sábado, 25 de maio de 2013

CRÔNICAS DE ALZHEIMER

Passava a vida a recordar o passado. Hoje, nem minha casa reconheço. Tudo diferente. Meus filhos não reconheço mais, nem minha esposa. Que mal é esse que arrebata a minha memória?

Vejo-me perdido! Não reconheço nada e nem minha face no espelho. Não sou este velho que se apresenta! Meu Deus! Que está acontecendo comigo? Quem são estas pessoas?

Só sei que esta casa não é minha e estes que se dizem filhos não são meus. Esta que diz ser esposa não é minha mulher! Quem é? Ou melhor: quem são estes? Passo a clamar por uma resposta: quem sou? Que dia é hoje? Em que ano estou vivendo? Por que tomo remédios?

Não sei, devo estar doente! Boa pergunta, mas que mal é este que trai a minha memória? Estas pessoas estranhas, com sorrisos meramente falsos... Na realidade, onde estou? Preciso de ajuda, vejo-me andando pra lá e pra cá.

Agora encontro-me em uma casa que chamam de repouso. Cheia de gente igual a mim, segurando uma bengala ou em cadeiras de rodas. Ou em cima de uma cama, quase mortas. Por que vim parar aqui? Onde estão aqueles que diziam que me amavam? (Amandio Sales)

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