" Conviver com um doente de Alzheimer não é nada fácil. Minha experiência é com minha mãe, que sempre foi uma mulher guerreira, cuidou de tudo e de todos, extremamente ativa e inteligente e que, aos 55 anos de idade, teve o diagnóstico de Alzheimer.
Há aproximadamente 06 anos começamos a perceber falhas de memória um pouco além do que a “normal” (aquela que todos nós temos).Consultamos diversos médicos para entender do
que se tratava e a conclusão era a de estresse pós-traumático, pois eu
havia recém me submetido a um transplante de coração. Ela iniciou
tratamento com antidepressivos mas nenhum deles deu resultado. As falhas de memória aumentaram, ela já não lembrava o caminho para chegar aos locais que frequentou a vida inteira. Frequentemente ela batia o carro, estacionava em
um lugar e não lembrava mais onde havia sido, um dia chamamos a polícia
por achar que o carro havia sido roubado. Algo não estava bem, ela estava mudada. Voltamos
a procurar neurologistas, até que um dia tive a indicação de uma
neurologista que havia chego a Curitiba e era especialista em Alzheimer.
Já na primeira consulta ela diagnosticou como
uma possível demência, solicitou exames e prescreveu outra linha de
antidepressivo. Os exames mostraram a demência e iniciamos o tratamento
para o Alzheimer. Por mais que façamos o tratamento completo a doença é ingrata e avança. No caso dela o avanço é mais rápido, pois em
pacientes jovens a doença é veloz e os médicos ainda não sabem o porquê e
como frear. Ela possui uma energia absurda, alegria de viver, é bem humorada, vaidosa e muito amável na maior parte do tempo.
Hoje ela precisa de ajuda para tudo e supervisão constante, já não desempenha sozinha as atividades rotineiras. A comunicação também está muito comprometida, a
doença afetou a linguagem e não conseguimos entender o que ela fala, as
frases são desconexas e às vezes ela fica muito nervosa por não se fazer
entender. Meus irmãos casaram-se há pouco tempo, ela participou de tudo mas não entendia o que estava acontecendo. A dor é imensa por vê-la assim, uma mãe que não
consegue mais entender o que acontece à sua volta, sequer entende que o
sonho de casar um filho concretizou. Saber que a tendência é a piora nos aflige, ela
está com 60 anos e tem uma vida pela frente, muitos dos seus antigos
sonhos ainda irão se realizar. Possivelmente quando seus netos nascerem ela não entenderá. Possivelmente ela se esqueça de como engolir e não poderá mais se alimentar normalmente. Possivelmente ela se esquecerá de nós. Possivelmente ela se esqueça de tudo e de todos. Mas nós jamais nos esqueceremos dela A mãe que
ela foi estará sempre presente em nós, ela é nosso modelo e grande
responsável pelas pessoas que nos tornamos hoje. Tenho tanto a agradecer e hoje já não consigo, pois ela não compreende mais as conversas. Meu amor por ela é enorme e tento demonstrar nos gestos, no cuidado, na atenção e no carinho, porque isso ela pode sentir. Minha esperança é que jamais me esqueça."
Ana Carolina Moreira Zarpellon – Curitiba/Paraná
Nenhum comentário:
Postar um comentário