sábado, 11 de maio de 2013

E O AMOR SE REVESTE DE MUITAS FACETAS



Assim como eu que cuido de minha mãe, portadora da Doença de Alzheimer tenho a certeza que existem milhões de filhas e filhos cuidadores que são amorosos, centrados, dedicados, enfermeiros (quando necessário), enfim, seres humanos preocupados com o bem estar e dignidade de seus entes queridos.

E, nesse cuidar no dia a dia, somos sempre cobrados  ou lembrados para termos paciência, para sermos carinhosos, humildes, tolerantes etc. com o  nosso familiar doente, como se não soubéssemos disso. Cobranças essas que muitas vezes provocam no cuidador sentimentos de frustração, porque ele está sendo o mais atingido nos aspectos emocional, financeiro e social e não tem reconhecimento. Há cuidadores que chegam a se culpar por não conseguirem demonstrar o que sentem em relação ao seu doente; outros chegam a acreditar que não sabem amar ou que não conseguem amar por terem sofrido maus tratos, quando crianças, nas mãos daquele familiar que hoje depende dele. Uma avalanche de culpas aflora.

Como o amor se reveste de muitas facetas ou subtítulos, acaba deixando dúvidas em quem está cuidando.  O amor que muitos dizem não conhecer, já o praticam nas mais variadas formas, porque amar, não é apenas dizer “Eu te amo” de forma automatizada, sem sentimento e de maneira irrefletida. É transparecer na expressão de uma emoção ou de um ato como um olhar, um abraço, um beijo, um aperto de mão, que representa muito mais que mil palavras.  Logo, o amor é ação, é atitude, é a alegria de viver, não só para o cuidador, mas para o doente também.  E, ao estarmos cuidando, amparando, sendo os ”interpretadores” das suas necessidades, estamos praticando, sem esforço, o amor verdadeiro e, melhor, sem nos darmos conta que estamos nos deixando amar pelo nosso próximo e por Deus.

Existem também aquelas facetas do amor que são confundidas ou não são  notadas por quem as recebe e, até mesmo, por quem as pratica.  A gentileza é uma delas, porque é uma forma de amor que nos faz sentir o prazer em ajudar alguém, em acolher e ser gentil, através de simples palavras e gestos como: obrigado, bom dia, boa tarde, um sorriso, um atendimento cordial, um elogio, um pedido de desculpa. E, ao praticá-la, tornamo-nos generosos porque  valorizamos o respeito, o amor altruísta, levando à pessoa  o reconhecimento e a atenção que ela merece.

Paciência, a faceta mais exigida e mais presente na vida de quem cuida, acaba se tornando virtude em algumas pessoas. Só que não é simples assim, é necessário que aceitemos o outro, o seu sofrimento, a sua dor e passemos a entender o que se passa em seu interior, permitindo que ele se expresse, mude, tenha uma chance para demonstrar que está feliz conosco.  Nesse exercício da paciência, só conseguimos êxito se tivermos a humildade de sairmos de nosso casulo e sentirmos ou vivenciarmos o que o outro está sentindo. Temos que aprender a aceitar as imperfeições dos outros, pois também somos pessoas dotadas de imperfeições; temos que alavancar o espírito positivo do nosso semelhante e nunca julgar ou condenar pelos seus atos.

O perdão, outra faceta do amor que muitos dizem ser única e exclusivamente de Deus, pois é uma das mais difíceis, se não a mais difícil, porque exige do ser humano  a chance de melhorar, de encontrar a paz interior e a sua saúde espiritual.  Dizem que o perdão nos livra de doenças, de sentimentos destrutivos que não nos fazem bem. Muitas vezes, ele parece mesmo ser intransponível, principalmente, a quem já sofreu maus tratos. O cuidador precisa entender que, no estágio em que se encontra o doente, este já não se lembra do que fez, apenas sente se é amado. A escolha deve ser nossa, porque quem perdoa faz bem a si próprio, reata o amor e encontra a alegria de viver.

A generosidade, uma faceta tão bonita e que está ligada ao desapego de si e de coisas materiais, o amor espontâneo doado aos outros,  o ato de servir aos outros, de dedicar um tempo a quem precisa. Ser generoso é partilhar, ser solidário ao próximo, mesmo tendo que renunciar a algo, fazer sacrifícios pelo próximo. É ser cuidador de um doente com Alzheimer.

O amor em forma de cortesia, humildade, honestidade também são presentes no cuidador. A primeira, quando  tratamos  o outro como pessoa digna, única e valiosa,  em qualquer lugar ou situação, estando ele na fila, no ônibus, na vizinhança  ou com um agradecimento...  A segunda,,  uma das mais nobres facetas do amor, refere-se à  autenticidade, porque está na igualdade  de dignidade,  de reconhecimento de valores e da aceitação dos próprios erros. E a terceira é falar dos próprios sentimentos, com verdade, com amor, com emoção e com aceitação das próprias limitações. É a transparência de atitudes, o compromisso com a verdade.

 E assim se mostra o amor, nos recantos onde menos esperamos, nas ações que nos passam despercebidas porque nos habituamos a presenciar sem sentir. (Maria Sirlei Benini).

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