domingo, 12 de maio de 2013

E ASSIM VOU VIVENDO!



E assim vou vivendo! Regina Helena de Paiva Ramos dá exemplo de vida aos 81 anos de idade!


Com o aumento da expectativa  de vida as pessoas estão cada vez mais ativas. Eu me lembro da minha avó, com seus cabelos brancos, trajes pretos, severos, usados a partir de 40 anos e uma vida praticamente enclausurada dentro de casa, destinada exclusivamente à família, esquecendo completamente dela mesma. A vida mudou, o mundo é outro, as mulheres trabalham, se aposentam mas continuam enriquecendo a vida, com  voluntariado, artesanato, informática e tendo um contato muito produtivo com os netos, se for o caso.  Regina Helena de Paiva Ramos é uma dessas mulheres. Já falei dela aqui no blog, há algum tempo, mas aos 81 anos de idade, continua infatigável e um exemplo para muita gente, lançando um novo livro.
Conheçam melhor a Regina através desse depoimento muito lúcido sobre os idosos.
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E assim vou vivendo! Regina Helena de Paiva Ramos 
A vida é boa para os idosos? Depende. Se você for sedentário, não gostar de ler, de ir ao cinema, de viajar, de conviver com os amigos, certamente será péssima. Se for sedentário, vai ter dores, achaques, as juntas vão ficando cada vez mais duras, o passo mais lento e aí é um saco! Com dor não dá para ir ao cinema, ao teatro, fazer visitas, viajar, nem prestar atenção na leitura.
Quer dizer que esta velhinha aqui – de quase 82 anos – não tem dores, nunca? Claro que tenho! Outro dia fiz um bate-e-volta a Juquehy – 300 quilômetros ao todo – e a lombar reclamou. Mas o Gustavo, meu personal trainer, logo deu jeito: alonguei, alonguei, alonguei e fiquei nova outra vez. Guiar, durante mais de duas horas, me deixa acabada. Mas me conserto logo. O joelho, há quatro anos, doia muito. Coloquei prótese. Sou biônica. A visão ficou ruim fazem 30 anos – tive um derrame sub-retiniano num olho e perdi quase toda a visão – mas botei óculos, faço exames regulares e como vejo bem de um olho e tenho visão periférica no outro dá pra guiar, ler, viajar, saçaricar por aí.
Também tive um sarcoma no mesentério há 19 anos. Cinco anos depois fui considerada curada. Um susto!
Desgraças? Nada disso! Escapei de tudo e continuo aqui, bela e formosa, quer dizer, nem tão bela nem tão formosa – as rugas chegaram! – mas vou me virando. E leio, viajo, vou ao cinema, curto amigos, faço novas amizades, hidroginástica, musculação, adoro restaurantes. E escrevo. Escrevo, escrevo, escrevo. O segredo é não se entregar. Muita gente pode argumentar que para ir aos cinemas e teatros, comprar livros, ter aulas de hidro e musculação e viajar é preciso grana. Concordo. No meu caso, pra ter todas essas atividades não posso deixar de trabalhar. Apesar da aposentadoria, pois o que a porcaria nojenta do INSS me paga dá para os meus remédios e para pagar o condomínio.
A raiva que tenho do governo e do INSS é tanta que me dá ânimo pra viver mais e sacaneá-los sempre que posso. A sacanagem se resume a meter o pau neles, isso funciona pra mim como válvula de escape.
Pra eles tanto faz como tanto fez, estão se lixando para os idosos. E muito menos para o que falo deles. Para os políticos deveríamos morrer logo. Aliás, um ministro do Japão teve a coragem de manifestar sua opinião a respeito disso. Os daqui são tão covardes que não prestam nem para isso, pra dizer o que pensam… Mas querem que a gente morra, sim! E eu morro? Aqui, ó!
E aí tenho o prazer de dizer que isso tudo é uma vergonha, um despautério, uma safadeza a toda prova, isso que se paga aos aposentados neste país. Faço questão de dizer isso em artigos, entrevistas, bate-papos, e-mails e no Facebook. São salafrários e ordinários, políticos safados que não corrigem a situação dos aposentados. Não querem ver que o idoso gasta em remédios, tem que comer, pagar médico (ou vai no SUS e espera meses por uma consulta ou cirurgia), distrair-se, pagar aluguel, condomínio, IPTU, IPVA, IR, ISS, taxa de lixo, pedágio, juros, bancos, o diabo a quatro.
Não lhes passa pela cabeça corrigir isso. Só corrigem os próprios salários. Só prestam para engordar a corrente dos que praticam corrupção.
 E então continuo trabalhando pra viver! Graças a Deus tenho saúde pra tanto, do contrário estava frita. Tenho saúde, energia, sei xingar, protesto, leio jornais e mando cartas de desabafo, vou a passeatas contra corrupção, se tiver comício podem me convocar, protesto contra tudo o que acho errado e assim vou vivendo. Com meus 82 anos (daqui a um mês!) meus livros, meus cds, meus amigos, minhas sobrinhas queridas, meu sobrinho bisneto, meus escritos e recentemente com meu Facebook. Onde despejo o que estou sentindo!
capa do pernilUma vez uma pessoa idosa se queixou pra mim: “O chato de viver muito tempo, de ser velho, é que não acontece mais nada na minha vida!” Problema dele! Na minha acontecem coisas todos os dias! Estou lançando  um novo livro – a peça de teatro “E agora, o que eu faço com o pernil?”, encenada pela Rosamaria Murtinho de 2004 a 2006 e que a Giostri Editora transformou em livro. E logo, logo estarei inventando outra coisa. 

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