Venho por este meio dar a
conhecer o meu testemunho que é mais um desabafo, desabafo esse, que não
consigo partilhar com as pessoas de que gosto por ficar com a voz embargada de
emoção, com uma dor no peito e uma angústia enorme de estar a perder um ser
maravilhoso, que me deu a vida – a minha mãe.
A minha querida mãe era uma
pessoa cheia de vida, lutou e trabalhou muito para criar onze filhos. Ela
passou pelos desgostos mais fortes que uma mulher pode passar (perdeu cinco
filhos, todos por volta dos três anos de idade). Muitas vezes deixou de comer
para não nos faltar comida e a verdade é que nunca passámos fome, graças à
minha mãe. Hoje, somos todos adultos responsáveis e com respeito pelo próximo,
graças a ela. Estou a contar-lhes um pouco da sua vida para lhes dizer que a
minha mãe não merecia este fim de vida. Tudo começou há 9 anos, quando teve uma
pneumonia grave. O médico que a atendeu virou-se para mim e disse: “a sua mãe
está com pneumonia, mas não é só… Sofre, também, de demência”. Fiquei um pouco
chocada, mas nunca associei essa demência à doença de Alzheimer. Andámos de
médico em médico, desde a clínica geral ao cardiologista, e foi este último que
disse: a doença da sua mãe é do foro neurológico e aconselhou-me um
neurologista, o Dr. A. M. que me deu a notícia mais triste da minha vida, que
por sinal já é uma vida de quase 40 anos. Ele, com toda a calma que lhe é
característica, olhou-me bem e disse: a sua mãe tem doença de Alzheimer. Tudo
isto aconteceu há seis anos, três anos depois de andar de médico em médico.
Estes seis anos têm sido de
sofrimento para ela e para mim que cuido da minha mãe, noite e dia. Nos
primeiros anos foi muito difícil entender as mudanças de humor, as agitações,
os choros, as constantes perguntas sobre a mesma coisa, etc… Eu faço costura e
tive que esconder as tesouras porque a minha mãe pegava nelas e ameaçava quem a
contrariasse. Nessa altura, a minha filha tinha um ano de vida e estava a dar
os seus primeiros passos. Ela nunca levantou a voz à minha filha, nem mesmo
nessa altura, o pior momento da vida dela. Essa fase já passou e hoje é uma
velhinha de 76 anos, muito amorosa. Acho e acredito que para além da medicação
e o cuidado que tenho com ela, a neta veio ajudá-la, em muito, a ultrapassar as
fases mais críticas da sua doença. Além da doença de Alzheimer, sofre também de
Parkinson. A minha filha tem agora 4 anos e adora-a. A minha mãe já não
consegue comer sozinha, já usa fraldas, mas ainda consigo levá-la à casa de
banho, com muito sacrifício, porque já mal mexe os pés… Às vezes quase que a
levo ao colo. No entanto, com tudo isto, ainda tem momentos de lucidez, ainda
me dá carinho e beijos e abraços à neta. São estes pequenos, grandes gestos que
me dão força para continuar. O que é mais triste e agoniante nesta fase é ver o
seu corpo a deformar-se, a cada dia que passa, pois por mais que se alimente
bem, emagrece de dia para dia. Mesmo assim, vale a pena cuidarmos dos nossos
velhos no seu próprio lar, junto da família e, principalmente, dos netos que
estão cheios de energia para “puxar” por eles. Só espero que Deus me dê saúde
para continuar a cuidar dela até ao fim da sua vida. Da minha relação com a
minha mãe só lamento uma coisa. Antes de ter a doença de Alzheimer, nunca lhe
disse: “Amo-te Mãe!”
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