surgir momentos em que o doente vai lembrar-se
realmente de alguma coisa especial e são essas as recordações que deve guardar
para sempre.
http://cuidamos.com/artigos/como-falar-com-alguem-que-sofra-doenca-alzheimer
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