As marcas das pegadas vazias no
tapete peludo ao lado da cama evidenciavam o nascer do sol. Ao cantar do galo,
Noah desperta, coloca seus óculos e toma os dois comprimidos amanhecidos
deixados ao lado de um copo com água. Apoiando-se em sua bengala, vai até o
espelho, passa a mão em seus cabelos brancos e ralos que mal preenchem um
pequeno pente, caminha até a cozinha, ignorando o choro da madeira sob seus
pés. Coloca a água na chaleira e prepara o café da manhã para dois.
Sentiu o aroma forte do café
recém feito, e a imagem de seus olhos azuis e seus óculos de hastes leves veio
a sua mente, seus cabelos pretos e seu perfume fresco faziam sintonia com o som
doce do seu riso. Hoje, aqueles mesmos olhos azuis eram vistos cercados por
rugas, mas o sorriso ainda era o mesmo.
-Bom dia, querida! Já preparei
seu café, aqui está o seu remédio!
Rose senta-se desconfortável no
velho banco de madeira encostado na porta:
- Quem é você? O que você esta
fazendo na minha casa?
- Sou eu meu amor, o Noah, seu
marido, lembra-se? Nós moramos aqui há 54 anos, desde que nos casamos. Você se
esqueceu de novo de mim, não é? Não tem problema, meu bem, tome seu café, está
quentinho ainda, eu acabei de fazer!
- Não vou tomar esse remédio! Eu
não conheço você! Não vou tomar!
- Você precisa tomar, isso faz
com que você se sinta melhor.
Rose com as mãos trêmulas e
enrugadas pega um dos comprimidos e engole com má vontade.
- Mas, mas, desde quando nós nos
conhecemos? Eu nããão, ãn, me lembro de você.
- Ah querida, você anda meio
esquecida, mas é normal. Eu esqueço algumas coisas às vezes também. Nós nos
conhecemos na faculdade, lembra-se? Temos quatro filhos, lindos, e duas
netinhas do nosso filho mais velho, Mark, esta se recordando?
- Ahhh ta. Acho que estou me
lembrando.
- Olha essa foto, essa é a nossa
família! E essa é a foto do dia em que nos casamos, nós estávamos tão felizes!
Olha só como éramos bonitos, vivemos muitos momentos felizes aqui no chalé, ele
envelheceu junto com a gente, não é minha velha?! Olha só, até o galo não canta
mais igual. É meu bem, o tempo passa… Olha, já preparei o seu banho, vou me
vestir enquanto você toma seu café.
- Tudo bem. Obrigada querido.
Depois de alguns minutos, Noah
volta e encontra Rose sentada no mesmo lugar.
- O que foi querida? Já tomou seu
banho?
- Não. Eu esqueci. Querida? Quem
é você, e por que esta me mandando tomar banho?
- Meu amor, sou eu, o Noah, seu
marido. Você anda meio esquecida. Termina o seu café, eu vou te levar até a
banheira.
O Mal de Alzheimer é uma doença
degenerativa comum em pessoas idosas. É a principal causa de demência em
pessoas com mais de 60 anos no Brasil, duas vezes mais comum que a demência
vascular, sendo que em 15% dos casos, eles ocorrem simultaneamente. Atinge 1%
dos idosos entre 65 e 70 anos, mas sua prevalência aumenta exponencialmente com
os anos sendo de 6% aos 70, 30% aos 80 anos e mais de 60% depois dos 90 anos.
Com o avançar da doença vão
aparecendo novos sintomas como confusão mental, irritabilidade e agressividade,
alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e o
paciente começa a desligar-se da realidade. Muitas pessoas não têm paciência e
acabam abandonando ou ignorando os portadores desta doença e muitos caem no
esquecimento dos familiares. (Publicado em 25/10/2011 por Bruna Novaes).
http://novashistorias.wordpress.com/
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