E assim vou vivendo! Regina Helena de Paiva Ramos dá exemplo de vida aos 81 anos de idade!
Com o aumento da expectativa de vida as pessoas estão cada vez
mais ativas. Eu me lembro da minha avó, com seus cabelos brancos, trajes
pretos, severos, usados a partir de 40 anos e uma vida praticamente
enclausurada dentro de casa, destinada exclusivamente à família,
esquecendo completamente dela mesma. A vida mudou, o mundo é outro, as
mulheres trabalham, se aposentam mas continuam enriquecendo a vida, com
voluntariado, artesanato, informática e tendo um contato muito
produtivo com os netos, se for o caso. Regina Helena de Paiva Ramos é
uma dessas mulheres. Já falei dela aqui no blog, há algum tempo, mas aos
81 anos de idade, continua infatigável e um exemplo para muita gente,
lançando um novo livro.
Conheçam melhor a Regina através desse depoimento muito lúcido sobre os idosos.

E assim vou vivendo! Regina Helena de Paiva Ramos
A vida é boa para os
idosos? Depende. Se você for sedentário, não gostar de ler, de ir ao
cinema, de viajar, de conviver com os amigos, certamente será péssima. Se for
sedentário, vai ter dores, achaques, as juntas vão ficando cada vez
mais duras, o passo mais lento e aí é um saco! Com dor não dá para ir ao
cinema, ao teatro, fazer visitas, viajar, nem prestar atenção na
leitura.
Quer dizer que esta
velhinha aqui – de quase 82 anos – não tem dores, nunca? Claro que
tenho! Outro dia fiz um bate-e-volta a Juquehy – 300 quilômetros ao todo
– e a lombar reclamou. Mas o Gustavo, meu personal trainer, logo deu
jeito: alonguei, alonguei, alonguei e fiquei nova outra vez. Guiar,
durante mais de duas horas, me deixa acabada. Mas me conserto logo. O joelho, há quatro anos, doia muito. Coloquei prótese. Sou biônica. A visão ficou ruim
fazem 30 anos – tive um derrame sub-retiniano num olho e perdi quase
toda a visão – mas botei óculos, faço exames regulares e como vejo bem
de um olho e tenho visão periférica no outro dá pra guiar, ler, viajar,
saçaricar por aí.
Também tive um sarcoma no mesentério há 19 anos. Cinco anos depois fui considerada curada. Um susto!
Desgraças? Nada disso! Escapei de tudo e continuo aqui, bela e formosa,
quer dizer, nem tão bela nem tão formosa – as rugas chegaram! – mas vou
me virando. E leio, viajo, vou ao cinema, curto amigos, faço novas
amizades, hidroginástica, musculação, adoro restaurantes. E escrevo.
Escrevo, escrevo, escrevo. O segredo é não se entregar. Muita gente pode
argumentar que para ir aos cinemas e teatros, comprar livros, ter aulas
de hidro e musculação e viajar é preciso grana. Concordo. No meu caso, pra ter
todas essas atividades não posso deixar de trabalhar. Apesar da
aposentadoria, pois o que a porcaria nojenta do INSS me paga dá para os
meus remédios e para pagar o condomínio.
A raiva que tenho do
governo e do INSS é tanta que me dá ânimo pra viver mais e sacaneá-los
sempre que posso. A sacanagem se resume a meter o pau neles, isso
funciona pra mim como válvula de escape.
Pra eles tanto faz
como tanto fez, estão se lixando para os idosos. E muito menos para o
que falo deles. Para os políticos deveríamos morrer logo. Aliás, um
ministro do Japão teve a coragem de manifestar sua opinião a respeito
disso. Os daqui são tão covardes que não prestam nem para isso, pra
dizer o que pensam… Mas querem que a gente morra, sim! E eu morro? Aqui,
ó!
E aí tenho o prazer
de dizer que isso tudo é uma vergonha, um despautério, uma safadeza a
toda prova, isso que se paga aos aposentados neste país. Faço questão de
dizer isso em artigos, entrevistas, bate-papos, e-mails e no Facebook.
São salafrários e ordinários, políticos safados que não corrigem a
situação dos aposentados. Não querem ver que o idoso gasta em remédios,
tem que comer, pagar médico (ou vai no SUS e espera meses por uma
consulta ou cirurgia), distrair-se, pagar aluguel, condomínio, IPTU,
IPVA, IR, ISS, taxa de lixo, pedágio, juros, bancos, o diabo a quatro.
Não lhes passa pela
cabeça corrigir isso. Só corrigem os próprios salários. Só prestam para
engordar a corrente dos que praticam corrupção.
E então continuo
trabalhando pra viver! Graças a Deus tenho saúde pra tanto, do contrário
estava frita. Tenho saúde, energia, sei xingar, protesto, leio jornais e
mando cartas de desabafo, vou a passeatas contra corrupção, se tiver
comício podem me convocar, protesto contra tudo o que acho errado e
assim vou vivendo. Com meus 82 anos (daqui a um mês!) meus livros, meus
cds, meus amigos, minhas sobrinhas queridas, meu sobrinho bisneto, meus
escritos e recentemente com meu Facebook. Onde despejo o que estou
sentindo!

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