Passava a vida a recordar o passado. Hoje, nem minha casa
reconheço. Tudo diferente. Meus filhos não reconheço mais, nem minha esposa.
Que mal é esse que arrebata a minha memória?
Vejo-me perdido! Não reconheço nada e nem minha face no
espelho. Não sou este velho que se apresenta! Meu Deus! Que está acontecendo
comigo? Quem são estas pessoas?
Só sei que esta casa não é minha e estes que se dizem filhos
não são meus. Esta que diz ser esposa não é minha mulher! Quem é? Ou melhor:
quem são estes? Passo a clamar por uma resposta: quem sou? Que dia é hoje? Em
que ano estou vivendo? Por que tomo remédios?
Não sei, devo estar doente! Boa pergunta, mas que mal é este
que trai a minha memória? Estas pessoas estranhas, com sorrisos meramente
falsos... Na realidade, onde estou? Preciso de ajuda, vejo-me andando pra lá e
pra cá.
Agora encontro-me em uma casa que chamam de repouso. Cheia
de gente igual a mim, segurando uma bengala ou em cadeiras de rodas. Ou em cima
de uma cama, quase mortas. Por que vim parar aqui? Onde estão aqueles que
diziam que me amavam? (Amandio Sales)
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