Vive-se cada vez mais. Cada vez mais
pessoas tornam-se dependentes de outras, seja por doenças e suas
consequências, seja por limitações impostas pelo envelhecimento. O
aumento da longevidade entre nós traz junto o aumento no número de
cuidadores familiares. São pessoas da família que se encarregam de
prover e gerenciar todas as necessidades de quem se tornou dependente.
A equipe de saúde poderia ater-se a
essas necessidades: o cuidador deveria prover todas as soluções
identificadas e essa tarefa é dele. O cuidador lida com tensões de sua
própria existência além das que decorrem da condição de quem ele cuida. É
preciso administrar cuidados, tratamentos, profissionais, lidar com
hospitais, clínicas e serviços, planos de saúde, assuntos financeiros e
burocráticos e com outros componentes da família. Não é pouco nem é
fácil. O cuidador submetido a tensões fortes fica mais suscetível a
traumas e doenças.
Quem cuida do cuidador? Problema dele?
O Journal of General Internal Medicine publicou na edição online de 9
de janeiro deste ano diretrizes éticas destinadas à relação
paciente-médico-cuidador. Foram elaboradas pelo American College of
Physicians, o Colégio Americano de Médicos, com apoio de 10 outras
entidades médicas.
A proposta é elevar a atenção dos médicos para a importância e
complexidade desta relação. Há muitas recomendações. Sugere que o
respeito aos valores e crenças, direitos e dignidade do paciente devam
nortear todas as interações com ele. A privacidade do paciente deve ser
respeitada. A quantidade da participação do cuidador em encontros
clínicos deve ser decidida pelo paciente, bem como o grau de informação
que ele permite compartilhar, a não ser que suas limitações o impeçam.
Respeitados esses limites, o cuidador deve conhecer toda informação
disponível, inclusive de prognóstico, para planejar ações que conduzam
ao melhor resultado possível. A disponibilidade do médico para as
necessidades de paciente e cuidador é estimulada. O médico deve validar
sempre o papel do cuidador familiar e dos compromissos que este haja
assumido para obter o melhor manejo possível do paciente. Deve estar
atento ao excesso de tensão no cuidador e ajudá-lo a encontrar soluções e
busca de cuidados para ele mesmo quando for o caso. Impõe-se preservar a
qualidade de vida de ambos, cuidador e cuidado. É necessária muita
atenção ao cuidador de doentes terminais na fase que precede a perda, e
as consequências emocionais causadas por essa perda quando se aproxima
ou após a morte.
Recomenda-se atenção especial para cuidadores distantes, e com os que
são profissionais de saúde, para que disponham dos recursos adequados
de serviços, suporte e referências. Não é incomum cuidadores que não
moram na mesma casa que o paciente, e muitas vezes nem mesmo na mesma
cidade. Quando o cuidador é profissional da área da saúde deve ser
fornecido apoio para não ser levado a exercer papel de profissional nos
cuidados de seu familiar, preservando-o desta sobrecarga indesejável.
Estima-se que nos Estados Unidos existam atualmente 30 milhões de
cuidadores familiares. Não se dispõe de estimativas de quantos são entre
nós, mas não são poucos. Temos que incluí-los em nossos cuidados. (Flavio José Kanter). http://materiaespecializada.blogspot.com.br/2013/04/quem-cuida-do-cuidador.html
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