Como é complicado escolher alguma
coisa para falar do meu filho, eu não o reconheço mais!
Cada vez que cito seu nome, que
olho para aquele rosto lindo, as impressões fabulosas que vi quando nasceu não
me recordo mais.
Hoje me sinto tão pequena... tão
criança... ... Hoje uma criança precisando de colo, uma criança querendo mais
um carinho, mais uma proteção, mais um apoio, hoje digo palavras desconexas, ás
vezes sou irriquieta, teimosa, me deprimo, agrido verbalmente por não saber
exatamente o que acontece comigo, com a confusão que a doença de Alzheimer me
atinge.
Recordo-me com dificuldades de
raríssimas coisas, apenas de uns momentos que você filho era tratado por mim e
hoje eu sou por você.
Embora sofra as amarguras da
doença sei que não existe colo que proteja mais, palavras que abençoem melhor
nem abraço mais carinhoso que recebo de você que renuncia muitas vezes á
própria vida para me dar um remédio que ás vezes cuspo fora, você que me dá um
coberto que eu teimo em não aceitar, você filho que me ensaboa , troca minhas
fraldas , me leva ao banheiro, me perfuma, e eu confusa ainda gemendo, ás vezes
gritando, não entendo que é uma forma de ser amada.
Como a doença me fez perder a
lógica de eu ser a mãe, eu quem deveria cuidar, mas hoje sou cuidada e
respeitada, embora não tenha mais noção do que seja ao menos tolerar.
Perdi minha razão, meus
pensamentos ficam assombrados por fantasmas que eu insisto em acreditar.
Um dia os conselhos que dava á
você meu filho era tão certeiro, e eu pensava que sabia o que era melhor para
você e recordo que mesmo contrariado você acabava aceitando.
Eu era a primeira pessoa que você
corria e contava os seus segredos, quando tudo dava errado eu o ouvia, algumas
vezes ficava brava, outras eu orava silenciosamente por você.
Quantas vezes você chegava
pertinho e mesmo sem uma palavra, sentia os seus problemas..
Eu amei, ensinei, errei, acertei,
vi meu corpo se transformar ao aguardá-lo, me dediquei alegre e integralmente,
nas suas fases de criança até á adolescência e á idade adulta, o que pesa é que
eu agora: virei a criança.
Se tenho netos não me lembro, nem
ao menos os reconheço, perdi na lembrança, até meu endereço, cidade em que
nasci, país em que vivo, nomes dos entes que compunham minha família, nem sei
nem mesmo quem é minha vizinha, meu irmão, se é que tenho algum,, desculpa meu
filho mas nem seu nome eu me recordo.
Estes remédios que eu você me dá,
as orações que você me envia secretamente e com lágrimas nos olhos, esta sua
dedicação que me vem tão desapercebida, tão distante,, tão confusamente, mas
parece que são para mim, para você.
Agora me perdoe não sei como
retribuir, por isto que ás vezes te irrito, estou revestida numa mente muito
distante de mim, do que eu era, do que eu queria que fosse.
Hoje você se tornou meu pai, pai
de sua própria mãe e dedica muitas horas de sua vida á minha .
São as propostas de Jesus em
nossa vida, me perdoe por tudo, tudo passa, mas acredite nada é em vão e meu
olhar embora perdido e minhas pupilas abandonadas , encontra o seu olhar firme,
amado e abençoado.
Muito obrigado filho meu, Deus te
conserve na palma de sua mão.
http://alzheimernafamilia.blogspot.com.br/
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