É um poço sem fundo, um estado de
melancolia, cansaço físico e estresse. Lembra bem o trecho da Música “...é pau
é pedra é o fim do caminho”. Uma imersão a conceitos e valores antes
desconhecidos, é o novo, o arriscado á flor da pele, é o êxtase, as ondas de um
mar raivoso, o desamparo, a melancolia, a estagnação da dor no diagnóstico.
Revestido em sua função, o
cuidador solitário pode estar no meio de uma multidão, com familiares queridos
e auxiliares, todavia, ele sempre será sozinho, sempre estará numa
ilha deserta. Seus sentimentos se mesclam entre
o cansaço e a agonia de ver seu ente querido morrendo fisicamente lentamente em
suas várias fases e em muitos momentos ele não saberá literalmente o que fazer
seus pensamentos antes seguros e com resquício de discernimento, estão
enveredando para a dor, a raiva de si próprios, de amigos e até mesmo de
familiares. Só quem passa por esta provação do final do túnel sabe, por
mais que queria restituir a saúde, de todas as maneiras do ser amado, é um
caminho sem volta.
A tristeza, solidão, desespero podem
formatar seu cotidiano. A melancolia, a falta de refúgio para possível
distração mora ao lado e não ocupa ou divide o mesmo ambiente do cuidador,
estes desejos de liberdade não pertencem mais a ele que navega por mares cujas
profundezas contidas neste afogamento de uma realidade que bate violentamente
em seu rosto.
A quem recorrer? A quem gritar por socorro? Seu amado
familiar está perdendo a força física, os movimentos, o sorriso que se apagou
no passado e desmascara a nudez do olhar perdido.
Onde está à criatura que sorria,
piscava, embalava-nos no colo com segurança? Trocava diálogos repartia o pedaço
de pão igualmente entre os filhos, que constituía o seu lar de cheiros e
flores. Onde está ele agora? Afundando-se na doença, na dor de uma saúde perdida,
desaparecida e olvidada;
Conviver com a fraqueza orgânica
do familiar paciente, da mãe ou pai agora ausente totalmente física e
mentalmente é um retrato na escuridão, você vê, sente, mas não suporta a dor. Por
mais conhecimento teórico sobre a doença, mais expectativas de suportar as
fases que ainda tem, o cuidador se esbarra na vivência pesada, dura e desnuda
do seu sofrimento interior.
Não é rebeldia, os gritos íntimos
não são manhãs de amador, são dores maiores que consegue suportar. Não é
carregar alguém no colo com 100 Quilos, é carregar os 100 quilos em seu
coração. É um grito sem testemunha, é a
quebra da espinha dorsal de seus sentimentos mais elevados, o familiar cuidador
sofre a perda, a sepultura não está fechada, ao contrário está retida em seu
intimo. É doloroso ver o familiar
paciente amado passando por metamorfose física e espiritualmente se desligando
do seu aparelhamento desgastado pela doença e pela idade.
A quem berrar o socorro da alma, entalado na garganta, no
eixo de uma esfera de temores e inseguranças. Não é um objeto que você está
perdendo, é o tesouro que você conviveu a sua vida inteira, que iniciou a
convivência no berço, entre a saúde no relacionamento que te envolveu em
grandes lutas para seu sustentáculo, para sua formação envolvendo e tecendo sua
liberdade de viver e amar, é o próprio ser que te confiou à vida que está
escapando de suas mãos, carregando seus sonhos, lutas de anos de convivência
entre a saúde do passado e a doença de Alzheimer completando anos de cuidados,
começando pelo diagnóstico mais filial do que clinico, e a rotina de : cremes,
banhos, fraldas, alimentação envolvendo os cuidados intensos e diários, e sem
anunciar oficialmente chega o Alzheimer da última fase.
Ele dói, intimamente dói. Mas não
o deixe te matar. Tudo é para nosso crescimento íntimo, essencial para o
fortalecimento de nossa escala de valores espirituais. (Rosana Nied)
http://alzheimernafamilia.blogspot.com.br/
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