
Acompanhando o crescimento
demográfico e a expectativa média de vida (Ramos, 2002) há um aumento de doenças
que acometem a população idosa, entre elas as degenerativas, como a Doença de Alzheimer.
O cuidado dos portadores desta enfermidade, geralmente, recai sobre a família,
provocando alterações nos relacionamentos interpessoais.
Os cuidadores de pacientes com DA
(Doença de Alzheimer) enfrentam um processo dinâmico e invasivo, altamente
individual, necessitando continuamente elaborar as perdas que a dedicação ao
doente impõe em sua vida pessoal (Tavares et al., 2005. p. 551). Assim, o grupo
familiar, para o velho, desempenha inúmeros papéis, atravessando várias fases,
sendo que algumas se caracterizam por conflitos que surgem nas relações com o
seu idoso. Às vezes, pode ocorrer frustração na expectativa do apoio dado pelos
familiares.
Entre as demências, a Doença de
Alzheimer é a mais prevalente e uma das mais aterradoras (Lage, Martinez e
Khachaturian, 2001). Surgem problemas de memória. Sem memória, o presente é sem
sentido. O passado construído ora com dificuldades, ora com alegrias, se torna
estranho e desconhecido, mesmo quando gravado em fotografias. Então, o doente
de Alzheimer se torna prisioneiro dos medos de um mundo antes desbravado e construído.
Mesmo com os avanços tecnológicos da medicina, que auxiliam no aumento da
expectativa de vida, e das descobertas genéticas, ainda não se tem tratamento
eficaz para a enfermidade. Lentamente, a doença, cuja principal característica
é ser progressivamente degenerativa, avança (Lage, Martinez e Khachaturian,
2001). Frente a este quadro, os familiares do paciente com Alzheimer começam a
conviver com uma nova situação que implica em sobrecarga, ansiedade e
tristeza.
A sociedade atual ainda não está preparada para oferecer recursos
suficientes para atender o portador de Doença de Alzheimer, nem seus cuidadores.
Emerge, assim, a necessidade de profissionais especializados se dedicarem a
compreender a doença e suas vicissitudes. Inicia-se a busca de estratégias de
modificação ambiental, de aconselhamento e apoio aos cuidadores, especialização
de profissionais e serviços, de implantação de políticas de saúde e planejamento
social que proporcionem bem-estar e qualidade de vida ao idoso doente, sua
família e suas relações interpessoais.
Segundo Ribes (1988), o
enfrentamento da mudança de comportamento e evolução da doença de Alzheimer faz
com que as relações interpessoais familiares passem por várias fases: a) se
caracteriza pela falta de memória do idoso e é vivenciada por ele com ansiedade
e sofrimento. A família, de um modo geral, reage com irritabilidade e
incompreensão, b) o segundo momento se caracteriza por um processo depressivo,
e o meio familiar responde superprotegendo o idoso, tirando-lhe a possibilidade
de controlar o seu meio, c) a terceira fase se caracteriza por despersonalização,
pois o idoso desconhece a si mesmo e aos outros. Neste momento o idoso passa a
ser um estranho para a família. Enquanto o idoso perde seu lugar como membro da
família, esta, por sua vez, começa a cristalizar o seu sofrimento
(Krassoievitch, 1988). Deste ponto em diante, cada membro da família se sente ameaçado
no seu espaço e privacidade. Sente o idoso como uma sobrecarga que absorve toda
sua energia. Dependendo da gravidade com que se apresenta a doença e o tempo de
evolução, a família reage com sentimentos depressivos. Neste momento há uma
descaracterização das diferenças intergeracionais (Ramos, 2002).
De um modo geral, as tensões
prévias existentes dentro da família são exacerbadas pela enfermidade e afetam
todo o grupo (Machado, 2002). Com a pressão causada pela doença, nas relações
familiares, os conflitos são reeditados e desencadeiam o momento da crise
familiar, com a desestruturação da família. Ameaçado, o grupo familiar busca
alternativas para se reestruturar e manter as relações estabilizadas como no
período anterior do surgimento da doença no idoso. Com a consolidação do novo
rearranjo dos papéis na família, com os conflitos melhor elaborados, a família tem
condições de buscar novos recursos, inclusive a tomada de decisão sobre a
institucionalização faz-se com atenuação dos conflitos interpessoais.
O papel de cada membro da família
tem contra partida no papel ou papéis de um ou mais dos membros restantes (por
exemplo: esposo-esposa, pais-filhos, etc.). Quando a complementação entre um papel
e sua contraparte é adequada ou quando existe sintonia entre o papel designado
e os sentimentos subjetivos, em geral as relações interpessoais tornam-se mais
amorosas. Contudo, podem surgir sentimentos de culpa, quando os membros da
família acreditam que não lidaram adequadamente com a situação (Stuart- Hamilton,
2002), como pode, também, haver uma crise por parte dos filhos quando percebem
que seus pais estão envelhecendo e que começam a ficar dependentes deles
(Eizirik et al., 1993; Krassoievitch,1988), sentindo a dificuldade em assumir o
papel de cuidador/a.
Nenhum comentário:
Postar um comentário